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Escola carioca combate o preconceito com o ensino público

SUPER viajou a convite da Fundação Lemann, realizadora da pesquisa Excelência com Equidade com apoio do Itaú BBA e do Instituto Credit Suisse Hedging-Griffo

Por Thaís Zimmer Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 19 out 2016, 23h47 - Publicado em 3 dez 2015, 17h15

Emeio à Barra da Tijuca, região nobre do Rio de Janeiro, alunos da Escola Municipal Rodrigues Alves seguem para uma praça com caixas de livros para distribuir. “Hoje tô sem dinheiro, filho”, diz uma moradora. “Não é venda, não. É só uma doação”, explica Pedro Henrique Barbosa, aluno do 8º ano.

A cena reflete um preconceito que o próprio programa de doação de livros foi pensado para desconstruir. “A escola pública ainda é vista como um lugar de crianças selvagens”, conta o comerciário Martin Hruby, 53, pai de Rodolpho, do 9º ano. “Mesmo em dias de calor, meu filho sai de casa com uma blusa por cima do uniforme para não ser identificado como aluno de escola pública. A gente precisa mudar isso”, diz.

Quebrando muros

O que quase ninguém sabe é que, em meio aos condomínios de luxo do bairro, está uma das melhores escolas da cidade. Avaliada no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) com nota 6,7, a Rodrigues Alvez fica acima da média das escolas particulares no Brasil. Quem frequenta as aulas, na maioria, são filhos de porteiros, empregadas domésticas e vigias que trabalham na região.

As manhãs de roda de leitura e doação de livros foram uma das iniciativas da Rodrigues para aproximar alunos e moradores e ajudar a romper as barreiras sociais ainda tão presentes no bairro e na cidade. “A ideia é que os alunos se acostumem a usufruir do espaços públicos que também são deles, e assim ampliem suas relações com a comunidade”, explica a professora de leitura Tânia Souza Lourenço.

A qualidade do ensino convenceu algumas famílias de classe média a apostar no ensino público. É o caso da tradutora Daniella Dias e do publicitário Felipe Barcellos, que decidiram juntos com a filha Lia sair do colégio particular. Antes de tomar a decisão, Daniella pesquisou pelo IDEB de diversas escolas da região, mas descobriu que nem sempre o índice é sinônimo de qualidade de ensino. “Algumas escolas têm ótimas notas no IDEB mas não são acolhedoras, ou têm dificuldades em lidar com questões sociais e emocionais dos alunos”, explica.

Na Rodrigues Alves, Lia conseguiu conciliar a acolhida com a qualidade de ensino. Atualmente, ela participa de diversas atividades extracurriculares dentro da escola como cinebooks e clubes de leitura e ainda aproveita para fazer novos amigos. Além de encontrar qualidade de ensino, Lia diz gostar de conviver com a diversidade. “Na escola particular, eu ficava muito presa a um mesmo universo.”

Com apenas 228 alunos, a Rodrigues tem turno integral. Os professores trabalham 40 horas semanais, fato incomum no ensino público brasileiro, em que 70% dos professores trabalham menos de 40 horas por semana e 46% trabalham em mais de uma instituição. O quadro de professores é pequeno, com apenas 12 docentes, e estável. A maioria deles tem cursos de especialização ou mestrado. “A grande vantagem de dessa dedicação integral é criar uma relação  próxima entre os professores. Fazemos tudo juntos. Pensamos em projetos para escola mesmo no nosso tempo livre. É uma relação de trabalho e também de muita amizade”, diz a professor de biologia Amanda Regina da Fé.

Uma das disciplinas que está no currículo do Ginásio Carioca, mas que a Rodrigues Alves aprimorou, é o Projeto de Vida. A professora auxilia os alunos a planejar o futuro. Entenda:

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Na diretoria, a música clássica ligada o dia inteiro dá a tônica da gestão. Com formação em Educação Física, Filosofia e Direito, Alexandre Magno Borja iniciou uma reforma administrativa em 2008, remanejando os professores descomprometidos com os resultados. “Aqui, ficaram apenas aqueles que tinham vontade de fazer uma escola melhor. Queria um time forte e aberto a novas experimentações”, explica.

Ele também reaproximou os pais da escola. Em vez das tradicionais reuniões, propôs um grande café da manhã. “Os pais têm que se sentir parte do processo, além de compartilhar ideias e soluções para os problemas da escola, que são também da comunidade”, explica.

Com a casa em ordem, a coordenação pedagógica se abriu para um novo modelo de ensino: o Ginásio Experimental Carioca (GEC). Lançado em 2011 pela Secretaria Municipal, o programa propõe turnos integrais de ensino com atividades extracurriculares, como cineclubes, oficinas de HQ, xadrez, aulas de idiomas, teatro e disciplinas de projeto de vida, que ajudam na orientação vocacional. 

Em quatro anos de GEC, o IDEB da escola dobrou e os problemas de indisciplina diminuíram drasticamente. Hoje, boa parte dos alunos que sai do Rodrigues Alves ingressa em escolas concorridas e tradicionais do município, como Sesc e Pedro II. Os alunos comemoram: “É bom estudar onde se tentam coisas novas e se experimenta. Isso motiva a gente a fazer o mesmo na vida”, conclui Lia.

Boas práticas

– Docentes com dedicação exclusiva
– Leitura como prática rotineira
– Humanização no contato com os alunos

Conheça um pouco da EM Rodrigues Alves

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