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China está usando vigilância em massa para combater coronavírus

De reconhecimento facial à rastreamento de infectados, medidas ajudam o governo a lidar com a crise – mas também levantam questões éticas.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 25 mar 2020, 12h12 - Publicado em 19 fev 2020, 16h26

Em meio ao surto de covid-19, o governo da China, epicentro da crise, vem colocando em prática diversas medidas para tentar conter o espalhamento da doença. Logo em janeiro, por exemplo, o país colocou cidades inteiras em quarentena, restringindo o deslocamento de dezenas de milhões de pessoas. Agora, a China começou a utilizar a tecnologia como arma contra o coronavírus – mas isso levanta algumas preocupações éticas.

O país é conhecido por empregar uma ampla rede de tecnologias de monitoramento, que inclui a coleta dados sobre viagens de seus cidadãos, a vigilância de redes sociais e da internet e o uso de softwares de reconhecimento facial em locais públicos: estimativas apontam que a China poderá ter mais de 600 milhões de câmeras com esse mecanismo até o fim de 2020. O governo afirma que todo esse aparato faz parte de uma estratégia de segurança para identificar criminosos, mas críticos do sistema acusam-no de violar a privacidade e de ser usado para perseguir opositores políticos e minorias.

De qualquer forma, as tecnologias acabaram virando ferramentas na luta contra a epidemia de covid-19, que se espalha rapidamente e já contaminou mais de 74 mil pessoas só no país, causando cerca de 2 mil mortes. Recentemente, o governo instalou detectores de temperatura corporal em lugares como praças públicas e metrôs para identificar pessoas com febre, um dos sintomas da doença.

O governo chinês também está trabalhando em conjunto com empresas de tecnologia estatais e privadas para desenvolver outros softwares que ajudem no controle do surto. Um exemplo é o app Close Contact Detector (Detector de Contato Próximo), que foi criado pela estatal China Electronics Technology Group Corporation (CETC) e está disponível gratuitamente para a população. Nele, a pessoa pode colocar seus dados (como nome e número de identidade) e o aplicativo verificará todas suas viagens recentes a procura de contatos próximos com pessoas diagnosticadas com covid-19.

Isso é possível porque, para se comprar passagens na China, é necessário fornecer o número de identidade, e o histórico de deslocamento de todos os cidadãos é armazenado pelo governo. Acessando essa base de dados, o aplicativo consegue verificar se alguém doente sentou a menos de três fileiras de você em um avião, por exemplo, ou se um passageiro compartilhou o mesmo vagão em um trem com um infectado. De acordo com a CETC, o aplicativo já foi utilizado mais de 100 milhões de vezes apenas nos dois primeiros dias de funcionamento, e detectou mais de 70 mil possíveis casos de exposição ao vírus. 

A plataforma de mensagens WeChat – uma espécie de WhatsApp chinês – também passou a oferecer um recurso que permite que o usuário verifique a que distância está do caso mais próximo de covid-19.

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Outro aplicativo, que está em fase de testes, vai além: desenvolvido pela empresa de pagamentos online Alipay, o software irá rotular cada pessoa com uma etiqueta colorida através de um QR code em seu celular. A classificação é baseada no histórico de deslocamento das pessoas e de suas condições de saúde autodeclaradas. Pessoas com etiqueta verde são consideradas seguras; as com etiqueta amarela, em risco, devendo ficar em quarentena por uma semana; e pessoas com classificação vermelha estão em alto risco, com a recomendação de se isolar por duas semanas. Autoridades podem acessar o QR code de todos os cidadãos para verificar seus status.

Embora ajudem no controle da doença, as medidas ensejam também um debate ético: a privacidade individual pode ser violada a fim de evitar um problema coletivo maior?

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Alguns casos ilustram bem a polêmica. A cidade de Hangzhou, por exemplo, já prendeu nove pessoas por terem mentido sobre seu histórico de viagens durante o surto da doença, e outras cidades estudam adotar as mesmas medidas. E, como reportou o jornal Japan Times, um homem foi obrigado pela polícia local a ficar em sua casa por duas semanas após seu carro ter sido rastreado em um local onde vários casos da doença foram confirmados. Após 12 dias de reclusão, ele decidiu sair para dar um passeio. Uma câmera reconheceu seu rosto e um alerta de risco foi enviado para a polícia local e para a empresa em que o homem trabalhava, avisando que as ordens de isolamento haviam sido descumpridas. 

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