Assine SUPER por R$2,00/semana
Continua após publicidade

O computador levanta vôo

Supercomputadores testam aviões da virada do século, dez vezes mais rápidos que o Concorde, antes que começem a ser fabricados

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h35 - Publicado em 30 nov 1987, 22h00

Após uma decolagem tranqüila, o piloto se prepara para ganhar altura. Aos poucos, o avião vai subindo, até chegar as fronteiras da atmosfera, a 30 mil metros, três vezes além dos jatos atuais. Ele voa depressa – bem mais depressa do que o mais rápido jato em operação comercial no mundo, supersônico Concorde, que cobre 2.1 mil quilômetros numa hora. Sem se perturbar com a turbulência e as ondas de choque provocadas pelo fluxo de calor em torno da fuselagem por causa da rapidez do vôo, o piloto inicia os preparativos para alcançar velocidades de tirar a respiração – primeiro, sete; depois, quatorze; enfim, 25 vezes a velocidade do som, ou seja, 30 mil quilômetros por hora, o suficiente para entrar em órbita em torno da terra. A medida que sobe, o aparelho envolvido por uma série de fios de cores brilhantes que mostram a direção das correntes de ar e zonas de maior turbulência.

Tudo isso é ficção. Esta viagem não aconteceu – ainda. Mas o cientista de verdade, que tomou o lugar do nosso piloto imaginário, pode simular o vôo no vídeo de um supercomputador antes mesmo que o projeto desse avião chamado Hipersônico tenha saído das pranchetas dos desenhistas.

Esse faz-de-conta, tão realista, é possível graças a um sofisticado sistema automatizado – NAS (Sigla em inglês para simulação numérica aerodinâmica)-criado para agência espacial norte-americana NASA, pelo Ames Research Center, em Mountain View, na Califórnia.

O NAS tem em seu coração uma maravilha comparável ao avião supersônico. Um dos mais rápidos supercomputadores do mundo, o Cray-2 , capaz de fazer até dois bilhões de cálculos (2 gigaflops) por segundo. A NASA investiu 120 milhões de dólares neste programa para revolucionar o modo de testar e desenhar os veículos aeroespaciais da próxima geração. A prioridade do NAS e o projeto do avião aeroespacial Expresso do Oriente, capaz de voar quatorze vezes mais depressa do que o som, ou 17 mil quilômetros por hora.

Projetado para transportar quinhentos passageiros, quase o dobro, portanto, dos atuais jumbos, Expresso do Oriente deverá estar voando por volta do ano 2000. Como o próprio nome indica, ele será utilizado principalmente nas rotas entre América do Norte e a Ásia. Com a velocidade para a qual está programado, poderá ligar, digamos, Washington a Tóquio num piscar de olhos – três horas, treze a menos que os jatos atuais.

Continua após a publicidade

Cálculos a Jato

Entre o pioneiro 14-Bis de Santos Dumont e os projetos dos jatos hipersônicos, muito do charme e da aventura de se construir um avião se perdeu. Em compensação, o avanço da indústria e a revolução da informática abriram possibilidades de investir em aparelhos inimagináveis no começo do século. Ganhou-se em velocidade, resistência, potência do motor. De seu lado, os velocíssimos supercomputadores já são ferramentas obrigatórias para investigar fenômenos do mundo físico que exigem a interpretação de milhões de dados combinados.

Para se ter uma idéia, um cálculo que num microcomputador Apple 11 leva 80 horas, num IBM/PC 35 horas e num computador de grande porte, como o VAX 11 /780, sete minutos, é feito num supercomputador como o Cray-2 em menos de dois segundos. Embora funcione como um supercérebro, o Cray é pequeno: tem pouco mais de um metro de altura e outro tanto de diâmetro. Devido à rapidez com que opera, ele aquece como um plugue submetido à excesso de corrente ligado a uma tomada. Por causa disso, seus circuitos são imersos em um fluido, do mesmo tipo usado no plasma artificial que substitui o sangue humano. O local onde ele se encontra “lembra um aquário”, compara Ron Bailey, diretor do projeto NAS da NASA.

Capaz de armazenar 256 milhões de palavras em sua memória, o Cray-2 de Mountain View está sendo usado ao mesmo tempo por 37 centros de pesquisa dos Estados Unidos. Ele serve a várias áreas, além da aviação. Por exemplo, ajuda no estudo da formação das galáxias, na modelagem dos padrões de clima da Terra, na decodificação dos códigos genéticos e na simulação de reações químicas. Devido ao preço, que pode chegar a 20 milhões de dólares, e à sofisticação, a família dos supercomputadores ainda é pequena. Existem apenas uns trezentos, concentrados nos Estados Unidos, Canadá, Japão e países da Europa. Quem tem, não quer vender. Quem não tem, espera a vez de poder comprar. No Brasil há pelo menos seis empresas e instituições de pesquisas interessadas, da Petrobrás ao CTA (Centro Técnico Aeroespacial).

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.