Assine SUPER por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Democracia digital

A Internet permite fiscalizar os políticos de perto e cobrar resultados de uma forma nunca vista antes. Ou pelo menos deveria ter esse papel

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h46 - Publicado em 25 fev 2011, 22h00

Texto Marcelo Soares

Há um século, o autor anarquista Mikhail Bakunin fez um diagnóstico ácido do principal problema da democracia representativa: “Se, no sistema representativo, o controle popular é a garantia da liberdade do povo, tal liberdade não é mais do que ficção”. Em 1907, quando Bakunin escreveu isso, o pessimismo fazia todo sentido. A única forma de fiscalizar o poder era tendo tempo livre para acompanhar as reuniões – um luxo longe das possibilidades da classe trabalhadora.

Ainda hoje, em plena era da informação, o controle público da política permanece em grande parte fictício. Aos poucos, porém, os negócios da política vão se tornando cada vez mais públicos, palmo a palmo – geralmente, forçados pelos escândalos. E todos ganhamos. Atualmente, temos acesso a dados que seriam impensáveis há meros 10 anos. Na prática, qualquer interessado pode gastar 15 minutos por semana pra ver mais ou menos a fundo o que seus representantes fazem em seu nome, sem sair da frente do computador.

Antecedentes à mostra

Desde 2002, qualquer cidadão pode checar no site do TSE quem bancou uma campanha. Ainda é pouco. Nos EUA, a declaração ocorre em tempo real. Só assim o New York Times pôde ver que o volume de doações individuais à pré-campanha de Barack Obama ultrapassava o de doações de empresas, em 2007. Aqui, as contas são declaradas após a eleição, dando tempo para ajustar possíveis impropriedades, como pedir dinheiro depois de eleito para não fechar o caixa no vermelho.

Outro ponto interessante é ver quem são os políticos que nos vêm pedir o voto. No tempo de Bakunin, eles faziam discursos. Mais recentemente, usavam o horário eleitoral gratuito. Mas há coisas que eles não dizem. Eles têm antecedentes, e parte deles é pública. E dá para conferir pela internet (veja boxe).

A política não se restringe às eleições. Um eleitor cujo papel político termina após apertar o “confirma” no primeiro domingo de outubro está dando um cheque em branco para seus representantes preencherem como quiserem.

E eles preenchem mesmo: em 2003, a Câmara dos Deputados passou a pôr na web uma versão resumida dos gastos de Suas Excelências com verbas indenizatórias. São R$ 15 mil mensais que o deputado pode sacar caso apresente notas. (Eles sacam cada centavo.) O Senado relutou a abrir suas verbas indenizatórias, mas graças ao escândalo do Renan Calheiros, em 2007, resolveram publicar. Renan teria usado dados das verbas para chantagear colegas a votar contra sua cassação. É isso que acontece quando Suas Excelências privatizam informação pública.

Continua após a publicidade

A Câmara só passou a publicar nota por nota esses gastos devido a outro escândalo – a revelação de que o deputado Edmar Moreira, o famoso “deputado do castelo”, gastava sua verba com empresas de segurança de sua propriedade. Ou seja, embolsava. O Senado, por enquanto, ainda não chegou a esse ponto.

Durante séculos, os políticos se acostumaram ao padrão diagnosticado por Bakunin. O resultado disso é bem exemplificado pelos atos secretos do Senado, usados pra aumentar benefícios e contratar parentes. Eles sabiam que ninguém estava olhando. Hoje, com os recursos da internet, você pode começar a virar esse jogo.

+ Excelências
O projeto Excelências, da Transparência Brasil, buscou organizar os antecedentes dos candidatos e governantes num só lugar, numa espécie de “Orkut” dos políticos. Estão lá dados de processos a que respondem, colhidos nos tribunais; do que fazem no mandato, colhidos nos sites do Legislativo; menções no noticiário sobre corrupção desde 2004; e dados sobre seu patrimônio, que o Tribunal Superior Eleitoral passou a publicar na web em 2006. Veja o link no boxe abaixo. E lembre-se de consultar o site antes de votar no ano que vem.

Marcelo Soares é repórter freelance em São Paulo e comentarista político do programa Notícias MTV. Em 2006, ganhou o Prêmio Esso de Melhor Contribuição à Imprensa pela implantação do projeto Excelências, da Transparência Brasil. Seu blog, E Você Com Isso?, está no endereço: mtv.uol.com.br/evocecomisso/blog.

Saiba o que os políticos andam fazendo

https://www.excelencias.org.br
Projeto Excelências, da Transparência Brasil.

Continua após a publicidade

https://www.tse.jus.br/internet/eleicoes/
Dados eleitorais (clique especialmente em “prestações de contas”).

https://www.portaldatransparencia.gov.br
Portal da Transparência do governo federal, com dados de como o governo faz repasses de dinheiro.

https://www.senado.gov.br/sf/portaltransparencia/
Portal da Transparência do Senado.

www2.camara.gov.br/transparencia
Portal da Transparência da Câmara dos Deputados.

www9.senado.gov.br/portal/page/portal/orcamento_senado
Portal do Orçamento da União.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.