Fósseis de cocô e vômito de dinossauros revelam como eles dominaram o mundo
Cientistas analisaram mais de 500 fósseis e descobriram o segredo do sucesso desses bichões.
Exames de fezes e de urina podem revelar segredos e detalhes da saúde de qualquer organismo – e por isso que os médicos os utilizam para diagnósticos. Também vale para os seres que viveram há milhões de anos e cujas “lembrancinhas” foram eternizadas pela fossilização. Isso mesmo: assim como ossos e restos mortais, outros elementos biológicos também podem ser mineralizados e fossilizados quando há condições favoráveis.
Fósseis de cocô, vômito e outros restos digestivos de dinossauros foram os objetos de estudo de uma equipe de pesquisadores que queria descobrir por que os dinossauros levaram mais de 30 milhões de anos de evolução para chegarem ao topo da cadeia alimentar. Por que tanto tempo, afinal?
O conteúdo retirado do sistema digestivo de fósseis é chamado de bromólito, enquanto as fezes são chamadas de coprólitos. Os cientistas analisaram mais de 500 espécimes dos dois tipos, identificando o que os dinossauros de 230 milhões a 200 milhões de anos atrás comiam. Esses foram dinos bem anteriores ao T. rex, que só viria a reinar mais de 100 milhões de anos mais tarde. O asteroide veio 150 milhões de anos depois.
“O material de pesquisa foi coletado durante um período de 25 anos. Levamos muitos anos para juntar tudo em um quadro coerente”, disse Grzegorz Niedzwiedzki, principal autor do estudo, em um comunicado. “Nossa pesquisa é inovadora porque optamos por entender a biologia dos primeiros dinossauros com base em suas preferências alimentares. Houve muitas descobertas surpreendentes ao longo do caminho.”
Na prática, acharam de tudo: de besouros a ossos, passando por até mesmo peixes meio digeridos. A partir dessas informações, foi possível montar uma teia alimentar em uma linha do tempo, que mostra quem comia quem durante o período Triássico – e como essa cadeia alimentar evoluiu ao longo do tempo.
A equipe utilizou vários métodos para a investigação, como microscópios de vários tipos, métodos cromatográficos e de espectrometria de massa para extrair e separar restos de plantas e uma técnica avançada chamada microtomografia síncrotron, que utiliza um acelerador de partículas para ver o interior dos fósseis em detalhes tridimensionais.
Essas informações foram combinadas com dados climáticos e outros fósseis para montar um cenário de quais animais e insetos estavam vagando pela Terra naquela época. Os fósseis revelam que o surgimento e a evolução dos dinossauros ao longo de milhões de anos foram influenciados por fatores que incluem mudanças climáticas e a extinção de outras espécies.
Mudanças climáticas perturbaram a flora, por exemplo, e favoreceram os dinossauros capazes de se alimentar de uma ampla variedade de fontes de alimentos, resultando no surgimento de dinossauros herbívoros maiores e mais diversificados no final do Triássico e de grandes dinossauros carnívoros no início do Jurássico.
“A maneira de evitar a extinção é comer muitas plantas, que é exatamente o que os primeiros dinossauros herbívoros faziam. O motivo do sucesso evolutivo deles é o verdadeiro amor por brotos de plantas verdes e frescas”, diz Niedzwiedzki.
Os fósseis estudados foram encontrados na Polônia, sendo que os primeiros dinossauros surgiram bem longe, na região do Rio Grande do Sul e Argentina. Por isso, esses estudos devem se repetir para entender a diversificação e a adaptação dos dinossauros anteriores, antes da migração para o norte da Pangeia.
“A análise de ‘quem comeu quem’ no passado é um verdadeiro trabalho de detetive”, diz Martin Qvarnström, coautor do estudo, em comunicado. “Infelizmente, as mudanças climáticas e as extinções em massa não são apenas uma coisa do passado. Ao estudar ecossistemas passados, obtemos uma melhor compreensão de como a vida se adapta e prospera sob condições ambientais variáveis”.