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Como óculos com câmera e IA embutidas podem revolucionar a vida de PCDs

Dispositivos como os óculos Ray-Ban Meta oferecem uma variedade de funcionalidades, como localizar objetos, medir distâncias, e descrever o que está sendo visto.

Por Bela Lobato
Atualizado em 9 set 2024, 13h28 - Publicado em 8 set 2024, 14h00

Em 2023, a Meta anunciou uma parceria com a Ray-Ban para lançar óculos inteligentes, que têm câmera, microfones e alto-falantes embutidos.

Com a aparência idêntica a de um óculos normal, a incorporação da tecnologia de inteligência artificial (IA) permite que os óculos sejam uma ferramenta de acessibilidade completamente nova para pessoas cegas e com outras deficiências (ainda que o acessório não tenha sido pensado com esse fim).

O serviço ainda está em testes e só funciona nos EUA e no Canadá, em inglês, francês e italiano. É só dizer “Hey, Meta” para ativar o mecanismo que permite gravação de vídeos, fotos, áudios, fazer perguntas e enviar mensagens.

Muitas pessoas com deficiência visual dependem de amigos ou familiares para se localizarem – às vezes, elas ligam por vídeo ou mandam fotos para que outras pessoas expliquem como devem proceder. Os óculos permitem que isso seja feito automaticamente, com a funcionalidade de fazer chamadas de vídeo com a câmera dos óculos ou com um comando de voz do tipo “tire uma foto e mande para a minha mãe”. 

Mas as funcionalidades mais revolucionárias estão ligadas ao uso da IA para interpretar as imagens obtidas pela câmera do óculos. Em um vídeo do TikTok, uma influenciadora conhecida como Sadi, The Blind Lady (“Sadi, a moça cega”, em tradução literal) conta sobre como tem sido a experiência de usar os óculos nos últimos seis meses.

“Eles são incríveis para quem é cego ou tem baixa visão, pois você pode usar os óculos para perguntar à IA da Meta sobre quase tudo o que ela vê.”, Sadi conta. “E você pode ser bastante específico com as perguntas.” 

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No vídeo, ela se posiciona de frente a uma estante do supermercado e pergunta à Meta em qual seção ela está – a resposta: seção de petiscos para cães. Depois, ela segura um produto e pede que os óculos expliquem o que é, e a IA lê o rótulo e descreve o petisco, com detalhes da marca e da composição.

O site promocional dos óculos Ray-Ban Meta cita outros exemplos, como tradução de textos em placas, ou se posicionar de frente para um monumento ou obra de arte e pedir “olhe para isso e me conte a história dessa coisa”. 

O podcaster Steven Scott é cego e tem um canal sobre acessibilidade e tecnologia. Ele aponta outra qualidade: na hora de fazer vídeos, os óculos gravam o áudio em cinco canais, com diferentes microfones. “Minha família inteira pode apreciar o conteúdo visualmente, mas eu recebo um cartão postal auditivo que me leva de volta à cena. É como dar vida a uma foto antiga em meus ouvidos”.

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Entretanto, o dispositivo da Ray-Ban Meta não é pensado especificamente para o uso de pessoas com deficiências, e nem permite a incorporação de outros programas voltados para esse público. Para pessoas cegas, um dos problemas dos óculos, por exemplo, é que ele não lê textos inteiros, só os resume. Afinal, a tecnologia é pensada para quem enxerga e só quer facilitar o cotidiano.

Ele é útil, mas muitos usuários relatam que muitas funcionalidades precisam ser melhoradas para que o uso seja seguro e confiável como o principal dispositivo assistivo. 

Existem outras marcas de óculos que são mais específicas para as demandas de pessoas cegas, mas o custo ainda é consideravelmente maior. Os óculos da Envision, por exemplo, prometem uma variedade bem maior de ações, e com o uso da IA pensado para quem não enxerga nada. 

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Alguns exemplos dão uma noção de como a tecnologia pode ser revolucionária para a independência dessas pessoas: os óculos Envision podem tirar medidas aproximadas sobre tamanhos e quantidades (“quanta água ainda tem no galão?”); localizar objetos no campo de visão (“onde está a minha chave de casa?”); identificar pessoas conhecidas e objetos comuns ao seu redor; encontrar um lugar vago para sentar em uma sala ou transporte público; ler em voz alta anotações feitas à mão; estimar a distância entre a pessoa e objetos; detectar e contar quanto dinheiro você tem nas mãos e te ajudar a escolher notas e moedas.

Entretanto, enquanto os preços de um Ray-Ban Meta começam em U$ 299 (cerca de R$ 1,6 mil), um Envision varia entre U$ 1,9 mil (cerca de R$ 10,6 mil) e U$ 3,5 mil (quase R$ 20 mil). 

Em comunidades online, como na rede social Reddit, usuários comentam com animação os diferentes dispositivos, e muitos afirmam que compraram a versão mais barata e limitada para se divertirem enquanto esperam que a tecnologia avance mais. A expectativa é que os preços caiam e a qualidade suba, e que, em um futuro próximo, os óculos inteligentes possam ser utilizados como os principais dispositivos assistivos.

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“No geral, achamos que valeu a pena o preço. É claro que não é especificamente voltado para deficientes visuais, mas é um bom passo à frente e minha esposa está muito feliz com a ajuda que ele oferece.”, diz a usuária u/JadieLadieEightie, sobre um Ray-Ban Meta. “Esperamos que a Meta veja o potencial de ajudar os deficientes visuais com isso e adicione alguns recursos especificamente para isso.” O depoimento foi dado em um fórum específico de pessoas cegas e com deficiência visual no Reddit.

Os benefícios de acessibilidade podem ser úteis inclusive a pessoas com outros tipos de deficiências, além da visual. O jornalista Colin Hughes, por exemplo, vive há décadas com uma distrofia muscular que atrapalha sua coordenação motora.

Ele fez uma longa e detalhada resenha do seu uso dos óculos da Ray-Ban Meta. “Isso é um grande avanço e parece quase mágico para alguém como eu, que nunca conseguiu tirar minhas próprias fotos e vídeos na era digital por causa da minha deficiência.”

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