Philippe Psaïla
Máquinas programadas para adoecer são a novidade nas faculdades de Medicina da França. Elas têm palpitações, ficam febris, reclamam de dor e até tossem. Tudo para ensinar os estudantes sobre pacientes de verdade.
Eles não têm coração, mas podem ser fulminados por um infarto. Não escutam nem respiram, mas podem sofrer de asma ou de dor de ouvido. Os robôs doentes são o mais novo recurso dos médicos franceses. Eles foram criados por uma empresa de equipamentos hospitalares, a FMC, sediada em Paris. O primeiro protótipo surgiu em 1991. Era o Laennec, um robô asmástico que, depois, ganhou irmãos cardíacos, gripados e com diversos outros problemas de saúde. “Hoje, podemos dizer que essas máquinas beiram a perfeição, simulando os mais diversos sintomas,” afirma Patrick Dhont, o inventor da máquina. Para iniciar a consulta, basta apertar um botão. Então, o robô sorteia uma doença e começa a manifestar os sintomas. “Existem os especializados em várias áreas médicas”, conta o inventor. “Cada um deles é capaz de reproduzir cerca de vinte das doenças mais comuns.” O trabalho dos alunos é examiná-lo e torcer para acertar no diagnóstico, que deve ser digitado em um teclado. Quem erra vê o estado do paciente metálico piorar. E certos descuidos podem ser fatais.
Pulmões que roncam
Este é o Laennec, o mais antigo dos robôs que adoecem. Quando o médico encosta o estetoscópio em seu tórax para auscultar os pulmões, ouve o som gravado de pacientes de verdade. O peito ronca, chia. A respiração fica ofegante. Pode ser asma, resfriado ou coisa mais séria. Também é possível tirar sua pressão.
Sem medo de tomar injeção
Esta máquina, ainda sem nome, simula situações de emergência típicas de pronto-socorros. Um exercício comum é a aplicação da anestesia. No caso, o anestésico é dispensado. Mas a injeção, não. Se o estudante teclar uma dose incorreta no computador ou errar o lugar da picada (que é de verdade), o robô piorará.
Máquina febril
Thomas é uma criança de lata. Sua pele artificial esquenta, sinal de febre. Ele reclama de dor na garganta ou no ouvido. Conforme suas queixas, o futuro especialista deve fazer o diagnóstico – desde uma simples gripe até infecções mais graves. Também é possível fazer exames para testar se Thomas está ouvindo tudo perfeitamente.
Coração delicado
Seu nome é Sístole. É um cardíaco, claro. É possível ouvir os batimentos irregulares do coração, gravados de pacientes humanos, e submetê-lo a um eletrocardiograma. De acordo com o resultado, o estudante resolve se irá medicá-lo ou mandá-lo para a mesa de cirurgia. Um erro qualquer e Sístole morre do coração.
Um criador de sintomas
O médico Patrick Dhont mostra os órgãos internos de seus pacientes: chips, fios e sensores para simular os sintomas de doenças. “Quero criar robôs para todas as especialidades”, fala Dhont, animado com o sucesso de suas máquinas, lançadas comercialmente este ano nas escolas médicas francesas.