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Pessoas com depressão podem ter certa rede neural maior que a média

Descoberta poderia ajudar em intervenções terapêutica antes mesmo dos primeiros sintomas da doença aparecerem. Entenda.

Por Eduardo Lima
Atualizado em 4 set 2024, 13h45 - Publicado em 4 set 2024, 12h00

A ciência ainda não consegue entender plenamente como a depressão afeta o cérebro, ou qual a diferença nas conexões cerebrais de alguém com o transtorno. Mas um novo estudo avança na compreensão da doença ao mostrar que, nos depressivos, uma rede neural específica tem o dobro de tamanho se comparado com pessoas saudáveis. 

O estudo, que pode servir para novas intervenções terapêuticas contra a depressão, foi publicado nesta quarta (4) na revista Nature. Cientistas da Universidade de Medicina Weill Cornell, de Nova York, usaram uma técnica de neuroimagem chamada mapeamento de precisão funcional (precision functional mapping, em inglês) para analisar as funções cerebrais de 178 pessoas.

141 dos participantes do estudo foram diagnosticados com depressão, enquanto 37 pessoas sem o transtorno serviram como grupo de controle. Depois, os dados coletados foram comparados com informações de bancos de dados já existentes.

Essa pesquisa faz parte de uma nova leva de estudos na área da depressão que tem mudado como pensávamos sobre a doença. “Pesquisas bastante sérias mostram que a depressão é muito mais complexa do que só uma falta de serotonina no cérebro”, explica a psicóloga e especialista em neurociência Giovanna de Oliveira Santos, que não participou do estudo recente.

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“Não tem como dizer que a depressão atua numa área do cérebro específica, ou é causada por algum desbalanço químico específico”, diz Giovanna. “A depressão é um conjunto de fatores biopsicossociais.”

Mas, afinal: qual é o papel da rede neural estudada na pesquisa? E o que o seu tamanho signifia?

Redes neurais

A pesquisa foca em no circuito frontoestriatal, a rede neural que dobrou de tamanho no cérebro da maioria das pessoas com depressão analisadas. 

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As redes neurais são “grupos de neurônios que se conectam entre diferentes regiões do cérebro e tem uma ação conjunta”, explica Giovanna. Às vezes essas células não se ativam ao mesmo tempo, mas elas podem ser vistas trabalhando juntas numa determinada função.

Esse conceito de “redes neurais” é um dos campos de estudo mais importantes da neurociência hoje. “A gente ficou preso por muito tempo numa noção de áreas do cérebro, cada uma com sua função específica”, diz a psicóloga. “Hoje, cada vez mais a gente percebe que não é assim, e que provavelmente o cérebro atua a partir dessas redes, com diferentes áreas atuando em diferentes aspectos de cada função.”

O circuito frontoestriatal, que aumenta nos cérebros depressivos, é um feixe de neurônios que conecta o lobo frontal ao corpo estriado, uma estrutura cerebral que fica debaixo do córtex. O córtex é a seção visível e reconhecível do cérebro, aquela parte de cima toda enrugadinha.

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O estriado se conecta a uma série de funções cognitivas e motoras diferentes, até ao sistema límbico, associado às emoções. Já o lobo frontal lida com comportamentos complexos, como raciocínio lógico e a capacidade de planejamento.

Esse circuito une as duas coisas, então é provável que isso afete comportamentos complexos e, possivelmente, emocionais. A expansão dele, no cérebro de pessoas depressivas, se mostrou estável durante o tempo, sem ser afetada por mudanças de humor.

Esse tipo de análise pode ajudar no rastreio da depressão. O crescimento do circuito frontoestriatal – que vai mudando de tamanho, forma e localização espacial no cérebro – poderia ser identificado em crianças antes que os sintomas depressivos aparecessem na adolescência, por exemplo.

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Tratar depressão antes dos sintomas?

Mais estudos são necessários, segundo os cientistas, para determinar se essa rede neural maior é um biomarcador, ou seja, alguma substância orgânica no corpo que tenha relação com a incidência de alguma doença ou fenômeno.

Quando se detecta um biomarcador antes do sintoma, é possível testar novas estratégias para tratar o transtorno antecipadamente. No caso da depressão, isso poderia ajudar equipes de saúde a “atuar nos aspectos ambientais para auxiliar aquela pessoa a não desenvolver a doença”, segundo Giovanna. A ideia não é dar antidepressivo para alguém antes de manifestar sintomas, e sim proteger alguém de desenvolvê-los.

Mas ainda é cedo para cravar a hipótese do biomarcador. Pode ser só uma correlação, sem ter nenhum efeito de causa ou consequência na depressão.

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“Por muito tempo, se achou que a depressão seria uma falta de serotonina no cérebro, um neurotransmissor que media várias conexões em várias regiões diferentes no cérebro. Por algumas pesquisas já bastante sérias, a gente pode saber que é muito mais complexo que isso.”

Não tem como dizer que a depressão atua numa área do cérebro específica, ou é causada por algum desbalanço químico específico. A depressão é um conjunto de fatores. A hipótese mais trabalhada atualmente é que há algum tipo de predisposição para a depressão, já que pessoas diferentes passam pelas mesmas coisas e algumas desenvolvem depressão; outras, não.

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