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A extinção dos dinossauros não foi culpa (só) do meteoro

Não há dúvida que o impacto em Yucatán ocorreu. Mas pesquisas recentes mostram que o pedregulho cósmico pode ter sido a cereja no bolo de uma tragédia que já estava em andamento.

Por Caio César Pereira
Atualizado em 29 nov 2023, 21h42 - Publicado em 29 nov 2023, 21h36

Um meteoro pôs fim ao reinado dos dinossauros, certo? Certo. Ou, talvez, meio-certo. Não há a menor dúvida de que a colisão ocorreu. Mas cada vez mais pesquisas vêm mostrando que o caldo dos nossos amigos répteis já estava entornando, e que o meteoro pode ter sido “só” o último prego no caixão. Vamos falar da mais recente delas, publicada em outubro.  

Antes, porém, precisamos de alguma contextualização pré-histórica. É importante ressaltar que eventos de extinção em massa não são exatamente algo raro na natureza. Os dinossauros, principalmente, tiveram um bocado de experiência com catástrofes. 

O grupo de répteis mais famoso da pré-história surgiu logo após a Grande Morte, na fronteira entre o período Permiano e o Triássico (P-Tr), quando 70% dos vertebrados terrestres desapareceram. Essa extinção em massa, ocorrida há 251 milhões de anos, foi a mais devastadora da história da Terra.

Então, os dinossauros tiveram a oportunidade de tomar conta do planeta após uma segunda extinção, ligeiramente mais light ocorrida entre os períodos Triássico e Jurássico (Tr-J), há 201 milhões de anos. A vida é assim: quando um nicho ecológico fica vazio, novas linhagens ganham a oportunidade de se irradiar para ocupá-lo.

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Do mesmo jeito que os dinossauros precisaram de uma extinção para limpar o terreno para o seu domínio, os mamíferos só puderam se tornar os principais vertebrados da Terra depois que os dinossauros saíram de campo. Entra em cena a extinção mais famosa: a do Cretáceo-Paleógeno (K-Pg), há 65 milhões de anos. A do meteoro. 

Hoje, a hipótese do pedregulho cósmico é comum no imaginário popular e um consenso na comunidade científica. Mas, até os anos 1970, não era bem assim. A hipótese do vulcanismo foi a mais aceita no mundo acadêmico até a descoberta da cratera de Chicxulub, na Península de Yucatán, no México. A prova do crime. 

Embora, hoje, não haja nenhuma discussão sobre a ocorrência o evento em si a pedra caiu, é fato , pesquisas recentes vêm resgatando a ideia de que vulcões e a emissão de gases tóxicos ainda tiveram um papel proeminente na eliminação desses animais. O meteoro foi só a cereja do bolo. 

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O planalto de Deccan, na Índia, é um elemento chave nesse debate. A região é conhecida por ter sido palco de uma intensa atividade vulcânica no final do Cretáceo, que deixou indícios na forma de uma espessa camada de basalto um tipo de rocha formada por lava solidificada. 

Em 2019, pesquisadores começaram a investigar se houve alguma relação entre esse pico de atividade vulcânica e o meteoro. E eles descobriram que, apesar do impacto no México ter intensificado o fluxo de lava na região, já havia um bocado dela escorrendo antes.  

Vulcões soltam doses cavalares de dióxido de carbono, metano e dióxido de enxofre na atmosfera, que são gases de efeito estufa. Ou seja: é possível que já houvesse um surto de aquecimento global causando desequilíbrios ecológicos graves antes da pedra bater. 

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Nenhum vulcão ou conjunto de vulcões ativo hoje é grande o suficiente para mexer sozinho com o clima do planeta, mas o que rolava em Deccan deixava o vulcanismo atual no chinelo: deixou para trás uma camada de basalto de dois quilômetros de espessura, que abrange 500 mil km². 

Em 2020, por exemplo, um grupo de cientistas analisou a composição química dos basaltos de Deccan para estimar se a quantidade de carbono que foi liberada na atmosfera desempenhou, de fato, algum papel na extinção dos dinossauros. A conclusão foi que a liberação de carbono pode, sim, ter tido um impacto considerável nas mudanças climáticas do evento K-Pg. 

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Ainda não existe consenso em torno do assunto. Mas, hoje, essas são as duas principais hipóteses para o fim dos dinos. A maioria dos pesquisadores acredita que, no fim das contas, a extinção foi uma combinação de vulcanismo e meteoro sendo o timing entre os dois acontecimentos, talvez, o fator decisivo.

O que nos leva ao noticiário paleontológico de 2023.

Uma pesquisa recém-publicada no periódico especializado Science Advances acaba de adicionar algum tempero a esse debate. Um grupo de pesquisadores de várias univerisades aplicou um novo método de análise às rochas vulcânicas do Deccan e concluiu que as emissões teriam sido suficientes, por si só, para induzir algo equivalente a um inverno nuclear.

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“Nossos dados sugerem que a desgaseificação de enxofre vulcânico poderia ter causado quedas globais repetidas e de curta duração nas temperaturas”, conta a Sara Callegaro, geocientista da Universidade de Oslo, e uma das pesquisadoras do estudo. Durante eventos catastróficos desse gênero, a temperatura na superfície da Terra cai porque a luz solar não consegue atravessar a atmosfera. 

Dito isso, o vulcanismo também pode ter tido um importante papel no pós-meteoro. O impacto, além de toda a destruição causada diretamente, pode ter sido crucial para aumentar a atividade vulcânica no planeta e, por tabela, as emissões de gases na atmosfera. 

Com a atmosfera bloqueada, as plantas não conseguem obter luz solar suficiente para fazer a fotossíntese. Os herbívoros,  que se alimentam de folhas, vão ficando sem alimento, e morrem. Por fim, os carnívoros ficam sem animais dos quais possam se alimentar. Um efeito dominó que torna a cadeia alimentar insustentável. 

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