O microcomputador
Cada vez mais presente em tudo, o herdeiro dos velhos cérebros eletrônicos facilita a vida de mil maneiras
Em 1964, Arthur Samuel, um cientista americano que pesquisa métodos de inteligência artificial, previu, baseado na invenção do transistor, que as máquinas do futuro diminuíram de tamanho, se tornariam mais acessíveis e acabariam sendo tão comuns quanto um telefone. Ele não estava errado. Atualmente, os microcomputadores são quase tão corriqueiros nos lares dos países mais desenvolvidos como qualquer aparelho domestico, ao mesmo tempo que também fazem parte do cotidiano das empresas mais modernas no mundo inteiro. E ainda ajudam a tomar conta de escolas, hospitais, restaurantes- praticamente tudo o que precisa ser administrado. Como no caso do telefone, nem é necessário entender os segredos de seu funcionamento para poder utilizá-lo – basta aprender a manipulá-lo por meio de uma linguagem padronizada.
Nisso exatamente está a chave de sua aceitação: pode- se dizer sem erro que é a máquina mais desejada do mundo hoje em dia. Mas nem sempre foi assim. O primeiro micro de que se tem noticia foi lançado em 1975, nos Estados Unidos, na revista Popular Eletronics. Nela o usuário encontrava instruções para montar em casa o kit do Altair 8800, que deveria ser adquirido por reembolso postal. O projeto, do engenheiro reformado da Força Aérea Edward Roberts, era uma tentativa de salvar sua firma ameaçada de falência, depois do fracasso do lançamento de uma calculadora eletrônica.
A empresa chamava-se MITS e ficava em Albuquerque, Novo México.
Roberts levantou um empréstimo de 65 mil dólares, comprometendo- se a vender oitocentas máquinas em apenas um ano. O kit custava somente 397 dólares, apenas trinta a mais do que o próprio microprocessador a partir do qual o Altair foi construído. O microprocessador é um chip programável, que pode assumir diversas funções. Só a partir do seu desenvolvimento o microcomputador se tornou possível, já que os milhares de circuitos elétricos que antes ocupavam dezenas de placas passaram a ficar contidos numa pastilha de silício de cerca de 2 centímetros quadrados. Em 1975, a MITS vendeu o equivalente a 1 milhão de dólares, três vezes mais do que o engenheiro Roberts prometera.
No ano seguinte, o faturamento triplicou de novo. Em 1977, disparou a 20 milhões. O sucesso do Altair não se deveu tanto a sua real utilidade. Ele, na verdade, não passava de uma caixa com conexões e luzes fixadas num painel frontal, além do microprocessador no qual se podia armazenar apenas 256 bytes de memória (cada byte é um conjunto de 8 unidades mínimas de informação capaz de formar um caractere, como a letra “a”, uma vírgula ou um número), menos que a calculadora de bolso atual. Os micros de hoje tem memória interna de nada menos que 4 megabytes, ou 4 milhões de bytes, além daquela que se pode armazenar em disquetes magnéticos acopláveis.
A dificuldade em se manipular o Altair não se restringia apenas a sua engenharia- o manual tampouco era dos mais explicativos. Utilizá-lo, enfim, não era tarefa fácil. Uma instrução simples, como stop, por exemplo, exigia que se acionassem oito conexões. Além disso, toda vez que se fosse ligá-lo era necessário carregar a memória com instruções de linguagem Basic, para que depois se pudesse “conversar” com o computador. A operação, por meio de fitas perfuradas, levava no mínimo vinte minutos e podia se arrastar até em uma hora.
A linguagem Basic, que quer dizer Beginner’s all purpose symbolic instruction code, ou Código de instrução simbólico de uso genérico para principiantes, foi criada em 1964 por John Kemmeny e Tom Kurtz, dois professores universitários americanos.
Querendo tornar o computador mais acessível aos estudantes, construíram um código de palavras de uso comum em inglês. Surgiu assim o método interativo. Isso significa que o computador responde direta e imediatamente às perguntas do usuário, assim como uma pessoa que conversa com outra. Dois funcionários da empresa MITS, Bill Gates e Paul Allen, incrementaram o Basic, que passou a fazer parte do conjunto do micro, ou seja, era só ligar na tomada e usar. Depois do Basic, que embora não tenha sido a primeira linguagem eletrônica foi a que primeiro simplificou a utilização dos micros, vieram outros idiomas especializados, como o Pascal e o “C”.
Tais linguagens são mais eficientes porque permitem utilizar menor número de instruções por atividade. É como acontece quando se aprende uma língua: dominar um vocabulário de quinhentas palavras é relativamente mais fácil, mas obviamente permite menos possibilidades de expressão do que 2 mil termos, cujo aprendizado demanda mais tempo e esforço. O grande impulso para a popularização dos microcomputadores, porém, foi dado por dois jovens engenheiros que, apostando que conseguiriam criar uma máquina simples e eficaz, venderam todo o seu patrimônio: uma máquina de calcular eletrônica e uma Kombi. Os dois aventureiros na época, em 1976, com 21 e 26 anos respectivamente.
Com um punhado de dólares na mão, uma idéia na cabeça e uma garagem emprestada para trabalhar, a dupla deu à luz o Apple 1, o mais simples micro até então. Foram vendidos cinqüenta exemplares dessa primeira fornada. Pouco tempo depois, eles apresentaram a máquina ao Homebrew Computer Club, um clube de aficionados em eletrônica da área de São Francisco. Na época, os sócios usavam os micros como lazer. A recepção foi mais do que calorosa e isso incentivou Jobs e Wosniak a montar a Apple Inc., onde nasceria mais tarde o Apple II. A indústria tornou-se a mais bem-sucessida no ramo dos microcomputadores. Seu faturamento em 1984 alcançou 1,4 bilhão de dólares- um número macro por qualquer critério de avaliação.
O Apple II, assim como os seus concorrentes da mesma época, era bem mais fácil de ser manipulado. Os modelos já vinham com teclado, terminal de vídeo (que substituiu as chaves no painel) e com a linguagem Basic embutida. Em 1981, a IBM lançou o PC (Personal Computer, ou Computador Pessoal). Suas vantagens não eram pequenas: maior capacidade de armazenamento e processador mais poderoso, de 16 bits, o dobro do habitual. Isso quer dizer que, como o computador trabalha com o sistema binário, ou seja, os números 0 e 1 combinados (como se o homem tivesse apenas dois dedos para contar na célebre comparação), existem mais possibilidades de formar símbolos de 16 bits do que de 8.
As inovações causaram tamanho impacto que a IBM abocanhou a parta do leão no mercado dos micros. Três anos depois, em fevereiro de 1984, a Apple deu o troco: para competir com a IBM, criou o micro ainda mais fácil de ser usado por um leigo: o Macintosh. Além de possibilitar o uso de gráficos e fórmulas, sua grande novidade é o mouse, um pequeno equipamento adicional que simplifica o trabalho de comandar o computador. O mouse permite, em vez de dar ao micro todas as coordenadas para que cumpra uma função qualquer, que o usuário apenas selecione a ordem desejada de uma lista de opções que aparece na tela.
Alguns especialistas consideram o Macintosh a mais importante revolução já ocorrida no mundo dos computadores pessoais. Recentemente, porém, o inventivo Jobs, o pai do Apple, criou uma máquina que incorpora a tecnologia laser. O Next, como foi chamado, tem uma resolução de imagem e de som incomparáveis, devido à utilização dessa técnica. Além disso, o seu disquete, também a laser, armazena o colosso de 670 mil vezes mais bytes do que os atuais disquetes magnéticos. No futuro, provavelmente compact discs, vídeos a laser e outros aparelhos semelhantes poderão ser desativados; tudo estará contido num único aparelho: o microcomputador.
Para saber mais: SuperMundo