Ronaldo Rogério de Freitas Mourão
Após as missões Viking 1 e 2, que exploraram a superfície marciana, em 1976, nenhuma sonda foi enviada ao planeta vermelho. Durante doze anos as pesquisas da superfície do planeta ficaram interrompidas, fazendo avançar para o século XXI o sonho do homem de andar sobre Marte ainda nos anos 80, como desejavam e previam, em 1957, os mais entusiastas das viagens espaciais, entre eles um dos seus pioneiros, o alemão Wernher von Braun.
A retomada coube aos soviéticos, com o lançamento, em 8 de julho passado, da sonda Fobos. Com um atraso de dezessete anos, os americanos só retornarão à exploração de Marte em 1992, com o lançamento da sonda Mars Observer – Observador de Marte -, que deverá atingir o planeta um ano depois, para iniciar o mais completo levantamento cartográfico de Marte. O projeto, originalmente abreviado pela sigla MGCO – Mars Geoscience Climatology Orbiter (Orbitador de Geociência e Climatologia de Marte) -, devia inaugurar uma longa série da sonda planetária Mariner Mark II, cujas plataformas de serviço padronizadas conduziriam experiências de diferentes naturezas.
As limitações orçamentárias, além de provocar o adiamento temporário do desenvolvimento das sondas Mark II, acabaram por levar a uma solução econõmica: o aproveitamento, após sua adaptação, do satélite de telecomunicação Satcom-K da RCA. De fato, a sonda MGCO aproveitou sua estrutura, seus painéis solares, bem como o sistema de controle de altitude proveniente do satélite heliossíncrono TIROS/DMSP. Aliás, deste último satélite, empregaram-se também o computador de bordo e o sistema de bateria e rede elétrica.
Com essas alterações no projeto inicial, a missão Mark II perdeu o seu caráter espetacular, tão característico dos võos planetários de descobertas, e assumiu o de uma missão rotineira de exploração, em geral, de longa duração. Em conseqüência, o projeto passou a ser designado Observer, pois, coma os satélites homônimos de observação da Terra, se transformou no primeiro satélite de teledetecção e tneteorologia marciana.
Assim, depois do período das sondas de descoberta, com os Mariner 6, 7 e 9 e as Viking 1 e 2, não se seguiu, como era previsto, um período de exploração sistemática e detalhada do planeta Marte. Os Orbiter 1 e 2, do programa Viking, apesar de possuírem três sofisticados instrumentos de reconhecimento, tais como uma câmara Vidicon, um detector de água na atmosfera e um sistema de cartografia térmica, deixaram sem resposta inúmeros quesitos sobre o planeta: como Marte evoluiu no passado? Existe ainda atividade vulcânica em sua superfície? Existem sítios onde a vida poderia se desenvolver? Existe água? Estaria a água situada em grandes lagos subterrâneos?
Só um satélite com as características do Mars Observer, situado numa órbita polar heliossíncrona, como o satélite de sensoreamento remoto francês Spot, seria capaz de responder a essas questões e a muitas outras relativas à superfície marciana. O Mars Observer deverá descrever uma órbita circular a 361 quilômetros de altitude acima de Marte, e um período orbital de 117 minutos. Ao decalar 30 quilômetros para o oeste, será possível ao satélite cobrir toda a superfície marciana, sobrevoando o mesmo ponto num intervalo de 56 dias, e mais de doze vezes ao longo de todo o ano marciano. Sua câmara será capaz de varrer uma superfície de 40 quilômetros de largura. Concebido para funcionar pelo menos durante um ano marciano, espera-se que o Observador de Marte possa funcionar até dois anos marcianos. No fim, seremos capazes de conhecer Marte com grandes detalhes e, deste modo, procurar e encontrar o lugar onde deverão se instalar os homens que irão iniciar a colonização no ano 2020, quando se espera que um astronauta americano venha a pisar o solo de Marte.