Lua nova e estranha
Satélite natural de Saturno é tão misterioso que pode até abrigar vida
Mauro Tracco
Em 1789, astrônomos descobriram uma pequena lua de Saturno e a batizaram de Encélado, mas nenhum deles imaginou estar diante de um dos grandes mistérios do sistema solar. De longe, o satélite de 500 km de diâmetro (7 vezes menor do que o nosso) parecia ser apenas mais uma esfera gelada. Mas foi só a sonda espacial americana e européia Cassini dar um rasante sobre a superfície de Encélado para fazer descobertas impressionantes. Para começar, o satélite tem uma atmosfera, o que até então só havia sido visto em uma lua de todo o sistema solar (Titã, também de Saturno). Só que, para a surpresa dos cientistas, a atmosfera de Encélado – composta principalmente de vapor d’água – está concentrada no pólo sul, que também é a região mais quente dali. “Alguma atividade geológica deve estar produzindo esses gases, mas a gravidade em Encélado não é suficiente para segurá-los por muito tempo. Então há produção e perda constante de atmosfera”, diz o astrônomo Enos Picazzio, da USP. O que os cientistas não sabem é como um astro tão pequeno consegue produzir tantos gases. “Deve existir um mecanismo externo ao satélite que provoca esse fenômeno, como acontece com a lua jupteriana Io”, diz Picazzio. A enorme gravidade que Júpiter exerce sobre Io movimenta a crosta e provoca vulcanismo em todo o satélite. Algo assim pode acontecer em Encélado, mas mesmo isso não explica por que os efeitos só são vistos no pólo sul. Uma resposta pode estar nos vales apelidados de “listras de tigres” – as linhas azuis que aparecem na foto – que poderiam canalizar para o pólo os gases do resto do planeta. Talvez exista ali água em estado líquido, o que colocaria Encélado no restrito grupo – composto apenas por Marte, Terra e a lua jupteriana Europa – com as condições mínimas para abrigar vida. “Se há vida em ambiente aquoso hostil na Terra, esse fenômeno pode ocorrer também no resto do sistema solar”, diz Picazzio.
Encélado revelado
• É o astro mais brilhante do sistema solar: reflete 90% da luz que incide sobre ele.
• As partículas que ela emite abastecem o maior dos anéis de Saturno.
• As áreas mais quentes, no pólo sul, têm temperaturas próximas a 163OC negativos.