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Obsoleto e caro: Fusca, um passo atrás

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h31 - Publicado em 30 abr 1993, 22h00

A quase inacreditável volta do Fusca me parece uma excelente oportunidade para reabrir uma discussão essencial para todos nós, brasileiros, e especialmente para os jovens. A questão é: que tipo de sociedade pretendemos construir no Brasil? Como já foi dito e repetido, voltar a fabricar Fuscas significa pouco ou quase nada em termos de geração de emprego e reativação da economia. Além disso, o carro é, tecnologicamente, obsoleto e poluidor. E, ao preço de US$ 6000, está longe de ser um produto popular.

O mais importante, porém, é discutir o raciocínio que levou o presidente Itamar Franco a exumar o Fusquinha. Para Itamar, ele representa um símbolo da vontade presidencial de dar prioridade à fabricação de produtos que possam ser consumidos por uma parcela maior da população. E é aí que o meio de campo fica embolado. Em primeiro lugar, porque o presidente passa à sociedade a noção de que um produto, para ser barato e popular, tem de ser ultrapassado. Ora, os carros populares fabricados pela Coréia do Sul, pelo Japão e pelos Estados Unidos apresentam recursos tecnológicos de última geração, como injeção eletrônica, suspensão ativa, painel inteligente e catalisadores. Com tudo isso, chegam ao consumidor por cerca de US$ 4000.

Como isso é possível? O segredo dessa equação está em dois fatores: economia de escala e competição. Se tenho escala (um número sempre crescente de consumidores) e enfrento muita concorrência no mercado, vou ter de investir em tecnologia para tomar meu produto mais moderno, atraente e barato do que o do concorrente. Em seus países de origem, os fabricantes possuem economia de escala e travam uma feroz competição entre si. Quem não inovar, quem não investir em tecnologia “dança”. Não se pense, pois, que os japoneses fabricam produtos cada vez mais avançados e baratos pensando nos consumidores estrangeiros. Eles precisam sobreviver, antes de tudo, em seu próprio mercado. Quando um produto japonês invade as lojas do mundo inteiro é porque já conquistou milhares – milhões – de consumidores no Japão, o que justifica, remunera e incentiva a busca de mais e mais qualidade.

Assim, é fácil compreender por que a volta do Fusca, ao contrário do que deseja o presidente, é um passo atrás. Se deseja oferecer aos brasileiros carros novos e baratos, Itamar não precisa contentar-se com modelos obsoletos, como o Fusquinha. Basta que crie as condições necessárias para que a indústria automobilística possa produzir aqui, e em pouco tempo, carros modernos, inovadores e baratos.

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Hoje, o mercado consumidor de carros novos no Brasil é minúsculo, menos de 1 % da população. Com toda a isenção de impostos criada para o Fusca, o máximo que poderá acontecer é esse número chegar a 1%, o que significa 1,5 milhão de consumidores. Esse número não gera escala suficiente no mercado interno para induzir a indústria a investir em tecnologia. Para que o cidadão brasileiro possa aspirar à condição de consumidor, precisa, primeiro, ter salário, casa, saúde, alimentação e educação. Esses são fatores básicos para que as pessoas possam obter bons empregos e, conseqüentemente, bons salários. Se se empenhar em viabilizar programas de incentivo a esses setores, Itamar estará criando empregos de forma rápida, principalmente na construção civil e na agricultura, e, ao mesmo tempo, estará atendendo a necessidades mínimas da população e lançando as bases para que, um dia, tenhamos aqui uma sociedade com grande número de consumidores.

Aí, sim, será possível sonhar com um Brasil no qual as montadoras briguem ferozmente para lançar, a cada ano, automóveis cada vez mais modernos, seguros, limpos e baratos.

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