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A vingança dos baixinhos

Existem hoje, nos Estados Unidos, aproximadamente 50 000 crianças com altura abaixo da média ingerindo hormônios do crescimento.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h49 - Publicado em 30 jun 2001, 22h00

Ruth de Aquino, de Paris

Não é mau negócio ser baixinho. Por mais que a sociedade valorize a altura como símbolo de status, charme e sucesso, quem sabe chegou a hora de a ciência dar um golpe no preconceito? Uma pesquisa recente mostrou que, entre cães, ratos e minhocas, os menores são os que têm menos chances de contrair doenças graves e de morrer cedo. Os ratinhos que têm o crescimento abortado vivem até 75% mais que os ratões. Entre os cachorros, a espécie que mais varia de tamanho no mundo animal (há desde chiuahuas de 2 quilos até newfoundlands com mais de 100), cada quilo a mais representa em média 18 dias a menos de vida. Não há razões para crer que seja diferente com os humanos, mas é muito difícil testar a hipótese porque os altos tendem a ser mais ricos e bem alimentados e, portanto, a viver mais.

A descoberta vem de um biólogo de 1,84 metro, pesquisador do Imperial College de Berkshire, Inglaterra. O nome dele é Armand Leroi. “Eu já tinha ouvido falar que cães grandes morrem mais cedo que os pequenos”, afirma ele. “Mas nunca tinha visto nenhum dado científico sobre isso”, diz o biólogo, que coordenou a pesquisa com cães de 400 raças diferentes.

Leroi é holandês. E os holandeses são o povo mais alto do mundo. O tamanho do biólogo está na média do país, mas ele se sente “um anãozinho” quando visita sua terra natal e se defronta com os jovens gigantes holandeses – que cada dia ficam maiores. Esse crescimento da juventude nos países mais desenvolvidos ou nas classes sociais mais favorecidas, “às vezes estimulado por injeções de hormônios, por iniciativa dos pais”, não é necessariamente positivo, afirma ele. “Eu me pergunto se os complementos hormonais visando o crescimento podem provocar efeitos colaterais que nós ainda não conhecemos. Caso não exista nenhuma razão médica, pode ser muito perigoso manipular a altura da criança”, diz.

Existem hoje, nos Estados Unidos, aproximadamente 50 000 crianças com altura abaixo da média ingerindo hormônios do crescimento. Muitas têm realmente uma deficiência (ou precisam do tratamento porque são desnutridas ou foram maltratadas), mas há um número crescente de pacientes que simplesmente têm estatura baixa. Os pais os submetem ao tratamento porque se preocupam com o fato de o filho ser o menor da turma ou da classe. No Brasil, os números não são tão impressionantes, mas a tendência é a mesma. O assustador é que muita gente pode estar tendo a vida desnecessariamente encurtada. “Deveríamos dizer a nossos filhos que ter baixa estatura não é obstáculo para nada que desejamos realizar na vida”, diz Leroi.

O pesquisador acredita que os genes que controlam o tamanho, responsáveis pela produção do hormônio do crescimento, podem estar governando também a vida e a morte e apressando o envelhecimento. “A longa associação histórica entre altura, riqueza e saúde nos trouxe uma cultura que privilegia pessoas altas. Em nossa sociedade, ‘alto’ é bom e bonito”, diz Leroi. “Talvez, quando algumas diferenças socioeconômicas em relação à altura tiverem desaparecido – e isso tende a acontecer logo em lugares com bons níveis de justiça social, como o Reino Unido e os países escandinavos –, fique claro que ser alto tem um grande custo genético.” Quando esse dia chegar, ser baixinho vai virar um charme.

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