João Steiner
Um novo detector americano, chamado Ligo, será o primeiro capaz de capturar as chamadas ondas gravitacionais. Elas são geradas pelo movimento de massas muito grandes, como dois buracos negros girando em volta um do outro, ou pelo estremecimento de uma estrela gigante ao explodir. Nessas circunstâncias, uma parte da imensa gravidade desses corpos escapa para o espaço. A sua forma é a de uma ondulação de energia muito especial. Ela pode ser detectada porque estica ou encolhe os objetos em seu caminho (veja o infográfico). É esse efeito que o Ligo vai registrar em duas instalações idênticas, uma no Estado de Louisiana e outra no de Washington. Cada aparelho consiste de dois cilindros ocos, perpendiculares entre si e com 4 quilômetros de comprimento. Dois feixes de laser correm lá dentro e são refletidos por espelhos fixados na extremidade de cada tubo.
Assim, qualquer mudança na espessura do espelho altera o percurso dos feixes e indica a passagem de uma onda gravitacional. A deformação será ínfima, 1 trilhão de vezes menor que a espessura de um fio de cabelo. Mesmo assim, a oscilação conterá informações sobre o astro de onde veio. O tamanho da deformação que causa e a freqüência com que ela afeta o instrumento podem revelar o que acontece no centro de uma estrela em explosão, algo que nenhum telescópio da atualidade consegue mostrar. O Ligo dará início a uma nova era da Astronomia.
Astrônomo e astrofísico da Universidade de São Paulo (USP)
Quando a gravidade faz marola
Em 2000 fica pronto o primeiro detector capaz de captar as ondas gravitacionais geradas por corpos superdensos como os buracos negros.
No centro desta galáxia, fotografada recentemente pelo telescópio espacial Hubble, pode haver dois buracos negros que emitem energia gravitacional na forma de ondas. No infográfico à direita você vê o efeito que elas têm sobre os objetos que atravessam.
Maremoto no espaço
Corpos superpesados lançam pulsos de energia
1. Buracos negros galácticos têm gravidade bilhões de vezes maior que a do Sol. Se estiverem em rotação, eles perdem parte dessa energia gravitacional na forma de ondas que se espalham pelo espaço.
2. Estas ondulações deformam os corpos que atravessam.
3. Nesta representação, você vê o que elas fariam aos objetos e inclusive aos seres humanos.
4. Num primeiro momento, elas esticam o cidadão na vertical…
5. …depois o devolvem à proporção original…
6. …para em seguida alongá-lo na horizontal. Passada a onda, tudo volta ao normal. A deformação, muito exagerada no desenho, seria menor que 1 trilionésimo de milímetro.