Assine SUPER por R$2,00/semana
Imagem Blog

Bruno Garattoni Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Bruno Garattoni
Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.
Continua após publicidade

Homem teve Covid-19 três vezes – e o coronavírus sofreu 66 mutações no corpo dele

Paciente de 45 anos, que acabou morrendo, tomava medicamentos imunossupressores - e desenvolveu a doença três vezes ao longo de 154 dias; alterações genéticas do vírus se concentraram na proteína spike, usada para infectar células humanas 

Por Bruno Garattoni Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 18 nov 2020, 17h54 - Publicado em 18 nov 2020, 15h56

Paciente de 45 anos, que acabou morrendo, tomava medicamentos imunossupressores – e desenvolveu a doença três vezes ao longo de 154 dias; alterações genéticas do vírus se concentraram na proteína spike, usada para infectar células humanas 

O caso, em que o Sars-CoV-2 surpreende pela persistência e pela rápida evolução, é narrado em um artigo científico publicado no New England Journal of Medicine e assinado por médicos da Harvard Medical School, do MIT e de um hospital de Boston, onde o homem foi internado. Tudo começa quando, acometido de febre, ele procura ajuda médica e é diagnosticado com Covid-19 (um teste do tipo PCR, o mais preciso, indica a presença do novo coronavírus no corpo dele).

O homem é admitido no hospital e recebe cinco dias de remdesivir, um antiviral que tem demonstrado alguma eficácia contra o Sars-CoV-2. No sexto dia, ele tem alta e vai para casa, com a orientação de permanecer isolado. Ele sofria de síndrome antifosfolipídica (SAF), uma doença em que o sistema imunológico ataca proteínas do sangue, levando à formação de coágulos. Por isso, estava tomando anticoagulantes, corticoides e, o mais relevante, medicamentos imunossupressores – que provavelmente afetaram a resposta do seu corpo ao vírus.   

No 39o. dia, exames PCR indicam que o homem está curado da Covid. Mas ele continua se queixando de dores abdominais, cansaço e dificuldade em respirar. No 68o. dia, é internado com baixo nível de oxigênio no sangue, e o PCR volta a indicar a presença do vírus no organismo. O homem recebe dez dias de remdesivir, e os exames PCR -que são repetidos várias vezes- dão negativo. Ele está curado, pela segunda vez, da Covid-19.

Continua após a publicidade

Mas um mês depois, no 105o. dia, o paciente retorna ao hospital com uma grave infecção de pele, e é internado mais uma vez. No 111o. dia, ele volta a apresentar baixo nível de oxigênio no sangue e precisa de ajuda mecânica para respirar. Os médicos temem que a síndrome antifosfolipídica esteja causando hemorragia nos alvéolos pulmonares, e por isso aumentam as doses dos medicamentos imunossupressores. No 128o. dia, mais de quatro meses após o diagnóstico inicial, exames novamente indicam a presença do Sars-CoV-2 no organismo. O paciente toma remdesivir por cinco dias, e o vírus desaparece.      

No 143o. dia, ele volta a se manifestar – e em níveis especialmente altos, que indicam uma terceira rodada de Covid-19. No 150o. dia, o paciente é entubado. Ele morre, de falência respiratória, no 154o. dia após a infecção. 

O caso chama a atenção pelas idas e vindas do vírus, e também pelas alterações genéticas que ele sofre ao longo do processo. Os cientistas coletaram amostras do vírus em quatro momentos: infecção inicial (T0, amostras colhidas nos dias 18 e 25), recidiva (T1, nos dias 75 e 81), segunda recidiva (T2, nos dias 128 e 130) e terceira recidiva (T3, nos dias 143, 146 e 152). O RNA das amostras foi sequenciado e revelou duas coisas. O paciente permaneceu infectado pela mesma cepa do vírus durante todo o processo, e o Sars-CoV-2 sofreu uma série de mutações.

Continua após a publicidade
Alterações genéticas detectadas no Sars-CoV-2 presente no paciente; análises comparam RNA desde o 18o. até o 152o. dia de infecção. (New England Journal of Medicine/Reprodução)

Entre a infecção inicial e a recidiva, houve alteração em 11 nucleotídeos (“letras” genéticas) do vírus, e eliminação de outras 9. Na etapa seguinte, entre T1 e T2, foram mais 10 trocas de nucleotídeo e 1 supressão. Entre T2 e T3, ocorreram 11 substituições e 24 remoções – totalizando 66 alterações genéticas no vírus. As mutações são esperadas, e ocorrem por erros na cópia do RNA quando o vírus se replica. Mas sua velocidade nesse caso específico, que os cientistas qualificaram de “evolução viral acelerada”, chamou a atenção – bem como a natureza das alterações, que se concentram em regiões críticas para a infectividade do vírus. 

A maioria das mutações ocorreu na região genética relacionada à proteína spike, que o vírus usa para se conectar às células humanasessa região corresponde a apenas 13% do genoma dele, mas concentrou 57% das alterações. O domínio ligante do receptor (RBD), que é a parte mais importante da proteína spike, reuniu 38% das mutações (sendo que responde por apenas 2% do RNA).

Continua após a publicidade

O caso impressiona. Mas vale ressaltar que ele é altamente específico -o paciente tomava medicamentos imunossupressores-, e provavelmente único. Além disso, embora a quantidade de mutações chame a atenção, elas não são necessariamente motivo de preocupação. 66 alterações não é um número grande considerando o tamanho do genoma do Sars-CoV-2, que é formado por aproximadamente 30 mil nucleotídeos. É pouco provável que as mutações, mesmo concentradas na proteína spike e no RBD, possam interferir na eficácia das vacinas que estão sendo desenvolvidas.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.