Atrações do Touro, a mais antiga das constelações
Características da Constelação do Touro, que contém dois belos aglomerados estelares visíveis a olho nu; ainda, eventos astronômicos do mês.
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão
A constelação de Touro, que agora se aproxima do zênite, se destaca de todas as outras por vários motivos. Primeiro, porque contém dois belos aglomerados estelares visíveis a olha nu, as Híades e as Plêiades. As Híades são um agrupamento de 140 estrelas localizadas na região do Touro mais próxima do horizonte. É possível identificá-las pela disposição triangular de três de seus astros mais brilhantes. O mais importante é a estrela Aldebarã, classificada na categoria das gigantes vermelhas. Situada a 64 anos-luz (cerca de 640 trilhões de quilômetros), ela é 36 vezes maior que o Sol e é vermelha porque tem a superfície relativamente fria, com uma temperatura de 3 000 graus Celsius, contra os 5 000 graus do Sol.
No triângulo das Híades, Aldebarã forma o vértice da direita (para quem se volta para o norte). O vértice da esquerda é formado pela estrela Épsilon do Touro e o vértice sul (mais próximo do horizonte), pela Gama do Touro. Uma vez localizadas as Híades, é fácil procurar, um pouco ao norte, à direita, as sete estrelas que compõem as Plêiades, batizadas de Alcione, Maia, Mérope, Electra, Taigeta, Astérope e Celoeno. Esses nomes foram tirados da mitologia grega e representam as sete filhas do semideus Altas (nesta lista, as primeiras são as mais brilhantes). Projetadas na abóbada celeste, as Plêiades situam-se bem ao lado da Híades, mas estão muito mais distantes: cerca de 350 anos-luz, ou 3 500 trilhões de quilômetros. Na verdade, fazem parte de uma grande massa de gases, poeira e centenas de estrelas, cientificamente designada Messier 45 e descoberta em 1874. Desde então, esse objeto tornou-se um dos mais bonitos e talvez o mais conhecido do céu. Tanto que Touro é a mais antiga constelação assinalada pelos antigos e deu origem ao estudo do zodíaco em todo mundo.
A primeira descrição desse conjunto de estrelas foi feita pelos babilônios, há 4 000 anos, época em que o aparecimento das Plêiades no horizonte pela manhã, coincidia com a chegada da primavera. Em vista disso, os babilônios aprenderam a usar esse fato para assinalar o início do ano. Os índios brasileiros conhecem as estrelas pelo nome de Enxame de Abelhas. As Híades, por outro lado, eram associadas a estação das chuvas – daí a origem do seu nome, que significa chover.
Embora facilmente visíveis, os dois aglomerados ficam bem mais bonitos quando observados por meio de um binóculo, que não precisa ser muito potente. Outro objeto espetacular existente na constelação do Touro é a nebulosa do caranguejo. Trata-se de um verdadeiro recém-nascido, em termos astronômicos: com a forma de uma grande mancha avermelhada, a nebulosa é formada pelos restos mortais de uma antiga estrela, cuja explosão foi registrada pelos chineses no ano de 1054. Infelizmente, não é fácil vê-la, pois está muito distante a mais de 900 anos-luz da Terra (ou 9 quatrilhões de quilômetros). É importante lembrar que as constelações são simples figuras no céu. As estrelas que englobam nem sempre estão realmente perto umas das outras: só parecem próximas porque, a olho nu, não se pode ter idéia da distância que as separa da Terra. Já os aglomerados são objetos reais, isto é, existe proximidade de fato entre suas estrelas, que estão ligadas entre si por atração gravitacional.
Eventos do mês
Meteoros
No dia 14, ocorrerá a máxima atividade dos Geminídeos. São meteoros cujo radiante (ou foco de dispersão) se situa na constelação de Gêmeos. A partir da 1h20, próximo ao zênite, eles cairão à taxa de 90 por hora e podem oferecer um belo espetáculo. Menos numerosos, com uma taxa horária de 4 meteoros, também atingem o máximo, neste mês, os Eridanídeos, no dia 15. No dia 20, será a vez dos Pupídeos e dos Velídeos e, no dia 28, dos Carinídeos.
Fases da lua
Ocorre agora um fato relativamente raro: haverá duas luas cheias no mesmo mês. A primeira será no dia 2, às 4h50, e a outra, no dia 31, às 15h35. Entre hoje e o ano 2000, esse fenômeno só se repetirá mais quatro vezes: em setembro de 1993, em julho de 1996, em janeiro e em março de 1999. Isso acontece porque os meses, de um modo geral são ligeiramente mais compridos do que o intervalo entre duas fases da Lua, que se sucedem a cada 29 dias, 12 horas e 44 minutos. Nesse caso, sempre que a Lua cheia cai no início do mês, há tempo para que essa fase volte a ocorrer no dia 30 ou 31. É o que está acontecendo agora. As datas das outras fases são as seguintes: minguante, dia 8, 23h04; nova, dia 17, 1h22; crescente, dia 25, 0h16.
Planetas
Mercúrio: no início do mês, especialmente no dia 6, logo ao anoitecer, estará mais afastado do Sol. Portanto, aparece mais nitidamente. Sua magnitude, ou brilho, é -0,6: um valor alto, já que Sirius, a estrela mais brilhante do céu, alcança a magnitude de -1,45 (quanto menor, ou mais negativo é esse número, mais brilhante é o astro).Vênus: voltará a ser visto durante a tarde, em meados do mês. No dia 18, estará em conjunção com Mercúrio, isto é, os dois planetas ocuparão a mesma posição. Apresenta a magnitude -3,7.
Marte: visível a noite inteira, ao longo do mês, junto ao Touro, com magnitude -1,3. A melhor época para se ver detalhes de sua superfície é o início do mês. No dia 1.º, situa-se ao sul da Lua.Júpiter: aparece em Câncer, nos primeiros dias do mês, após as 22 h; no final do mês, nasce às 18 h. Apresenta magnitude -2,1. No dia 6, situa-se ao norte da Lua.
Saturno: pode ser visto em Sagitário, no início do mês, desde o pôr-do-sol até as 21 h; no final, se põe às 19h50. No dia 19, estará ao norte da Lua. Mesmo sendo um gigante do porte de Júpiter, está muito distante e por isso é muito menos brilhante, com magnitude positiva +0,8.Urano: visível com luneta, junto a Sagitário. No início do mês, desde o pôr-do-sol até as 20 h; no final, se põe às 18h40. Apresenta magnitude +6,1.
Netuno: visível com luneta em Sagitário. No início do mês, do anoitecer até 20h21; no final, até 19h05. Magnitude +7,8.
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é astrônomo e membro da União Astronômica Internacional.