O que é o “chip da beleza”, implante suspenso pela Anvisa
Os dispositivos não possuem bulas e nem comprovações científicas de eficiência. Dentre os efeitos colaterais, hipertensão arterial e AVC são ressaltados.
Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), proibiu a manipulação, comercialização, publicidade e o uso dos “chips da beleza”, um implante de terapia hormonal. A decisão refere-se aos implantes hormonais feitos em farmácias. Entenda o que são esses chips e porque eles devem continuar suspensos.
De acordo com a Anvisa, a medida é preventiva e foi tomada após denúncias de entidades médicas, como a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Essas denúncias indicam um aumento no atendimento de pacientes com problemas decorrentes do uso de implantes que combinam diferentes hormônios, incluindo substâncias sem avaliação de segurança para essa forma de aplicação.
Popularizados por meio das redes sociais, principalmente por influenciadoras digitais, os supostos chips da beleza são implantes subcutâneos, do tamanho de um palito de fósforo, que liberam hormônios lentamente no organismo do usuário. Eles são amplamente utilizados para emagrecimento, tratamento da menopausa, anti envelhecimento, redução da gordura corporal, aumento da libido e massa muscular.
Geralmente, são compostos por testosterona ou gestrinona, mas, com o manuseio sem regulamentação, também podem incluir estradiol, oxandrolona, metformina, ocitocina e NADH, entre outras substâncias. Os produtos não têm bula nem informações adequadas sobre farmacocinética, eficácia ou segurança. A única exceção é o Implanon, um implante de etonogestrel aprovado como anticoncepcional.
Sua atuação faz com que a testosterona (hormônio masculino) aumente. Neuton Dornelas, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, explica ao Correio Braziliense que, quando foram introduzidos ao mercado pela primeira vez, foram tidos como alternativas para o tratamento da endometriose. Com o passar do tempo e com a influência das redes, os chips se transformaram em uma indústria lucrativa.
O vice-presidente diz que o grande problema é que começaram a surgir complicações além das ginecológicas e endócrinas, se manifestando também na psiquiatria e cardiologia.
Entidades de saúde entraram com o pedido de suspensão em 2023. As alegações diziam que “casos de infarto agudo do miocárdio, de tromboembolismo e de acidente vascular cerebral vêm se tornando frequentes. Complicações cutâneas, hepáticas, renais, musculares e infecções estão associadas ao uso dos implantes. Manifestações psicológicas e psiquiátricas, como ansiedade, agressividade, dependência, abstinência e depressão são cada vez mais comuns.”
Além disso, solicitaram que a Anvisa fortalecesse o controle sobre o uso de esteroides anabolizantes e que a manipulação de medicamentos fosse regulamentada apenas na via de administração em que fossem registrados. Elas destacam que qualquer via diferente deve ser respaldada por dados científicos sobre eficácia, segurança e resultados a longo prazo.
Desde o ano passado, prescindir de terapias hormonais para fins estéticos é proibido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Esse tipo de implante não tem registro na Anvisa, mas mesmo assim era vendido e usado. A proibição partiu do ver da agência de que esses produtos não tinham garantia de qualidade, eficácia e muito menos segurança.
Além da descontinuação, a Anvisa também publicou um alerta, destacando os principais efeitos colaterais que o uso dos implantes pode causar. Dentre as complicações estão: Hipertensão arterial; Acidente vascular cerebral (AVC); Arritmia cardíaca; Crescimento excessivo de pelos em mulheres; Queda de cabelo; Acne; Alteração na voz; Insônia e Agitação.
A orientação da agência é para que quem possui o chip procure um médico. “Junto de uma avaliação com seu médico, é preciso verificar a necessidade de retirar ou acompanhar esse implante que está no paciente. Essa é uma avaliação médico-paciente”, afirma Marcus Aurélio Miranda de Araújo, gerente-geral de fiscalização da Anvisa, ao Jornal Nacional.
Os médicos alertam que não há dose segura para o uso de hormônios com fins estéticos ou de performance, e os efeitos colaterais dos implantes podem ser imprevisíveis e graves, superando quaisquer benefícios.
Paulo Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), considera a proibição um passo importante para proteger a população dos riscos de usos medicinais não comprovados.
“A decisão representa uma importante vitória na nossa luta pela saúde pública. Os implantes têm sido utilizados de forma inadequada e com riscos comprovados para a saúde”, disse o presidente, ao g1.