Por que um cientista acredita que a Nasa pode ter acidentalmente matado seres vivos em Marte
Na década de 70, o programa Viking tentou encontrar vida no Planeta Vermelho. Poderia o experimento ter, na verdade, matado micróbios marcianos?
Em 1975, a Nasa enviou dois aterrisadores (landers) para estudar Marte. As naves do projeto Viking pousaram no Planeta Vermelho e coletaram amostras do solo marciano em busca de sinais de vida.
Os resultados iniciais foram inconclusivos; alguns sinais de vida até pareciam presentes, mas, posteriormente, foi decretado que estes eram apenas fruto de contaminação vinda da Terra, já que outras pistas consideradas indispensáveis para a vida não foram descobertas. O saldo final foi que a missão não encontrou organismos no nosso vizinho cósmico.
Nas décadas que se seguiram, outras missões espaciais também buscaram por vida em Marte, sem sucesso. Até hoje não há prova nenhuma de aliens no planeta ao lado.
Mas e se havia vida sim naquelas primeiras amostras da missão Viking – e o experimento da Nasa, acidentalmente, acabou com ela? Parece teoria da conspiração ou história de ficção, mas um cientista acredita que essa possibilidade é válida.
Dirk Schulze-Makuch, astrobiólogo da Universidade Técnica de Berlim, na Alemanha, argumenta que os experimentos do projeto Viking tiveram uma falha crucial que pode ter arruinado a detecção de vida: o uso de água.
Na época do projeto Viking, o conhecimento da ciência sobre as condições de Marte era limitado. A tentativa de detectar vida foi feita da seguinte maneira: o robozinho coletou amostras do solo marciano e adicionou água e nutrientes a elas. Dessa forma, se houvesse microrganismos vivendo naqueles montinhos, eles iriam se multiplicar com a adição dos ingredientes e sinais de atividade microbiana seriam mais fáceis de serem detectados. É assim que se faz em amostras aqui na Terra.
Mais especificamente, em dois experimentos separados, o projeto buscou encontrar moléculas na amostra que representassem sinais de metabolismo ou fotossíntese naqueles pedaços de solo marciano, o que deduraria a presença de um ser vivo ali.
Em um comentário publicado na revista Nature Astronomy, porém, Schulze-Makuch argumenta que a água pode ter tido o efeito contrário. É que o ambiente de Marte é tão seco e árido que, se houver vida em sua superfície, ela provavelmente é adaptada para viver nessas condições, e o H20 pode, na verdade, matar os pobres micróbios afogados.
No artigo, intitulado “Podemos estar procurando vida marciana no lugar errado”, o cientista questiona a ideia de que, para se achar vida, deve-se necessariamente buscar água líquida. Ele lembra que, em ambientes muito áridos aqui na Terra, alguns microrganismos conseguem sobreviver obtendo quantidades de água por meio do sal – que, por sua vez, absorve a umidade do ambiente. Dessa forma, se houver vida em Marte, ela pode depender de amostras de sais, e não de líquido, e são elas que a Nasa deveria ficar de olho, argumenta Schulze-Makuch.
Segundo o pesquisador alemão, isso poderia explicar o porquê dos resultados iniciais da missão Viking apontarem para possíveis indícios de atividade microbiana nas amostras. Afinal, talvez de fato houvesse vida lá, mas ela durou pouco tempo e sucumbiu por conta da água excessiva.
Vale ressaltar que isso é apenas uma hipótese – Schulze-Makuch não tem como provar que isso de fato aconteceu. O objetivo do astrobiólogo é levantar uma discussão sobre como devemos procurar por vida em Marte, e quais tipos de experimento deveriam ser feitos para isso.
Dessa forma, o pesquisador usa o caso para argumentar que, em missões futuras, a Nasa deve considerar experimentos que levem em conta possíveis microrganismos adaptados a viver em ambientes super áridos. Ou seja: focar não só na água, mas também nos sais.
Além do comentário publicado na revista Nature Astronomy, Schulze-Makuch também explicou suas ideias em 2023 numa coluna no site Big Think.