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Olha lá a Europa

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h33 - Publicado em 30 nov 1998, 22h00

Flavia Sekles, de Washington

Empresas privadas, sonhando alto, planejam vôos de lazer além da estratosfera para 2001. Há quem duvide que os projetos se realizem tão cedo, mas a era do astroturismo começa a se desenhar.

Que tal flutuar a 100 quilômetros de altitude com a Terra azul a seus pés? A agência de viagens Zegrahm, de Seattle, oferece, por 100 000 dólares, passeios de cerca de 3 horas na SkyCruiser (Cruzador Celeste), com direito a seis dias de treinamento em solo. Outras dezesseis empresas também querem levar turistas ao espaço. “Devemos ter um vôo até 2001”, prevê Peter Diamandis, presidente da Fundação X-Prize, que incentiva a exploração comercial do Cosmo.

O prazo é curto. Talvez curto demais. O problema é que, até agora, não existe uma nave capaz de viabilizar o empreendimento. Mesmo o Cruzador Celeste não saiu das pranchetas da indústria aeroespacial Vela-Tech, na Virgínia. Para levar gente lá para cima, a lazer, é preciso construir um veículo totalmente reutilizável – que suba e desça inteiro, sem descartar os seus caros pedaços pelo caminho. Caso contrário, o negócio torna-se economicamente inviável. Mesmo que tal embarcação espacial seja construída na semana que vem, vai demorar para entrar em operação. “Passar por todas as exigências de segurança deve levar anos”, diz Hank Price, porta-voz da Administração Federal de Aviação (FAA, na sigla em inglês), o órgão que controla o uso do espaço aéreo americano.

Seja como for, as empresas fazem seus projetos em ritmo acelerado. Existem 24 esboços de espaçonaves, não só para turismo, mas para colocar satélites em órbita, cuidar de sua manutenção ou fazer pesquisas. A primeira, chamada Proteus, começou a ser testada em outubro, no Deserto Mojave, no Estado de Nevada. “Quando Charles Lindbergh atravessou o Atlântico pela primeira vez num avião, em 1927, mudou a mentalidade da época”, diz Peter Diamandis. “É o que estamos tentando fazer: mostrar que o espaço não é mais só para astronautas.” Agora é pagar pra ver.

Cruzeiro rápido

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A agência Zegrahm promete passeios de 2 horas e 30 minutos a 100 quilômetros de altitude, para o ano 2001. O veículo, orçado em 150 milhões de dólares, foi desenhado pela empresa Vela-Tech, da Virgínia, que espera iniciar a construção no final de 1999. Terá dois estágios: um avião a jato que decola e uma nave acoplada, o Cruzador Celeste, dotada de motores de foguete. Ambos retornarão à Terra. O problema é que o avião a jato terá de levar o Cruzador até 70 quilômetros de altitude. O recordista em altitude, hoje, o SR-71, da Nasa, vai só até 30 quilômetros. Além disso, qualquer veículo espacial novo precisa da aprovação da FAA – Administração Federal de Aviação, que controla o uso do espaço aéreo americano –, o que pode levar anos.

A viagem do turista pioneiro

O governo americano não quer atrapalhar a iniciativa privada. Ao contrário, deseja estimular a exploração do espaço. Tanto é que, em 1997, o Congresso aprovou uma nova lei, a Commercial Space Act, reduzindo as vinte licenças exigidas anteriormente para exploração privada a uma única, a ser concedida pela FAA. Cabe ao órgão acompanhar os testes dos novos veículos, estabelecer normas mínimas de segurança das viagens e treinar controladores de vôo a grandes altitudes.

Encorajadas, diversas empresas apostam em ousadias maiores até do que levar excursões acima da estratosfera. No Japão, a companhia Shimizu, de Tóquio, já projetou uma colônia de férias ancorada a 320 quilômetros de altitude. E a rede americana de hotéis Hilton idealizou um resort lunar com 5 000 quartos (veja ao lado). Os especialistas assistem a esses arroubos com algum ceticismo. “As viagens mais longas dependem de desenvolvermos uma tecnologia especial para reduzir os custos de construção e transporte de estruturas espaciais”, adverte Barbara Stone, engenheira do Departamento de Conceitos e Tecnologias Avançadas da Nasa. “Isso pode acontecer só em meados do próximo século.”

Mesmo assim, já há gente fazendo as malas. Sessenta candidatos a astroturistas pagaram à empresa texana Civilian Astronauts 5 000 dólares por uma vaga nos primeiros vôos da nave Mayflower, uma das que pretende ir até a estratosfera. “Tudo bem, não tenho garantias de que o vôo saia”, admitiu à SUPER o passageiro australiano Digby Tarvin, um engenheiro de 40 anos que sonha com o espaço desde criança. “Mas o dinheiro está bem empregado. O espírito aventureiro é que faz a diferença entre um turista e um pioneiro. E eu me sinto um pioneiro.”

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Antes do embarque

A ida de John Glenn ao espaço, aos 77 anos, prova que não é preciso ser super-homem ou mulher-maravilha para chegar lá.

“Qualquer um que ande de montanha-russa pode embarcar numa viagem acima da estratosfera”, afirma Eric Anderson, vice-presidente da Space Adventures, uma das agências que oferecem vôos espaciais para um futuro próximo. A afirmação é válida, pelo menos por ora. Afinal, não existem normas de saúde para alguém se tornar astroturista, só porque até hoje ninguém saiu da Terra a passeio. “É muito diferente de astronautas profissionais, que precisam de saúde perfeita para trabalhar durante o vôo”, explica à SUPER Duane Ross, chefe da Divisão de Astronautas da Nasa. Enquanto a regulamentação não sai, as agências exigem, por precaução, exames médicos, mas garantem que só os cardíacos serão barrados. De resto, o astroturista vai ter um tempo para se acostumar aos desconfortos de uma viagem espacial antes de embarcar. O treinamento em solo inclui exercícios em aparelhos que imitam a pressão exercida pela aceleração da nave durante a subida, duas vezes maior que a força gravitacional aqui na superfície. E técnicas para resistir às náuseas causadas pela sensação de falta de gravidade lá no alto. No caso, pouco provável, das viagens longas, uma coisa se sabe: como os músculos se atrofiam com a falta de gravidade, já que não precisam dar sustentação ao corpo, os viajantes terão de fazer muita ginástica. O turismo espacial de longa distância vai ter que incluir malhação a bordo.

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Colônia flutuante

Na estação orbital, o turista poderá dar uma voltinha livre pelo espaço.

Não são só os americanos que sonham. A empresa Shimizu, de Tóquio, estuda a construção de uma colônia orbital para 350 hóspedes, a 320 quilômetros de altitude. O hotel daria uma volta completa na Terra a cada hora. Os hóspedes poderiam até navegar pelo espaço, presos por cabos. Um pacote de cinco dias (dois de treinamento e três no espaço) sairia, hoje, por 1,5 milhão de dólares. A construção desse delírio espacial custaria 28 bilhões de dólares. Mas a Shimizu espera que o preço caia para cerca de 1 bilhão de dólares nas próximas décadas.

Friozinho na barriga

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Roteiro de um passeio bem acima das nuvens.

1. O avião a jato parte de um aeroporto com a nave de passageiros SkyCruiser acoplada.

2. Depois de 40 minutos, alcança 70 quilômetros de altitude e faz um passeio de 1 hora.

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3. Mais 20 minutos e o aparelho chega a 80 quilômetros de altitude. A nave se solta e o jato volta para o aeroporto.

4. O Cruzador Celeste segue o vôo sozinho e atinge os 100 quilômetros de altitude.

5. Durante 2 a 3 minutos, desliga os motores e cai em queda livre. É aí que os turistas experimentam a falta de gravidade.

6. Ligados os motores, a nave reentra na camada mais espessa da atmosfera e realiza um último passeio panorâmico, a 70 quilômetros de altura.

7. Cerca de 2 horas e meia depois do início da viagem, a nave enfim pousa no aeroporto de onde partiu.

Hotel mil estrelas

Conheça os planos mirabolantes para fazer um Hilton na Lua.

1. Arranha-céu no vácuo

Há quem pense em hotéis subterrâneos. Mas a cadeia Hilton estuda investir numa versão ao “ar livre”, com 5 000 quartos.

2. Pára-raios cósmico

O teto e as paredes seriam blindados para protejer os hóspedes da radiação cósmica que cai direto sobre o solo lunar, devido à falta de atmosfera no satélite. O edifício deve ter isolamento contra extremos de frio e calor. Na Lua, as temperaturas oscilam entre 150 graus Celsius negativos, à noite, e 150 positivos, sob o sol.

3. Prato feito

A comida viria desidratada da Terra ou de plantações dentro de estufas construídas debaixo da cúpula protetora.

4. Diversão aquática

O Hilton promete até uma praia artificial, com areia, e um lago de água extraída das rochas dos pólos lunares. Isso é que é otimismo.

5. Do Sol à Lua

O hotel funcionaria à base de energia solar colhida por imensos painéis como este.

6. Atrações lá fora

Turistas bem equipados poderiam passear pelo satélite e conhecer as formações geológicas mais bonitas a bordo de grandes jipes.

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