Imprevisível Hipparcos
O primeiro satélite de astrometria do mundo já conseguiu inventariar 18 mil estrelas.
Quando o foguete Arianne descolou do solo pela trigésima terceira vez, em agosto de 1989, levou a bordo em engenho de cerca de US$ 500 milhões e a euforia de astrofísicos do mundo inteiro. Instalado no nariz do foguete, Hipparcos, o primeiro satélite de astrometria do mundo tinha uma missão ambiciosa: em dois anos e meio, inventariar nada menos que 120000 estrelas da Via Láctea. Ele deveria estabelecer suas posições e movimentos, dados essenciais para a confecção do mais preciso catálogo de estrelas já feito e o primeiro em três dimensões.
Dez dias depois do lançamento, porém, uma pane no motor impediu o Hipparcos de atingir sua órbita, a 36000 quilômetros de altitude, e comprometeu a missão. Sem muito entusiasmo, os engenheiros do Centro de Controle de Darmstadt, na Alemanha, resolveram ativar pequenos motores inicialmente reservados a sutis correções de altitude. Deu certo, em parte: o Hipparcos atingiu uma órbita um pouco mais elevada que a prevista, e que o sujeitava a fortes radiações cósmicas e a longos eclipses solares ( o que o deixa sem energia). A engrenagem do satélite foi, várias vezes, salva por um fio. Por isso, foi uma grande surpresa quando os responsáveis da ESA — Agência Espacial Européia — divulgaram, em janeiro último, os resultados da experiência: o Hipparcos já catalogou 18000 estrelas com uma precisão maior que a prevista e deve dar conta do trabalho até o início de 1993. Então, o catálogo auxiliará os pesquisadores a reestimar o tamanho do Universo e conhecer melhor a galáxia onde vivemos.