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Um futuro sem efeito colateral

Químico tunisiano Hatem Fésse cria as primeiras nanocápsulas brasileiras, cujo tamanho é microscópico e não provoca efeitos colaterais.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h35 - Publicado em 31 jan 1991, 22h00

Trata-se de uma cápsula de remédio, ou seja, uma bolota gelatinosa recheada de medicamento. A diferença está no tamanho: “Seria preciso cerca de quarenta cápsulas para preencher a espessura de um fio de cabelo”, anuncia o químico tunisiano Hatem Fésse, professor da Universidade de Paris, orgulhoso exibindo as primeiras nanocápsulas brasileiras, fabricadas durante a recente visita do cientista à Universidade de São Paulo. Há dez anos, Fésse estuda os chamados medicamentos do futuro, no laboratório dirigido pelo farmacêutico Francis Puisieux. No ano passado esse cientista recebeu a Ordem Nacional do Mérito do governo francês por suas pesquisas em farmacotécnica – área da ciência encarregada de otimizar a utilização das substâncias ativas em um remédio. “ Nossa meta é acabar com os efeitos colaterais provocados durante o uso dos medicamentos”, conta Fésse, que trouxe na bagagem as últimas novidades do renomado laboratório parisiense.

Uma boa notícia é o fim daquela velha história de tomar um comprimido, por exemplo, de duas em duas horas. Nos últimos anos, os cientistas têm conseguido avanço com os chamados comprimidos de bioadesão, que literalmente grudam na parede do estômago. Neles, o princípio ativo – o remédio propriamente dito – fica confirmado em uma espécie de esqueleto feito com material porosos insolúveis. “Quando menos o número e o tamanho dos poros, mais lenta é a liberação do remédio, que pode durar mais de doze horas”, explica Fésse. Isso no entanto, não evita distúrbios no aparelho digestivo, normalmente a maior vítima de efeitos colaterais provocados pelos medicamentos, por causa do contato com as drogas de uso oral.“A vantagem das nanocápsulas é que, de tão pequeninas, elas atravessam o intestino intactas.

Com sua aplicação, em medicamentos normais ou naqueles de bioadesão, ninguém correrá o risco de sentir azia depois de tomar um antiinflamatório”, exemplifica Fésse.
Como qualquer substância absorvida no intestino, as nanocápsulas seguem para o fígado. Ali, células imunológicas, os macrófagos, as engolem e trituram, liberando finalmente o seu conteúdo. Mas os químicos franceses pretendem muito mais do que apenas evitar irritações gástricas. Nanocápsulas com drogas anticancerígenas então sendo injetadas nos vasos capilares que irrigam as células de tumores. “A cápsula êmbolo que interrompe a circulação por alguns instantes, enquanto solta o princípio ativo”, descreve Fésse. “Com isso, além de receber uma grande dose de remédio, a célula cancerosa tende a morrer por falta do oxigênio do sangue.”
Também para destruir tumores, os pesquisadores vêm experimentando em ratos nanocápsulas recheadas de moléculas de magnetita. Atraindo por um ímã, colado na região doente do corpo, o metal obriga as minúsculas cápsulas a se concentrarem na área do tumor. Outra experiência envolve cápsulas pilotadas por anticorpos monoclonais, criados por meio da Engenharia Genética, capazes de dirigi-las para determinado órgão.”Apenas, precisamos ter certeza de que a droga será liberada da cápsula quando chegar ao sítio de ação”, diz Fésse. Segundo a farmacêutica Ida Caramico Soares, professora da USP, que estagiou com Fésse em Paris, hoje se sabe que, quando alguém toma um remédio, boa parte da droga é absorvida no meio do caminho. “Além de evitar efeitos colaterais, dirigir uma droga ao seu lugar certo é uma maneira de torná-la mais eficaz, usando ao mesmo tempo uma dosagem menor”, conta Ida, que, agora, pretende criar nanocápsulas para doenças comuns no Brasil, como a esquistossomose.

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