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Estudos científicos e reflexões filosóficas para ajudar você a entender um pouco melhor os outros e a si mesmo. Por Ana Prado

A suposta função evolutiva da depressão

Por Ana Prado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 4 set 2024, 15h20 - Publicado em 10 fev 2017, 20h12

Uma das características da depressão é ficar ruminando ideias obsessivamente. Você sofre por coisas que aconteceram num passado remoto ou recente, fica tentando encontrar explicações para as coisas – uma briga não resolvida, um relacionamento que não deu certo – e se afunda nesses pensamentos. Apesar de saber que eles lhe fazem mal, você não consegue sair dessa situação. Quem já passou por isso sabe como pode ser doloroso – e quem melhorou sabe como é libertador. A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que a depressão já é a doença mais incapacitante do mundo e atinge mais de 400 milhões de pessoas.

Mas alguns psicólogos têm sugerido uma abordagem diferente para a depressão: e se, em vez de ser um transtorno, uma desordem, ela tiver sua função evolutiva e for uma resposta estratégica para alcançar certos benefícios? Em um artigo recente publicado na revista Nautilus, o escritor Matthew Hutson explicou isso melhor.

Ali, ele diz que pesquisadores como Paul Andrews, psicólogo evolucionista da Universidade McMaster, e J. Anderson Thomson, psiquiatra da Universidade de Virginia, observaram que os sintomas físicos e mentais da depressão parecem formar um sistema organizado: “Há anedonia, que é a falta de prazer ou interesse na maioria das atividades. Há um aumento na ruminação, a obsessão sobre a fonte da própria dor. Há um aumento em certos tipos de capacidade analítica. E há um aumento no sono REM, um tempo em que o cérebro consolida memórias”.

Ordem na desordem

Para eles, esses sintomas não seriam aleatórios. Afinal, como é que uma suposta desordem pode produzir um conjunto tão organizado de respostas? A função dessa condição seria nos afastar das atividades ordinárias da vida e nos obrigar a concentrar na compreensão ou na solução do problema que desencadeou o episódio depressivo – como o relacionamento fracassado, por exemplo. Estudos com depressivos confirmam isso: “Em um estudo de 61 indivíduos deprimidos, 4 em cada 5 relataram pelo menos um lado positivo da sua ruminação, incluindo auto-percepção, resolução de problemas e prevenção de erros futuros”, diz o texto de Hutson.

Pensando assim, as terapias cognitivo-comportamentais podem funcionar justamente porque aceleram processos que poderiam ocorrer naturalmente ao longo de meses ou anos. Quem faz terapia talvez consiga compreender – e superar – um problema em bem menos tempo e com menos sofrimento do que faria sem ela.

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A função dos antidepressivos

Mas o que dizer dos antidepressivos? Se a depressão é uma resposta estratégica que estamos programados para ter, faz sentido combater seus sintomas? O antropólogo Edward Hagen, da Washington State University, é outro defensor dessa hipótese. No entanto, ele reconhece que, da mesma forma que seria antiético para um ortopedista tratar de um pé quebrado apenas engessando-o, sem prescrever remédios para dor, é preciso tratar os dolorosos efeitos da depressão.

Mas, assim como analgésicos sozinhos não resolvem o problema de um pé quebrado, ele diz que antidepressivos não deveriam ser receitados sem que se leve em conta as circunstâncias do paciente, como a morte de alguém próximo. Apesar de os remédios terem um efeito imediato importante, eles não podem, sozinhos, ajudar o paciente a resolver seus problemas a longo prazo.

Ninguém está dizendo, com isso, que a depressão seria uma evolução positiva ou útil. “Nós evoluímos para desejar consumir açúcar e gordura, mas essa adaptação é incompatível com nosso ambiente moderno de abundância calórica, levando a uma epidemia de obesidade. A depressão também pode ser uma condição incompatível”, diz o artigo.

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Além disso, os psiquiatras todos concordam que a doença não tem uma causa – embora geralmente tenha gatilhos – e que alguns casos são causados por falhas genéticas ou por padrões de pensamento negativos aprendidos durante episódios anteriores não resolvidos. Mesmo quando há um gatilho, é muito difícil encontrá-lo em meio a todas as nossas memórias, especialmente quando não existiu nenhum grande trauma. Você pode até ter ideia de qual episódio tenha sido, mas nunca vai conseguir testar isso objetivamente.

Por fim, é preciso frisar que estamos falando de hipóteses sem comprovação clínica – e, na verdade, nem se sabe se uma eventual comprovação trará alguma mudança na forma como se trata a depressão atualmente. Ainda assim, elas nos fazem pensar. Ter uma abordagem diferente pode ser útil a pesquisadores, profissionais da saúde e principalmente para aqueles que lutam contra a depressão no seu dia a dia.

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