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Por dentro do KC-390: a maior joia da Embraer

Enquanto boa parte das forças aéreas no mundo continua usando o veterano Hercules como cargueiro, o Brasil foi pelo caminho mais difícil. E deu certo.

Por Tiago Vinholes
Atualizado em 22 dez 2017, 16h57 - Publicado em 22 jun 2017, 15h57

 

F-18 Hornet, F-35, Mirage 2000, Mig-35, Gripen NG. Se um dia você fundar um país e precisar de caças para as suas forças armadas, vai ter um monte de maravilhas tecnológicas como essas à sua disposição, que você poderá importar dos EUA, da França, da Rússia ou da Suécia por alguns bilhões de dólares a frota. Mas nem só de caças se faz uma força aérea. Você também vai precisar de helicópteros, de monomotores a hélice (para treinar os pilotos de caça) e, sobretudo, de cargueiros.

São os cargueiros que, com o perdão do trocadilho, carregam o piano de boa parte das operações militares: transportam soldados, armas, munições, gasolina, comida, blindados de combate e, não menos importante, ainda servem de posto de gasolina aéreo para os caças, já que são capazes de reabastecê-los com a ajuda de um tubo que liga o tanque do cargueiro ao do caça em pleno voo. Um avião de combate operando no máximo da potência chega a consumir uma tonelada de combustível a cada dois minutos. Os reabastecimentos aéreos, então, são fundamentais em combate.

Mesmo com essa importância toda, o mundo dos cargueiros nunca teve o glamour técnico do dos caças. Há mais de 60 anos, qualquer país que procure um cargueiro militar tem praticamente uma única opção nesse segmento, o lendário Lockheed Martin C-130 Hercules, um avião a hélice criado em 1954 – numa época em que o Fusca ainda era um importado de luxo no Brasil.

E é aí que entra o KC-390, o avião que protagoniza estas páginas. Enquanto outras nações vêm substituindo seus antigos Hercules por versões um pouco mais modernas do velho turboélice – caso das poderosas forças aéreas dos EUA e França -, a Força Aérea Brasileira (FAB) escolheu o caminho mais difícil: substituir sua frota de Hercules por um cargueiro completamente novo. Brasileiro. Feito pela Embraer.

A FAB encomendou 28 jatos, ao custo de R$ 7,2 bilhões. A expectativa da empresa, de qualquer forma, é bem maior: transformar o KC-390 no novo Hercules, na aeronave que todas as forças aéreas do mundo identificam com a palavra “cargueiro”. Isso significa, de acordo com a Embraer, vender 700 desses aviões mundo afora nos próximos 20 anos.

Trator com lasers

A Embraer jamais tinha produzido algo parecido com o KC-390. A empresa é especializada em jatinhos executivos e aeronaves comerciais de pequeno porte, para até 130 passageiros. Diante desses inocentes aviões civis, o KC é um trator – com lasers.

Para começar, parte da fuselagem dele é blindada, principalmente no cockpit dos pilotos. Outra defesa da aeronave são os sistemas para despistar mísseis. O avião lança tiras de alumínio no ar para iludir os foguetes guiados por radar, e fogos de bengala (espécie de fogos de artifício), que ludibriam os mísseis guiados por calor – os mísseis passam a correr atrás dos fogos, deixando o avião em paz. Tais sistemas de defesa, aliás, são dois recursos clássicos do Hercules, que um postulante a sucessor dele não poderia deixar de ter.

Também à imagem e semelhança do Hercules, o KC conta com uma rampa na parte de trás. Ela pode ser aberta durante os voos para lançar paraquedistas ou suprimentos, o que exige reforços na fuselagem para lidar com o tranco da turbulência. As asas, assim como no Hercules, ficam na parte superior da fuselagem, não no meio. Isso aumenta o espaço interno do avião e evita que os detritos das pistas rústicas danifiquem as turbinas – coisa que o Hercules não tem.

Outra coisa que o Hercules não tem é o fly-by-wire, aquele sistema eletrônico que substitui os velhos cabos e sistemas hidráulicos dos aviões de projeto mais antigo – caso do próprio Boeing 737, o avião mais utilizado no mundo.

O fly-by-wire é carne de vaca nos aviões comerciais há algumas décadas. Mas, como qualquer sistema eletrônico, sempre passa por atualizações pesadas. O fly-by-wire do KC, então, é de última geração. Conta com o que os especialistas chamam de full fly-by-wire. Ou seja: todos os controles das aeronaves são elétricos. Isso deixa o avião mais leve, pois dispensa cabos e outros mecanismos de comando – e o resultado é uma aeronave mais econômica, que gasta menos combustível.

Outra vantagem em relação ao Hercules é a velocidade máxima. Graças aos motores a jato ele alcança 870 km/h, contra 600 km/h do rival americano movido a hélice. O KC também tem mais capacidade de carga: 23 toneladas, contra 20 do Hercules. Com isso, ele consegue abrigar até 80 soldados, ou 74 macas – para o caso de missões de resgate de feridos.

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Além das tarefas militares, aliás, o KC fará operações de busca e de combate a incêndios florestais. Todas essas tarefas descritas poderão ser realizadas pelo mesmo avião, bastando apenas modificar sua configuração interior, como incluir tanques de combustível ou de água.

(Jonatham Sarmento/Superinteressante)

Turbinas para a economia

O KC-390 começou a ser projetado em 2007, e só saiu definitivamente do papel em outubro de 2015, quando aconteceram os primeiros voos de teste. Mas ele ainda não entrou para a frota da FAB. Natural. Antes de um novo avião entrar em operação para valer, ele precisa passar por testes severos. Desde o início dos testes, os protótipos do KC-390 acumularam 720 horas de voo. Mesmo assim, a aeronave ainda precisa testar uma série de funções – principalmente as mais delicadas, como reabastecimento aéreo e pouso no gelo. Pelas contas da Embraer, o cargueiro deve estrear na Força Aérea em 2018, já com as 28 unidades que foram encomendadas.

O único comprador confirmado além da FAB é a Força Aérea de Portugal, que está em negociações adiantadas para adquirir cinco unidades –   Outros países já demonstraram interesse: Argentina, Colômbia, Chile, República Tcheca, Suécia e Alemanha. Se o avião fizer sucesso mesmo lá fora, as vendas podem gerar mais de R$ 200 bilhões em valores de hoje para a Embraer. E, de quebra, para boa parte da indústria brasileira. A montagem de aviões desse porte, afinal, demanda minas de titânio para a produção dos trens de pouso, placas de alumínio para a fuselagem, mais cientistas da computação, mais engenheiros. Enfim, ajudam a economia a levantar voo – justamente o que o País mais precisa neste momento. Boa sorte, KC.

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