A estrela mais luminosa da Galáxia
Eta Carinae emite 5 milhões de vezes mais energia que o Sol
Os astrônomos ainda não estão inteiramente seguros do que vêem quando apontam seus instrumentos na direção de uma pequena mancha esbranquiçada próxima do Cruzeiro do Sul. Mas estão certos de que no centro de tal mancha existe um astro monumental, de massa 100 vezes superior à do Sol. O seu vento – ou seja, a matéria que toda estrela emite, além da radiação – talvez seja o mais denso já visto, pois a cada 1 000 anos inunda o espaço à sua volta com matéria suficiente para construir uma estrela como o Sol.
Eta Carinae tornou-se famosa em 1850, quando superou o brilho de Sirius, a estrela mais brilhante do céu. (Sirius é a estrela aparentemente mais luminosa devido à sua proximidade com a Terra. Mas, em termos absolutos, Eta Carinae emite uma quantidade de energia muitíssimo maior.) Depois daquela “explosão” de brilho, ela desapareceu dentro de um casulo de poeira, matéria ejetada que ainda hoje pode ser vista como uma bolha cujo diâmetro é de 9 meses-luz (7,1 trilhões de quilômetros). Se essa bolha, em forma de amendoim, chamada de Homúnculo (foto ao lado), estivesse em volta do Sol, envolveria os planetas, simplesmente vaporizando-os, e varreria o sistema solar junto com o vento. Eta Carinae fica no chamado complexo de Carina, hoje a região mais marcante do céu – a ponto de merecer um congresso internacional só para si, realizado em novembro último, em La Plata, Argentina.
Facilmente visível, mesmo a olho nu, o complexo é um gigantesco berçário onde se aninha o equivalente a 4 500 massas solares em forma de estrelas jovens, ainda envolvidas no plasma de hidrogênio – um gás ionizado que atua como uma “placenta estelar”. Há várias evidências de que esse sistema cósmico é extremamente jovem. De modo geral, porque contém uma grande quantidade de estrelas azuis, de grande massa, muito jovens.
Entre as gigantes azuis, destacam-se as chamadas estrelas de tipo O, ultraquentes: mais da metade dos astros desse tipo existentes na Galáxia se encontra nos sete aglomerados estelares do complexo de Carina. Os próprios aglomerados, do tipo aberto, indicam a juventude do complexo. Além disso, não há na região vestígios de estrelas mortas, como restos de supernovas, que explodem ao fim da vida.
Mesmo as estrelas do tipo Wolf-Rayet, cujo vento é particularmente violento, são escassas (há apenas duas, no complexo). Para se ter uma idéia, uma estrela do tipo O, com massa 50 vezes a do Sol, levaria 1 milhão de anos para ejetar para o espaço sua atmosfera e transformar-se numa Wolf-Rayet, explodindo a seguir como uma supernova. Pode-se dizer, então, que o berçário está cheio e o cemitério, vazio.
O centro das atenções, porém, é mesmo a famosa Eta Carinae, situada num dos aglomeradosdo complexo, chamado Trl5. Ela não pode ser vista diretamente, porque sua luz, espalhada pela poeira do Homúnculo, forma um borrão impenetrável aos instrumentos. Alguns anos atrás, Gerd Weigelt do Instituto Max Planck, em Munique, Alemanha, revelou o que pareciam ser três outras “estrelinhas”, em volta de Eta Carinae. Mas, no Congresso de La Plata, um grupo liderado pelo americano Kris Davidson, usando o Telescópio Espacial Hubble, mostrou que os pontos de luz eram simples glóbulos gasosos expelidos pela grande estrela, que refletem sua luz.
Uma curiosa novidade sobre Eta Carinae é que a poeira à sua volta está se dissipando e ela talvez possa ser vista nua, novamente, no próximo século. Isso também foi apontado por este autor, com base em observações realizadas no Laboratório Nacional de Astrofísica/Conselho Nacional de Pesquisas, em Brasópolis, Minas Gerais. Seu brilho parece aumentar a cada cinco anos, numa oscilação que pode ter sido a causa da súbita “explosão” no século passado. As pulsações de hoje são fracas, mas podem voltar a crescer gerando novo surto energértico. Entre novidades e possibilidades, fica a certeza de que Eta Carinae continua a reinar, luminosa, nos céus do hemisfério sul.