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A poluição do ar pode diminuir as chances de nascimento após a fertilização in vitro em 38%

Estudo realizado com mais de três mil pacientes mostrou os impactos da poluição atmosférica no desenvolvimento, mesmo em um dos países com a melhor qualidade de ar do mundo.

Por Caio César Pereira
13 jul 2024, 12h00

Um novo estudo sugere que o impacto da poluição das pessoas é muito maior do que antes se acreditava. A pesquisa mostra que os efeitos da poluição no organismo podem começar antes mesmo da sua própria concepção, diminuindo as chances de nascimento e interrompendo o desenvolvimento de óvulos em procedimentos de fertilização in vitro (FIV).

O óbito por problemas relacionados à poluição do ar estão aumentando a cada ano, e de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), é responsável pela morte prematura de cerca de 6,7 milhões de pessoas por ano. Em 2021, a exposição à poluição atmosférica esteve associada a mais de 700 mil mortes só em crianças menores de cinco anos.

Mas, para além da poluição poder aumentar as taxas de aborto espontaneo, o novo estudo mostrou que partículas microscópicas de fuligem já podem estar presentes na corrente sanguínea, nos ovários e até mesmo na placenta. Assim, em um estudo de oito anos, os pesquisadores realizaram uma análise em cerca de 3.659 transferências de embriões congelados de 1.836 pacientes.

Eles examinaram quais eram as concentrações de poluentes do ar em quatro diferentes períodos de exposição antes da coleta (24 horas, duas semanas, quatro semanas e três meses). Os resultados mostraram que aqueles embriões que tiveram uma exposição maior (três meses), tiveram a sua chance de nascimento reduzida em quase 40%.

“Observamos que as chances de ter um bebê após a transferência de embrião congelado eram mais de um terço menores para mulheres que foram expostas aos níveis mais altos de poluição por material particulado antes da coleta de óvulos, em comparação com aquelas expostas aos níveis mais baixos”, explica em entrevista ao The Guardian, Sebastian Leathersich, pesquisador de fertilidade e ginecologista no King Edward Memorial Hospital for Women, na Austrália e um dos autores do estudo.

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O material particulado (Particulate matter ou PM, na sigla em inglês) são partículas microscópicas de mofo, pólen, poeira, fuligem, e diversas outras substâncias tóxicas, líquidas e sólidas, suspensas no ar. A OMS estabelece parâmetros para até que ponto o tamanho  das partículas podem ser nocivas para a saúde humana.

De acordo com as Diretrizes Globais de Qualidade do Ar, os países devem diminuir ou regular a poluição da quantidade de partículas menores ou iguais a 10μm ou 2,5 μm (micrômetros), conhecidos pelas siglas PM10 ou PM2,5 (produzida por emissão de veículos ou através de atividades industriais). Mas apenas sete países no mundo (Austrália, Estônia, Finlândia, Granada, Islândia, Maurício e Nova Zelândia) estão cumprindo esse padrão.

A pesquisa, publicada na Human Reproduction, mostrou que os embriões que passaram mais tempo em exposição, foram contaminados tanto por partículas PM10 quanto por PM2,5, que diminuíram drasticamente as suas chances de um nascimento. 

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“Esses resultados sugerem que a poluição afeta negativamente a qualidade dos óvulos, não apenas os estágios iniciais da gravidez, o que é uma distinção que não havia sido relatada anteriormente”, disse Leathersich.

Curiosamente, os efeitos da poluição atmosférica nos embriões foram observados em um dos lugares com a melhor qualidade do ar no mundo. Durante o estudo na Austrália, os níveis de poluição do ar estabelecidos pela OMS excederam as diretrizes de PM10 e PM2.5 em apenas 0,4% e 4,5%.

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