Texto Kleyson Barbosa
Que o ar das cidades ficaria melhor do que em feriado prolongado você já sabe – os carros elétricos não soltam nada pelo escapamento (coisa que eles nem têm). Que mesmo as avenidas ficariam bem mais silenciosas você também sabe, já que carros assim não fazem barulho (fora o buzinaço, que não vai acabar nunca). E não deixa de ser óbvio que uma mudança dessas deixaria o mundo menos dependente de petróleo. Como as subidas do preço do barril são o maior motor da inflação no planeta, a própria economia ficaria menos turbulenta. Mas há um ponto inusitado nessa hipótese: se todos os carros do mundo fossem elétricos, a quantidade de CO2 que lançamos na atmosfera continuaria praticamente a mesma. É que o grosso da produção mundial de CO2 não sai do escapamento dos carros, mas das usinas termoelétricas que queimam carvão, o combustível mais sujo que existe. E 40% da eletricidade mundial sai de usinas assim. Resultado: para fornecer a quantidade de energia para 1 bilhão de carros (a frota mundial hoje) deixando esse naco de 40% por conta de carvão, lançaríamos mais ou menos 3 bilhões de toneladas de CO2 por ano a mais na atmosfera. É exatamente o que os carros com motor convencional lançam hoje. Outro problema: reabastecer esses veículos na tomada demora. Eles levam de 4 a 8 horas para “encher o tanque” – aí, se você mora em prédio ou estaciona na rua, vai fazer o quê? Puxar uma extensão da tomada pela janela? Por essas, os carros elétricos nunca ameaçaram os comuns, apesar de existirem desde o fim do século 19. Mas isso quer dizer que eles vão continuar sendo uma utopia? Não. Com algumas providências, daria para termos uma frota totalmente elétrica sem problemas. Veja quais são elas e como um planeta cheio desses carros afetaria sua vida.
Ei, mãe, eu tenho um carro elétrico
Usinas nucleares a rodo, Brasil em crise e um F-1 em cada garagem. Bem-vindo ao mundo do carro elétrico
EU TENHO A FORÇA!
Para suprir a 1 bilhão de carros elétricos, só aumentando, e muito, a produção de energia. O mundo precisaria saltar dos 17,5 mil terawatts-hora por ano de hoje para 23 mil TWh. Essa diferença de 5,5 TWh equivale a 13 Brasis em eletricidade, ou 600 usinas nucleares iguais a Angra 3.
TUDO MUDA PARA QUE NADA MUDE?
Se movêssemos os carros usando só usinas que não emitem CO2 (e as nucleares são as mais eficientes entre essas), pouparíamos a atmosfera de 3 bilhões de toneladas anuais de carbono, o que diminuiria o ritmo do aquecimento global. Mas, se o mundo continuar tirando a maior parte de sua eletricidade das termoelétricas, tudo continuará na mesma.
DEIXA QUE EU CARREGO
Os carros elétricos demoram horas para carregar. Um jeito de driblar isso é transformar os postos de gasolina em postos de troca de bateria: você deixa a sua lá recarregando e volta para casa com uma nova. O governo de Israel planeja equipar o país com um sistema desses até 2011.
ADEUS, PRÉ-SAL
Seria o fim da gasolina, responsável por 1/3 do consumo de petróleo no mundo. O óleo ainda abasteceria aviões e caminhões e continuaria como matéria-prima de plásticos e o escambau. Mas a cotação do barril cairia feio. E os bilhões que serão investidos para explorar a camada pré-sal, no litoral brasileiro, ficariam enterrados no fundo do mar.
PAU NA MÁQUINA
Os melhores carros elétricos de hoje são mais velozes que Ferraris e Porsches – e custam a metade (US$ 100 mil). O segredo é que qualquer motor elétrico alcança sua potência máxima mais rápido que um convencional. Com a produção em massa, o preço das baterias deve cair. E carros tão velozes quanto um F-1 podem ficar baratos.