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A maçã que não fica marrom

Ela já está à venda nos EUA, não possui uma enzima chamada polifenol oxidase - e por isso não estraga se for comida pela metade

Por Bruno Garattoni e Eduardo Szklarz
Atualizado em 23 abr 2019, 19h24 - Publicado em 21 abr 2019, 18h48

Sabe quando você corta uma maçã, não come tudo, e acaba jogando uma parte fora porque ficou marrom? Já existe solução. É a Arctic Apple, uma maçã geneticamente modificada lançada nos EUA pela empresa Okanagan. Ela tem baixo teor de uma enzima que deixa as maçãs escuras ao serem mordidas, cortadas ou amassadas. “Ano passado, vendemos nossas maçãs em mercearias nos Estados do meio-oeste dos EUA. A colheita deste ano será dez vezes maior”, diz o canadense Neal Carter, presidente da Okanagan.

A história da Arctic Apple começou em 1995, quando Carter comprou seu primeiro pomar. Ele ficou impressionado com o número de maçãs que iam para o lixo por causa das manchas causadas por solavancos no transporte e no armazenamento. “Cerca de 40% da safra era perdida”, recorda. A chave do problema estava em substâncias químicas presentes em diversas frutas, os polifenóis, que reagem com o oxigênio do ar e causam o escurecimento. A reação precisa da ajuda de uma enzima chamada polifenol oxidase (PPO). Os polifenóis e as PPO ficam separados em diferentes compartimentos das células. Mas, quando você morde ou achata a fruta, esses compostos se encontram e interagem com o oxigênio, escurecendo o alimento em poucos minutos.

Carter fundou a Okanagan em 1996 e licenciou uma técnica de alteração genética desenvolvida por cientistas australianos. Após dez anos de pesquisas, conseguiu reduzir 90% da PPO na maçã – o bastante para evitar o escurecimento. A FDA aprovou a maçã em 2015, e logo depois a Okanagan foi comprada pela Intrexon Corporation, que também é dona da AquAdvantage, produtora de salmão transgênico.

Mas é possível evitar manchas na maçã sem mexer em seus genes. O pesquisador Rufino Cantillano, da Embrapa Clima Temperado, desenvolveu um método que retarda o escurecimento de maçãs fatiadas. A vida útil do produto embalado aumenta de dois para até 12 dias. Primeiro a fruta é colocada por dez minutos numa solução desinfetante, com cloro. Depois é cortada em gomos e mergulhada por um minuto num agente antioxidante (eritorbato de sódio). “A maçã mantém a aparência, a cor, a textura e a acidez”, diz Cantillano. A técnica já está sendo usada, de forma experimental, por produtores brasileiros.

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