Terraformação: a reengenharia planetária
Diante da dificuldade em achar planetas hospitaleiros, cientistas namoram a idéia de modificar o ecossistema dos planetas vizinhos. É um projeto para o próximo século, mas não é impossível.
Igor Fuser
Vênus: o inferno mora ao lado
O planeta mais próximo da Terra lembra o Inferno dos velhos livros de catecismo. Estéril como um deserto, tem uma temperatura média de 400 graus centígrados e chuvas permanentes de ácido sulfúrico. Um astronauta que tentasse desembarcar em Vênus seria imediatamente esmagado pela imensa pressão de sua atmosfera, 90 vezes mais pesada do que a da Terra e, todo o líquido do corpo viraria vapor. Mas os partidários da “terraformação” têm um roteiro para “domar” um ambiente tão hostil:
Marte: vizinho difícil
Aqui o desafio é diferente. A temperatura, na linha do Equador, oscila em torno do zero grau ao meio-dia, despencando para 80 graus negativos à noite. Os maiores obstáculos são a atmosfera rarefeita, a ausência quase total de oxigênio e o excesso de radiação ultravioleta do Sol, que inviabiliza a sobrevivência de qualquer organismo. O que pode ser feito para tornar Marte habitável para os humanos?
1 – Nuvens de algas, geneticamente preparadas para sobreviver nas difíceis condições do planeta, são espalhadas pela sua superfície. O objetivo: modificar a composição química da atmosfera.
2 – Guarda-sóis gigantes, de 1 000 quilômetros de diâmetro, são colocados em órbita sobre o planeta, criando sombras que imitam o ciclo de uma “noite” e um “dia” a cada 24 horas.
3 – O excesso de oxigênio na atmosfera é combinado com o hidrogênio de asteróides de gelo importados dos arredores de Júpiter para formar oceanos de água. Um ou dois séculos depois do início do processo, os terráqueos poderão passear pelas montanhas de Vênus sem geladeiras portáteis – e até achar o lugar agradável. Nas praias recém-formadas, o clima será comparável ao de uma ilha do Caribe.
1 – Para aumentar a captação de luz solar, é possível trazer grandes quantidades de uma fuligem escura existente nas duas pequenas luas de Marte, Fobos e Deimos, e espalhá-la pela superfície.
2 – Caso se confirme a existência de geleiras eternas no solo, elas poderão ser derretidas para formar oceanos.
3 – Na falta de geleiras para derreter, resta a alternativa de importar água dos asteróides.
4 – A vida animal e vegetal é introduzida em pequenos “oásis” irrigados pelo gelo derretido ou pela água importada.
5 – Calor adicional é obtido com a instalação de gigantescos espelhos espaciais encarregados de refletir e jogar a luz do Sol sobre o planeta. Aos poucos, a atmosfera marciana se tornará respirável e a temperatura, embora ainda muito fria, não será incompatível com a atividade humana. Um terráqueo que esteja acostumado com o frio e o ar rarefeito dos Andes ou do Cáucaso se sentirá à vontade em Marte depois da reforma de seu ecossistema.