Terra doce lar
O surgimento do Homo sapiens em nosso planeta é resultado de uma feliz (e muito rara) combinação de fatores ¿ água, ar, temperaturas amenas e uma órbita bem-comportada.
Rowilson Quinete
No século XVI, o polonês Nicolau Copérnico desferiu um golpe devastador na vaidade humana. Ele provou que a Terra, nossa casa, não é o centro do Universo nem, ao menos, ocupa algum lugar especial no firmamento. O progresso posterior da Astronomia colocou em dúvida a crença de que o nosso planeta tem o monopólio da vida e da inteligência. Parece inconcebível supor, hoje em dia, que a Terra seja o único lugar, na vastidão do Cosmo, a abrigar seres sofisticados, capazes de mandar foguetes ao espaço, dançar a macarena e clonar ovelhas.
Na contramão do senso-comum, muitos cientistas começam a achar que a Terra pode, sim, constituir um caso único no Universo. A evolução que culminou com o surgimento do Homo sapiens não passaria, segundo essa hipótese, de uma seqüência quase inacreditável de coincidências. Absurdo? Façamos as contas. Nossa galáxia, a Via Láctea, contém algo como 200 bilhões de estrelas. Quantas delas, porém, produzem energia suficiente para aquecer um planeta? Menos de 20%, calculam os astrônomos. Sobram, ainda, entre 10 e 20 bilhões de estrelas como o nosso Sol. Mas o Homo sapiens se desenvolveu num planeta, não numa estrela.
Chance remota
Os planetas conhecidos até agora são quentes demais, ou frios demais, ou não possuem atmosfera. Mesmo num mundinho aconchegante como o nosso, com água, ar, temperaturas amenas e uma órbita bem comportada, o processo evolutivo fez trilhões de tentativas até o surgimento do Homo sapiens. Dos quatro reinos da natureza, só um produziu seres capazes de raciocinar – o reino animal. Os animais se dividiram em dezenas de linhagens (ou filos), das quais apenas uma evoluiu no sentido da inteligência, a dos cordados. Destes, apenas um ramo, o dos vertebrados, seguiu adiante. Entre os vertebrados, só os mamíferos atingiram formas superiores de vida. Das 24 ordens em que se dividem os mamíferos, apenas uma – a dos primatas – conseguiu gerar criaturas inteligentes, os hominídeos. Em suma: nós somos seres extremamente improváveis .
Não é preciso ser um cético para concordar que planetas hospitaleiros como o nosso não se encontram em qualquer esquina do Cosmo. Vida inteligente, menos ainda. O que podemos afirmar, com certeza, é que a existência da vida na Terra é, no mínimo, um fenômeno muito raro. Cuidemos bem do nosso planeta, portanto.
* Rowilson Quinete é colaborador da SUPER. Ele espera que os caçadores de ETs provem, em breve, que seu artigo está equivocado.