Mais músicas foram lançadas por dia em 2024 do que em todo o ano de 1989
Para ter uma ideia, levariam 30 anos para você escutar todas as músicas lançadas hoje. Entenda como essa dinâmica se reflete na indústria musical.
É impossível escutar todas as músicas novas que saem em um único dia. Seriam necessários, pelo menos, 30 anos para uma pessoa escutar os lançamentos que aconteceram hoje.
Desde que a última fase evolutiva dos aparelhos de áudio aconteceu – a mudança do CD para o MP3, e finalmente para os streamings e aplicativos –, existem poucos limites para a produção musical, e qualquer um pode publicar um novo som a qualquer momento. Por isso, o boom da música não é surpresa: hoje, há menos dificuldade em escrever, criar, gravar e publicar novas canções.
Inspirado nessa ideia, uma nova análise publicada pelo MusicRadar buscou entender o tamanho exato da margem de publicações.
Will Page, ex-economista chefe do Spotify, contou ao site que “mais músicas estão sendo lançadas hoje [em um único dia] do que no ano inteiro de 1989”. O Spotify, por exemplo, já alcança mais de 100 milhões de composições disponíveis.
Em qualquer dia da semana, cerca de 100.000 faixas de música são enviadas para o SoundCloud, Spotify, Apple Music e outros, disse Steve Cooper, ex-diretor da Warner Music Group, em um evento da Goldman Sachs. A casa dos cem mil foi reforçada mais tarde pelo CEO da Universal Music Group.
E não vai parar por aí. A investigação indicou que esse número só vai crescer. Um relatório divulgado pela MiDiA, uma empresa de análise de dados, mostrou que cerca de 75.9 milhões de pessoas se consideram criadores de música, e que até 2030 esse número deve chegar aos 198.2 milhões. Com a quantidade de artistas produzindo seu próprio material, existe uma demanda maior para os softwares de música, explica Page.
Qual o motivo para o crescimento?
Com as novas redes sociais, publicar uma música não exige um catálogo, registro ou produção externa. Basta ligar a câmera de um celular e cantar para quem quiser ouvir a letra e o ritmo pensado. E existe público que consome esse conteúdo.
O TikTok, por exemplo, oferece oferece aos pequenos artistas a chance de publicarem áudio e vídeo de forma rápida e fácil. E o algoritmo da plataforma se encarrega de distribuir o conteúdo.
O que isso significa para os criadores de música?
Por um lado, os artistas têm mais liberdade criativa e pessoal. Por outro, enfrentam menores ganhos devido aos micro-pagamentos das plataformas de streaming.
Além disso, os custos da produção musical são transferidos para os músicos. Enquanto as empresas de tecnologia e as plataformas de conteúdo se beneficiam dessa abundância de música barata, os músicos não recebem a mesma vantagem. Os artistas ganham cerca de $0,003 e $0,005 dólares por reprodução no Spotify – que pode variar conforme o tipo de assinatura dos ouvintes e a frequência de reprodução (distribuidores e gravadoras também podem abocanhar uma parte dos lucros).
Além disso, significa que fica cada vez mais difícil se destacar.
Em 2020, artistas independentes lançaram 9,5 milhões de faixas, contra 1,2 milhão de artistas de gravadoras. Por mais que plataformas de streaming ofereçam aos artistas pequenos a chance de se promover e disponibilizar suas músicas, “conseguir destacar a música de alguém entre as outras 99.999 faixas enviadas naquele dia é incrivelmente complexa [e] incrivelmente difícil”, disse Steve Cooper.
Como resultado, gravadoras e artistas alternativos sentem dificuldades para se promover dentro da indústria e construir uma base de fãs. De acordo com o Spotify, 80% dos artistas têm menos de 50 ouvintes mensais.
Para grandes artistas, a facilidade que existia em 1989 já não existe mais. Eles não permanecem tanto tempo no topo das paradas, graças ao grande número de novos lançamentos.
Um estudo de 2016 da Vox Media analisou o tempo entre o primeiro e o último pico dos 50 artistas mais bem classificados da Billboard Hot 100. No passado, artistas como os Beatles e Michael Jackson permaneceram por décadas nas paradas. Já artistas que fizeram sucesso após os anos 2000, como Taylor Swift e Adele, não mantiveram o mesmo tempo de destaque.