Durante mais de uma década, houve sempre alguém lá em cima olhando por nós. Eram geralmente russos e moravam na estação espacial Mir, 350 quilômetros acima de nossa cabeça. Até que, no dia 27 de agosto, três tripulantes recolheram os experimentos científicos, juntaram seus aparelhos, fecharam as janelas e embarcaram na nave Soyuz, rumo à Terra. Era o fim de uma história que começou em 1986, quando o governo russo ainda apostava na corrida espacial. Ele agora afirma que não vale a pena fazer reparos numa instalação que já resistiu muito além do prazo de duração, de dez anos. Um dos que disseram adeus à Mir depois de seis meses a bordo foi o astronauta francês Jean-Pierre Haigneré. Em terra, ele deu uma entrevista impressionante para a revista inglesa New Scientist. À direita a SUPER transcreve alguns trechos para você.
Cheiro de café queimado
O astronauta francês Jean-Pierre Haigneré descreve sua experiência em órbita.
“Às vezes me parecia que a Mir tinha cheiro de café queimado. E o som lembrava o de um motor de barco, ou de um avião barulhento. A causa eram os diversos ventiladores que fazem circular o ar, lá dentro. Esqueci completamente o que é o silêncio.”
“Nenhuma experiência na Terra dá uma idéia do que significa estar no espaço. É um pouco como viajar no submarino do Capitão Nemo [personagem do romance Vinte Mil Láguas Submarinas, do francês Júlio Verne]. Só que as escotilhas mostram um universo fantástico e você está imerso numa sensação agradável, provocada pela ausência de gravidade.”
“O momento de maior emoção que eu tive foi quando abri as portas estanques e saí para o vazio. Eu não estava assustado. Nesse tipo de situação, você confia apenas na fé e, do ponto de vista técnico, procura cometer o menor número de erros possível.”