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O calor que pode vir do Sol

As manchas solares são suspeitas. Quando seu número cresce, como neste século, a temperatura na Terra sobe.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h33 - Publicado em 30 nov 1998, 22h00

João Steiner

Quase toda a energia que utilizamos na nossa vida diária foi produzida, originalmente, no centro do Sol. Também o clima da Terra é fortemente influenciado por ele. Não é nada preocupante porque os dados geológicos indicam que, nos últimos 4 bilhões de anos, a luminosidade e a temperatura do Sol não tiveram alterações substanciais. Por outro lado, a teoria da evolução estelar nos garante que, nos próximos 5 bilhões de anos, o Sol vai se comportar sem maiores sobressaltos.

Mas caberia perguntar se, apesar dessa serenidade quase perene, não poderia haver mudanças sutis nas propriedades do astro-rei capazes de alterar as condições climáticas na Terra. A pista para se chegar a uma resposta pode estar nas manchas solares. Melhor dizendo, no estudo da freqüência com que essas nódoas escuras aparecem na superfície. Você mesmo pode vê-las na parede de um quarto escuro, no qual o Sol seja visível apenas por uma fresta da janela. Depois, com um espelho, faça a imagem dele refletir numa das paredes.

Desde que foram descobertas por Galileu Galilei e C. Schneider, por volta de 1610, logo após a invenção da luneta, as manchas vêm sendo examinadas com regularidade. Sabe-se agora que elas aumentam e diminuem de número de onze em onze anos. Trata-se, portanto, de um fenômeno periódico e previsível. Mas só dá para antecipar que a quantidade vai aumentar ou diminuir, não em que proporção. Entre os anos 1650 e 1715, por exemplo, foram registradas muito poucas. Foi um período chamado “Mínimo de Maunden”, que tem sido associado ao frio que ocorreu na Europa durante toda essa época, popularmente conhecida com a “Pequena Idade do Gelo”. Será que a redução do número de manchas teria sido responsável pelo resfriamento?

É possível. Voltando a atenção para o século XX, observa-se uma tendência inversa, a de um aumento na quantidade de manchas solares, comparada aos séculos anteriores. Também parece claro que as medidas mais recentes da temperatura na superfície da Terra registraram 0,5 grau Celsius acima da média dos últimos séculos. Para alguns pesquisadores isso mostra que as oscilações das manchas têm influência sobre o clima aqui. Outros acreditam que único responsável é o efeito estufa, que se deve à concentração, na atmosfera, de gás carbônico produzido pelo homem.

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Até agora não sabemos quantificar a contribuição do Sol, nem as conseqüências da atividade humana sobre a variação do clima terrestre. O que parece certo é que vai ser necessário esperar mais tempo por uma resposta. O ideal seria fazer medidas mais precisas, espaçadas ao longo de vários anos, para que possamos ter uma idéia mais clara sobre a situação.

João Steiner, professor de Astrofísica do Instituto Astronômico e Geofísico da USP

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