Tecnologia pra quê?
A humanidade pode estar desviando recursos produtivos e sua própria capacidade criativa para o incremento da economia do supérfluo.
Oscar Motomura
O ser humano é um ser que cria. É da sua natureza. Quando Einstein dizia “eu só quero entender como Deus pensa, todo o resto é trivial”, ele se referia à sua busca quanto ao entendimento das leis da Criação. Quais princípios estão na base de tudo o que existe, que já está criado e que está sendo criado?
Gradualmente, século após século, década após década, ano após ano, cada vez mais rapidamente vamos descobrindo como tudo funciona. E vamos usando nossas descobertas para criar. Criar o quê? Tudo o que imaginamos. Veja como exemplo o que aconteceu na década de 60. Milhares e milhares de cientistas foram desafiados a criar soluções para resolver a equação “homem na Lua” – algo até então considerado impossível. Uma quantidade extraordinária de tecnologias foram criadas para fazer o homem chegar lá, tecnologias que, depois, acabaram incorporadas em nosso dia-a-dia, em nossas lavouras, indústrias, escritórios, em nossos lares.
É assim. Imaginamos replicar a natureza e criamos a agricultura. Soltamos nossa imaginação, queremos voar e criamos máquinas voadoras. Queremos ir à Lua e criamos meios de chegar lá. Estamos, o tempo todo, criando meios de viabilizar o impossível. E tecnologia nada mais é que a extensão do nosso dom de criar. Criamos a partir do que imaginamos e visualizamos. Criamos pelo nosso pensamento. Pela energia de nossos sentimentos, da nossa vontade e motivação. Pelo que comunicamos. Pela força de nossas palavras. Criamos pela força da energia que mobilizamos através de nossas ações. Mas criamos para quê? Com que propósito estamos usando o dom de criação com o qual fomos presenteados? Para que criamos novas tecnologias, novos produtos, novos jeitos de morar, de cozinhar, de movimentar, de transportar, de comunicar? Se não houver um propósito em tudo isso, podemos estar brincando perigosamente com o nosso dom de criar.
Essa brincadeira pode até estar nos levando a melhorar a vida e a potencializar o conforto. Mas de poucas pessoas.
Mesmo inadvertidamente, podemos estar desviando recursos produtivos – e nossa própria capacidade criativa – para o incremento de uma economia do supérfluo, em vez de potencializar o processo de criação do que falta a muitos e muitos. Do que a sociedade precisa hoje? Do que mais a nossa casa maior – o próprio planeta – está precisando? Nossos seis bilhões de vizinhos no grande condomínio Terra estão bem? Nosso planeta está bem? A manutenção está sendo bem-feita?
Ao pensarmos sobre essas questões simples, conseguimos sentir a extensão da equação essencial: para que propósito o ser humano deveria estar dirigindo seu poder de criação? Não deveríamos todos nós, juntos, estar buscando a criação do melhor para todos?
Além de produtos, tecnologias, serviços, o ser humano também cria coisas mais abstratas. O sistema de comércio entre países, acordos para preservar o meio ambiente, sistemas de trocas, de governo, de gerenciamento, de produção, de distribuição, jeito de organizar as coisas etc. Alguns desses jeitos de fazer as coisas acontecerem são saudáveis, justos, éticos. Outros já nascem doentes, satisfazem interesses ocultos, desrespeitam valores universais. Criamos armas de guerra, produtos de destruição, produtos que prejudicam a saúde e o bem-estar das pessoas. E assim vai…
Mas estamos vivendo um momento único. Talvez, pela primeira vez, tenhamos condições – em termos de avanço do conhecimento e de tecnologias já desenvolvidas – de viabilizar uma vida digna e harmoniosa para os seis bilhões de pessoas. O mundo hoje não tem problemas com falta de criatividade, de tecnologias e de soluções. Nosso problema maior está exatamente na consciência do problema maior. Na consciência da megaequação que a humanidade precisa resolver: a viabilização do mundo ideal dos sonhos de todos nós. O resto são equações subsidiárias, periféricas, pequenas – muitas delas supérfluas.
Em plena Era da Informação e do Conhecimento, nunca foi tão fácil e rápido perceber as conseqüências de nossas escolhas. A esperança está em nossa consciência. Em aprender com nossos acertos e erros. Já é tempo de fazermos um balanço de tudo o que a humanidade já testou até hoje. É hora de um salto quântico. O Paraíso na Terra já não é um sonho. É algo possível já, hoje. E, de certa forma, podemos dizer que isso começa em casa. Só depende de nós.
Oscar Motomura é diretor geral da Amana-Key, organização especializada em produtos de conhecimento e inovações em gestão e estratégia