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Por Bruno Garattoni
Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.
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EUA autorizam teste com mosquitos geneticamente modificados

Empresa inglesa Oxitec poderá soltar na Flórida até 20 milhões de mosquitos OX5034, que foram criados para erradicar o Aedes aegypti; entenda a tecnologia, que já foi testada no Brasil e possui uma deficiência crítica

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Atualizado em 4 Maio 2021, 18h05 - Publicado em 4 Maio 2021, 16h57

Empresa inglesa Oxitec poderá soltar na Flórida até 20 milhões de mosquitos OX5034, que foram criados para erradicar o Aedes aegypti; entenda a tecnologia, que já foi testada no Brasil e possui uma deficiência crítica

A empresa inglesa Oxitec obteve autorização para soltar seu mosquito OX5034 na Flórida, onde o Aedes aegypti é considerado um problema, causando casos de dengue e zika. O teste começou no final de abril, quando caixas contendo ovos de OX5034 foram colocados em seis pontos da região. Os insetos devem começar a eclodir na primeira quinzena de maio. Cerca de 12 mil mosquitos serão liberados por semana durante os próximos três meses. Na segunda fase, que deve ocorrer até o final do ano, a Oxitec pretende soltar outros 20 milhões ao longo de quatro meses. 

A iniciativa tem sofrido forte resistência de associações de moradores e políticos locais. A Oxitec solicitou autorização para uso do mosquito na Flórida em novembro de 2011. E só agora, quase dez anos depois, recebeu permissão para liberar o inseto.

Em 2014, a empresa (uma spin-off que na Universidade de Oxford, que hoje pertence a investidores americanos) inaugurou uma fábrica em Campinas para cultivar o OX513, um antecessor do OX5034. A ideia – que explicamos detalhadamente numa reportagem da época – era soltar esse inseto na natureza, onde ele iria competir com o Aedes aegypti normal, acasalar com as fêmeas e gerar descendentes enfraquecidos, que morreriam antes de chegar à idade adulta. Ao longo do tempo, isso dizimaria a população de A. aegypti. 

O OX513 chegou a ser liberado nas cidades de Jacobina e Juazeiro, ambas na Bahia, onde a população de A. aegypti caiu mais de 90% nas áreas tratadas. Mas foram testes relativamente pequenos. O mosquito modificado nunca se mostrou uma opção viável para o combate ao Aedes em larga escala, por um motivo simples: ele é mais fraco que o mosquito natural, e por isso tem de ser liberado em enormes quantidades para que consiga competir com ele. 

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Somente os machos de OX513 (ou 5034), que não picam, são liberados. Eles só conseguem se reproduzir com as fêmeas se estiverem em maioria: é necessário soltar dez deles para cada Aedes normal presente no ambiente. Em Jacobina, por exemplo, a Oxitec liberou 1,8 milhão de mosquitos por mês, durante 27 meses – e estamos falando de uma cidade pequena, com 80 mil habitantes. Imagine a quantidade de mosquitos que seria necessária em lugares maiores. Acaba sendo inviável. Por isso, o produto da Oxitec nunca pegou. Ela chegou a abrir uma segunda fábrica em Piracicaba, cidade onde o mosquito também foi testado, mas decidiu fechá-la em 2018.   

Os mosquitos da Oxitec possuem duas alterações genéticas. A primeira faz com que eles produzam uma proteína, a DsRed2, com pigmento vermelho – isso serve como identificação visual, ajudando a diferenciar o inseto dos Aedes naturais. A segunda modificação é a mais importante. Ela faz o mosquito produzir a tTAV, ou “proteína transativadora de tetraciclina”, que funciona como mecanismo de segurança. O inseto só é capaz de sobreviver se for alimentado com tetraciclina (um antibiótico comum). Quando ele é solto, e deixa de ter acesso a essa substância, a tTAV desencadeia um processo degenerativo – e após 4 dias, em média, o mosquito modificado morre.

Essa característica é transmitida aos descendentes: os filhotes de OX513 (e de OX5034) já nascem dependentes de tetraciclina, e morrem rapidamente se não tiverem acesso a ela. Em tese, isso impede que o mosquito da Oxitec se reproduza de forma descontrolada na natureza, ou que seus genes acabem incorporados à população de Aedes natural. Mas, em 2019, um estudo publicado na revista Scientific Reports por um conjunto de cientistas brasileiros constatou exatamente isso: dependendo do local da coleta, 10% a 60% dos Aedes aegypti de Jacobina, na Bahia, haviam incorporado genes do OX513.

Na época, a Oxitec criticou o estudo. A empresa não negou sua principal conclusão, mas disse que o resultado era normal e esperado – e a presença de genes do OX513 na natureza “declinou com o tempo, depois que as liberações [de mosquitos] cessaram”.  

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