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PDA: Computador para viagem

Saem às ruas os assistentes pessoais digitais, ou PDAs, aparelhos que juntam microcomputadores às agendas eletrônicas e, por telefone, podem se comunicar com o mundo.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h39 - Publicado em 31 dez 1993, 22h00

Fátima Cardoso

Quando os laptops saíram às ruas, há pouco menos de uma década, começava a desmoronar a ditadura da tomada. Para deleite dos viciados em trabalho ou em quinquilharias eletrônicas, o computador passou a ser levado para todo lado, tendo seu uso limitado apenas pelo tempo que dura a bateria. A família do laptop fez sucesso e cresceu (ou seria encolheu?) com os notebooks e palmtops, micrinhos cada vez mais compactos e fáceis de carregar. Porém, ainda que se pudesse levá-los a qualquer lugar para escrever textos, anotar e consultar dados, fazer cálculos e por aí afora, os computadores portáteis continuavam presos a um fio toda vez que precisavam se comunicar com outros.

Os laptops cresceram, multiplicaram-se e se liberaram. A nova geração da computação móvel ganhou um nome pomposo — assistentes pessoais digitais, também conhecidos por PDA, a sigla em inglês. São aparelhos que combinam o poder do microcomputador com telefone, fax, pagers (nome moderno dos antigos bips), correio eletrônico e ainda incorporam agenda e bloco de anotações. Têm tudo o que um cidadão moderno precisa no seu dia-a-dia. E podem fazer isso tudo em movimento. Lançado há poucos meses nos Estados Unidos, o EO Personal Comunicator, exemplo mais acabado dessa tecnologia, tem um modelo com telefone celular integrado, que possibilita ao dono conversar, receber ou transmitir fax, mensagens e dados de outro computador, onde houver uma rede celular por perto.

“Acreditamos que os comunicadores pessoais terão tanto impacto nas comunicações entre as pessoas quanto o telefone no começo do século”, disse Alain Rossmann, presidente da EO Inc., ao anunciar seu novo produto. Parece exagero, mas a indústria da informação móvel está apostando alto nesse mercado. A previsão é que 1 milhão de pessoas em todo o mundo usarão PDAs neste ano, número que deverá crescer para 100 milhões até o ano 2000.

Os PDAs podem se tornar companheiros inseparáveis de gente que não vive sem informações à mão, seja na cidade, no meio do mar ou do mato. Já estão previstas para entrar em operação, daqui a cerca de quatro anos, redes de satélites que se comunicarão diretamente com telefones celulares. Aí vai ser uma festa, principalmente se os PDAs fizerem tudo o que prometem.

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Quem inventou o termo PDA foi a Apple, que assim definiu seu computador de bolso Newton. Fartamente divulgado, longamente esperado, o Newton chegou com a promessa de organizar a vida de uma pessoa com a mesma facilidade que se anotam compromissos numa agenda de papel. Ainda não a cumpriu — coisas de uma tecnologia incipiente —, mas lançou a sedutora idéia de um faz-tudo digital.

O Newton não tem teclado, e sim uma caneta com a qual se escreve sobre a tela. Exacerbando a filosofia Macintosh, suas funções são controladas por ícones, apresentando uma interface amigável com o usuário. Mesmo quem nunca viu um computador não tem como errar ao começar a manipulá-lo (desde que saiba inglês, é claro). Para abrir a agenda de telefones, coloca-se a caneta sobre o desenho de uma agendinha onde está a palavra “names” (nomes). O calendário, obviamente, é aberto quando a caneta encosta na figura de um calendário onde se lê “date” (data).

O grande charme do Newton é a possibilidade de escrever textos com a caneta diretamente na tela, o que torna a interação com a maquininha um gesto tão informal e primitivo como escrever a lápis no papel. Esse, porém, é também seu ponto fraco. Dificilmente ele traduz corretamente a grafia humana. Segundo os fabricantes, leva algumas semanas até o aparelho pegar o jeito do usuário e entender o que ele escreve. Enquanto isso não acontece, um teclado chamado à tela pode ser usado para as anotações, feitas com a ponta da caneta sobre as teclinhas, no mais puro estilo cata-milho.

Quando o Newton finalmente entende a letra do dono, aí faz maravilhas. Ele traduz o texto de um fax para letras de fôrma, procura na agenda de telefones o nome da pessoa para quem deve enviá-lo, chama o número e transmite o fax, tudo sozinho. Para que ele entre na linha telefônica, basta acoplar um pequeno modem. Se é preciso conversar com outros Newtons por perto, nenhum fio é necessário. Os aparelhos vêm com um emissor de raios infravermelhos que permite a troca de dados entre eles a pequena distância, dentro da mesma sala.

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Outros equipamentos, mais independentes, conseguem se comunicar mesmo soltos pelas ruas. A computação móvel deu seus primeiros passos com o NewsStream, um aparelhinho da Motorola parecido com um pager que, em vez de receber mensagens, recebe dados e os transfere ao computador. Os dados vêm pelas ondas de rádio, como nos pagers, passam pelo NewsStream e entram na memória do micro, seja um laptop, notebook ou palmtop.

Mesmo desconectado do micro, o aparelho armazena até 32 Kbytes de informação (equivalente a 32 000 caracteres) e depois os repassa. É muito útil para quem precisa ter dados sempre atualizados, como lista de preços para vendedores. Mas só funciona numa direção, sem a capacidade de transmissão, e apenas no alcance do serviço de radiochamada, geralmente os limites de uma grande cidade.

A Motorola também está desenvolvendo, nos Estados Unidos, um novo tipo de telefone celular, chamado pela empresa de PCS, sigla para serviço de comunicação pessoal. Ele será tão pequeno quanto os celulares de bolso e, além de voz, transmitirá dados de computador. O alcance será de apenas alguns quilômetros, bem menor que os atuais celulares, já que a idéia é colocar centenas de pequenos retransmissores numa cidade. Assim, enquanto o celular funciona melhor em espaços abertos, o PCS poderá ser usado tranqüilamente dentro de túneis, prédios, elevadores, ou mesmo dentro de casa. A idéia é que, em vez de ter um telefone doméstico, outro no trabalho e um celular para quando está na rua, uma pessoa teria apenas um PCS.

No horizonte dos equipamentos de comunicação pessoal, não basta falar, é preciso transmitir dados. Esse dom, incorporado a um PDA, resultou no EO Personal Communicator. Essa pequenina empresa, a EO, nasceu há pouco mais de dois anos com a exclusiva missão de desenvolver o PDA. Seus aliados são três gigantes da comunicação, que não iriam ficar de fora de um mercado tão promissor: a americana AT&T e as japonesas Matsushita e Marubeni. Um pouco maior que o Newton, o EO 440 tem a grande vantagem de poder ser acoplado a um telefone celular, que vem como opcional.

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A capacidade de processamento dos EO é comparável à dos laptops. O processador 992010 Hobbit, desenvolvido pela AT&T, proporciona ao modelo 880, segundo a fábrica, um desempenho semelhante aos micros equipados com processadores Intel 486SX. Para facilitar ainda mais a vida do usuário, todo o software já vem instalado e integrado, o que permite o envio de fax ou correio eletrônico simplesmente apontando na agenda de telefones o nome do destinatário.

Quando recebe um fax, o usuário do EO pode fazer anotações com a caneta digital na tela e enviá-lo de volta. Duas pessoas com esses aparelhos, em locais distantes, podem chamar o mesmo documento em ambas as telas enquanto conversam ao telefone. Alterações no documento, feitas por qualquer uma das pessoas, aparecem simultaneamente nas duas telas.

O poder de comunicação de um PDA com telefone é imenso. Na rua, é possível entrar em qualquer base de dados, que se acessa com um micro ligado à rede telefônica por um modem. Representantes de vendas anotam pedidos, transmitem à empresa e recebem atualizações de listas de preços e produtos. Médicos que trabalham nos setores de urgência dos hospitais podem acessar diretamente o computador central e ler na tela resultados de exames dos pacientes, e ainda discuti-los com outros médicos.

Se hoje a caneta é o apelo de simplicidade dos PDAs, o futuro pode tornar as tarefas ainda mais simples, se a tecnologia de reconhecimento de voz evoluir a ponto de caber num aparelhinho desses e funcionar com eficiência. Bastaria, então, conversar com a máquina para que ela executasse as tarefas, ditando um fax ou pedindo “me dê o telefone do Zé”. É possível que, além da voz, sejam trocadas também mensagens em vídeo. Certo mesmo, em poucos anos, é o uso das maquininhas em qualquer canto da Terra, quando redes de satélites dedicadas a telefones celulares entrarem em operação.

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Dois projetos já estão em andamento para a construção desses satélites. Um deles é o Iridium, da Motorola, que prevê 66 satélites em órbita baixa, a cerca de 760 quilômetros de altitude. O outro é o Globalstar System, das companhias Loral e Qualcomm, fabricantes de sistemas espaciais. Este prevê 48 satélites girando em torno da Terra a 1 400 quilômetros de altitude. O Iridium leva para a escala mundial a idéia do PCS, quando uma pessoa terá um número de telefone pelo qual poderá ser chamada em qualquer lugar do planeta.

Assim como o Iridium, o sistema Globalstar pode acessar as linhas telefônicas públicas, não sendo portanto a comunicação exclusiva entre os assinantes do sistema. O Globalstar transmite, além de voz, fax e dados. Junte-se a isso um PDA com um modem para telefone, e estará estabelecido o contato imediato por voz ou computador com todo o planeta.

Qualquer pessoa é usuária potencial dessa futura tecnologia, a começar pelo entusiasta do trabalho que não pode passar um dia sem notícias do escritório. No meio do mar, nas montanhas do Himalaia ou na selva amazônica, o acesso à comunicação de voz e dados será muito mais fácil e barato do que com os pesados equipamentos que hoje se comunicam por satélite. Quem anda por lugares ermos, como moradores de áreas distantes de centros urbanos, motoristas de caminhões ou pessoas a passeio por estradas distantes, pode usar o sistema até como segurança, chamando socorro em caso de acidente. Quando essa tecnologia for realidade, o mundo se tornará um lugar bem pequeno.

Para saber mais:

A liberdade no mundo dos computadores

(SUPER número 12, ano 4)

Fórmulas da imagem

(SUPER número 4, ano 6)

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Supercomputadores mais rápidos, para quê?

(SUPER número 4, ano 7)

A inteligência do chip (SUPER número 3, ano 8)

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