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Turismo espacial

"A Terra é azul." Em 2011 vai fazer 50 anos que Yuri Gagarin avisou isso ao mundo. Do dia em que o primeiro homem viu o planeta do lado de fora até hoje, 514 pessoas visitaram o espaço. Muita gente? Não. Isso só parece um número alto porque nos acostumamos a pensar que ir até lá em cima é algo tão distante quanto saber o que acontece depois da morte. Mas isso está para acabar. Mais de 300 pessoas comuns já compraram sua passagem para sair da Terra. Chegou a hora: os voos comerciais para o espaço vão decolar. Com esta nave aqui. E mais rápido do que você imagina.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h53 - Publicado em 24 jun 2010, 22h00

Alexandre Versignassi e Salvador Nogueira

Ir até o espaço é caro. Tipo, caro mesmo. Culpa dos motores colossais de que você precisa. Colocar um ônibus espacial em órbita, por exemplo, exige foguetes com uma potência equivalente à de 1 260 Boeings 747. E cada avião desses tem tanto motor quanto 1 000 carros de rua. Para gerar tudo isso, os foguetes consomem 9 toneladas de combustível por segundo. E só dá para usar uma vez: viajou para o espaço, é jogado fora. Assim cada lançamento queima alguns milhões de dólares. É por isso que o espaço nunca foi coisa para o nosso bico.

Até já houve turistas acima do céu. Sete pessoas, desde 2001. Se você quiser virar a 8ª logo, faça como eles: pague US$ 30 milhões para a Space Adventures, provavelmente a agência de viagens mais exclusiva do mundo. Ela é quem vai fazer o meio de campo entre o seu dinheiro e o governo russo, dono dos foguetes que levam você até lá em cima. Bem lá em cima: até a Estação Espacial Internacional, a 400 quilômetros de altura, onde dá para passar uns dias vendo a Terra do lado de fora e fingindo que está ajudando os astronautas. Tudo enquanto se diverte com a sensação de que a lei da gravidade foi revogada. Só cuidado para não fazer como a iraniana Anousheh Ansari, que perdeu o gloss dela no meio das máquinas da estação. Nem para torrar dinheiro como Charles Simonyi, o ex-executivo da Microsoft que criou o Office. Ele gostou tanto da coisa que foi duas vezes para lá, uma em 2007, outra em 2009. Nisso, Simonyi já passou 25 dias na estação espacial. Três vezes mais que Marcos Pontes, o astronauta brasileiro.

Seja como for, esses são voos à moda antiga, com foguetes caros que queimam mais dinheiro em dois segundos do que você ganharia em duas vidas. Só que uma revolução está acontecendo, e é ela que está para transformar o turismo espacial em algo viável. Ou menos inviável.

Começou com uma ideia do engenheiro espacial Burt Rutan. Obcecado por tornar as viagens espaciais mais baratas, ele encontrou o caminho: queimar a etapa do voo que mais queima combustível. A hora em que o foguete gasta para valer é logo que sai do chão e precisa atravessar as camadas mais baixas, e grossas, da atmosfera. Tanto que os aviões comerciais voam a 10 quilômetros de altitude, porque, se andassem mais baixo, gastariam querosene demais. Burt, então, criou uma nave que pega carona num avião (um veículo bem mais econômico que um foguete) e é lançada lá do alto, no ar ultrarrarefeito. Nisso ela gasta pouco. Outra: para ir ao espaço, não é preciso voar 400 quilômetros até a estação. Cem quilômetros, a área conhecida como “borda do espaço”, já está bom demais. Ali seu corpo flutua e você vê a Terra como uma grande bola de gude. Com 300 quilômetros a menos, a conta diminui. Pelo menos a ponto de a viagem sair por menos de US$ 1 milhão.

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Em 2004 esse projeto saiu do papel. Burt gastou cerca de US$ 30 milhões para construir a primeira versão de sua nave, batizada como Space Ship One. Colocou-a no espaço por 6 minutos e trouxe de volta. Duas vezes. Além de mostrar que, sim, uma engenharia espacial mais econômica era possível, Rutan ganhou o Ansari X Prize. Era um presente de US$ 10 milhões oferecido por Amir Ansari (marido da Anousheh, a que perdeu o gloss). Ganhava quem fizesse a primeira nave privada capaz de chegar à borda do espaço. Bom, ele gastou US$ 30 milhões e ganhou US$ 10 milhões. Prejuízo, certo? Certo. Mas sem problema. Primeiro, o dinheiro era de Paul Allen, o homem que fundou a Microsoft com Bill Gates – se até seu ex-funcionário Charles teve bala para ir duas vezes à estação, imagina ele.

E Allen saiu ganhando também: vendeu os direitos do projeto ainda em 2004 para Richard Branson, com Rutan e equipe no pacote. Ficava com o bilionário inglês, dono da Virgin Airlines, a tarefa de transformar a Space Ship One, que só tinha lugar para dois pilotos, em uma frota de naves comerciais de passageiros. Questionado sobre o preço do projeto, Branson disse na época: “A Vodafone não paga US$ 100 milhões para patrocinar a Ferrari? Estou fazendo a primeira companhia aérea espacial da história por menos que isso”. Hoje Branson já gastou 4 vezes isso no projeto de sua Virgin espacial, a Virgin Galactic, e não só patrocina como é dono de uma equipe de F-1, a Virgin Racing, mas aí é outra história. Só que os resultados estão saindo. Em março de 2010 aconteceu o primeiro teste da nova versão da máquina, que agora tem um nome mais bonito: VSS Enterprise. Foi só um voo de algumas horas com a nave mãe carregando o foguete, mas o suficiente para mostrar que o projeto é sólido. Talvez o bastante para levar turistas já em 2011.

Branson vendeu 330 passagens até agora – uma delas para seu amigo de F-1, Rubens Barrichello, que, veja só, deve se tornar o 2º brasileiro no espaço (mais um vice para aquele que é o 2º entre os que têm mais segundos lugares entre os pilotos em atividade). O bilhete custa US$ 200 mil – caro, mas ok para quem compra Porsches, pelo menos. O objetivo é ter 5 naves fazendo duas viagens por dia com 6 passageiros cada. Mas e aí? Existe tanta gente a fim (e capaz) de pagar tudo isso?

Difícil saber. A agência Grande São Paulo Turismo, umas das que comercializam bilhetes para os voos de Branson, não tinha vendido nenhuma passagem até o fechamento desta edição. A Virgin Galactic, por outro lado, diz que mais de 80 mil pessoas se declararam interessadas, registrando-se no site da empresa. E ela não está sozinha no mercado.

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Corrida especial
Envolvida numa aura de mistério, uma empresa chamada Blue Origin, instalada nos arredores de Seattle, trabalha para levar seus próprios turistas em voos de 100 quilômetros de altitude, a partir de 2012. Seu fundador é o também bilionário Jeff Bezos, dono da Amazon.

O projeto é tocado com absoluta discrição, mas já se sabe que o pessoal da Blue Origin não está para brincadeira: eles criaram um sistema de segurança para ejetar os passageiros das naves em caso de pane na hora do lançamento. Isso já existe nos foguetes de hoje. Mas o deles parece tão eficiente que a própria Nasa doou US$ 3,7 milhões para que a empresa desenvolvesse melhor o sistema. A companhia tem também planos de saltar para altitudes maiores, talvez enviando gente para estações espaciais particulares. Tá, é verdade que hoje em dia só existe uma estação espacial, fruto da cooperação de 15 governos nacionais. Mas amanhã será bem diferente.

Olha só: uma empresa chamada Bigelow Aerospace acabou de colocar este anúncio na internet: “Procuram-se astronautas”. Eles querem gente com pelo menos 10 anos de experiência, ao menos um voo espacial no currículo e de preferência alguma especialidade. Para quê? As tarefas são muitas. Desde a captação de patrocínios, até o desenvolvimento de um programa particular de treinamento de astronautas, passando por consultoria no desenvolvimento de estações espaciais.

É isso aí: o negócio deles é montar estações privadas. A diferença é que as da Bigelow serão infláveis, mais econômicas. Se a tecnologia se mostrar segura, será um golpe de mestre no desenvolvimento dessas estruturas. É que uma estação inflável pode ser mandada vazia à órbita, ocupando pouquíssimo espaço em um foguete. Aí é só encher com ar comprimido lá em cima e ok: vira uma estação até maior que a de hoje.

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Coisa de maluco? Pois saiba que a empresa já lançou dois satélites protótipos, que funcionaram muito bem, obrigado. E até 2015 essa empresa de Las Vegas espera realizar o sonho de desenvolver o primeiro hotel espacial. De hotelaria seu fundador entende. Robert Bigelow fez fortuna com uma cadeia de hotéis de baixo custo e diz estar disposto a gastar até US$ 500 milhões. Até agora, foram US$ 180 milhões.

Além de funcionar como hotéis em órbita, as habitações infláveis podem servir até para a construção de algo mais ambicioso: bases turísticas na Lua. Exagero? Sim. Mas, se você considerar que já existem reservas de passagens para a Lua, talvez a ideia não soe tão utópica. A Space Adventures está vendendo lugares por US$ 100 milhões. Se fechar dois passageiros, a missão sai, usando foguetes russos. E aí? Já tem alguma coisa marcada para o feriado?

O espaço para o povo
Como deverá ser o primeiro voo turístico lá para cima

1. CATAMARÃ
A nave vai decolar de um “espaçoporto” no Novo México. O formato de catamarã é para permitir o maior comprimento de asa possível (42 m, quase o de um Boeing 747). Assim ela consegue chegar 50% mais alto que um avião comum.

2. CEGONHÃO
A viagem espacial mesmo começa aqui. Quando o catamarã está a 15 200 m de altitude, ele solta sua carga: a nave espacial propriamente dita. A espaçonave cai suavemente, com os motores desligados. E aí….

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3. PARA O ALTO…
Segura! Ligam o foguete, uma versão miniaturizada daqueles que impulsionam as naves espaciais comuns, e a nave salta para 4 200 km/h em 8 segundos.

4. …E AVANTE
A subida acontece num ritmo de 1,1 km por segundo, mais de 3 vezes a velocidade do som. A viagem é curta. Em um minuto a nave chega a 110 km de altitude. É o espaço sideral. Hora de desligar os motores.

5. G-ZERO
A nave não gira em torno da Terra. Só cai numa trajetória curva, quase como se estivesse em órbita. Nisso você não sente seu peso. É como estar num elevador em queda livre, só que mais chique. São 6 minutos flutuando.

6. DE VOLTA
Hora de descer. O piloto embica a nave para baixo e levanta as asas. Isso aumenta a área de contato dela com o ar. E ela cai mais como uma pena que como uma bala (senão explodiria). 25 minutos depois, ela está de volta ao chão.

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Hotel espacial
Seu lar (bem) longe de casa

1. A TEORIA
O empresário Robert Bigelow está construindo estações espaciais infláveis (com tecnologia comprada da Nasa). Elas ocupam pouco espaço nos foguetes e podem ficar do tamanho de uma casa, servindo de hotel.

2. A PRÁTICA
Já existem duas destas em escala reduzida, com 4 m de comprimento, em teste na órbita da Terra. A ideia é mandar uma maior nos próximos anos. E abrir de vez o hotel em 2015.

Para saber mais

Tourists in Space: A Practical Guide
Erik Seedhouse, Praxis, 2008.

Space Ship One: An Ilustrated History
Dan Linehan e Arthur C. Clarke, 2008.

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