Depois da Lua, as estrelas
Há 40 anos, o homem iniciou sua aventura fora da Terra. No próximo século, chegaremos a Marte.
Ir ao espaço há cerca de quarenta anos não foi tarefa fácil. Os foguetes não eram lá muito confiáveis e a viagem era, no mínimo, desconfortável. Que o diga Yuri Gagarin (1934-1968), o cosmonauta soviético que subiu pela primeira vez ao espaço, no dia 12 de abril de 1961, espremido num módulo muito pequeno, o Vostok. Era o tempo da Guerra Fria e os americanos, temerosos de ficarem atrás dos inimigos, trataram de lançar sua resposta, com John Glenn, em fevereiro de 1962. Era o começo da corrida espacial e o presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, fixou a grande meta: pôr um homem na Lua. Mas até isso acontecer, com a Apollo XI, em 1969, a coisa não foi fácil para os pioneiros do espaço. Naves explodiram e protótipos caíram. Era uma aventura, semelhante àquela dos portugueses, que precisaram, primeiro, aprimorar seus barcos para só então viajar para lugares remotos e desconhecidos.
Depois da chegada à Lua, os ânimos de americanos e soviéticos esfriaram, se não devido à distensão política, pelo menos pela constatação de que levar homens a outros planetas é uma empreitada muito cara. Hoje, um dilema divide os especialistas: desenvolver caríssimos ambientes que suportem a vida humana no espaço ou mandar para fora da Terra naves-robôs, sem tripulação? Por enquanto, as missões tripuladas permanecem modestas, com os hoje corriqueiros ônibus espaciais, e as viagens a outros planetas são feitas por sondas não-tripuladas. Talvez a situação mude no futuro próximo, com a construção de uma nova estação orbital internacional, que serviria não só para experiências de longa duração no espaço, mas também como ponto de partida de missões tripuladas mais ambiciosas – a Marte, em primeiro lugar. Atualmente, predomina nos governos a convicção de que investir na exploração do espaço não vale a pena.
Subir ao céu
Só é possível graças ao trabalho do físico americano Robert Goddard (1882-1945), o inventor dos foguetes a combustível líquido. Em 1920, ele escreveu para um jornal que o homem poderia um dia chegar à Lua usando foguetes. A prova veio seis anos depois, quando ele lançou seu primeiro modelo. A engenhoca subiu 12 metros, decolando de uma plantação de morangos na horta de sua tia, para se despedaçar numa plantação de repolhos. Mais tarde, ele chegou a construir foguetes supersônicos que atingiram 3 quilômetros de altura. Durante a II Guerra Mundial, muitas de suas invenções foram copiadas pela Alemanha nazista e inspiraram as famosas bombas voadoras V1 e V2.
Sonda é o cartão de visita humano
O que possíveis alienígenas poderiam saber sobre a Terra? Saberiam que ela é um pequeno planeta, o terceiro a partir da estrela que organiza seu sistema, que é habitado por seres inteligentes de dois tipos, homens e mulheres. Além disso, saberiam que tais seres apreciam certas seqüências de sons, como as composições de um tal J.S. Bach e mais meia dúzia de coisas. Como? Pois isso é o que está gravado em uma placa, o cartão de visita do homem, lançado ao espaço por duas sondas Voyager, em 1977. As Voyager passaram por Júpiter em 1979 e chegaram a Netuno dez anos depois. Nada feito pelo homem viajou tão longe e os cientistas ainda esperam que uma delas resista até 2020, mandando dados sobre a heliopausa, o limite do campo de influência magnética do Sol. As Voyager já entraram para a ficção científica. No primeiro filme da série Jornada nas Estrelas, uma delas é capturada por ETs, que a consideram um tesouro de informações sobre a Terra e seus habitantes. E com razão.
As duas vidas de Von Braun
O pai das bombas V2, que fustigaram Londres durante a II Guerra Mundial, e o grande impulsionador do programa espacial americano são a mesma pessoa: Wernher von Braun (1912-1977), um engenheiro alemão que começara a trabalhar em foguetes em 1932. Com a derrota dos nazistas na guerra, ele e sua equipe se entregaram às tropas americanas para não cair nas mãos dos soviéticos, que também haviam invadido a Alemanha. Von Braun passou então a trabalhar para o programa espacial americano, desenvolvendo a tecnologia dos foguetes que, 25 anos mais tarde, levariam o homem à Lua. Seu primeiro trabalho nos Estados Unidos foi justamente monitorar o lançamento para fins de pesquisa de velhas V2 capturadas dos alemães.