Apollo 16 – a do primeiro telescópio na Lua
A missão também mostrou que nem tudo o que parece de fato é. Entenda.
Até a Apollo 16, todos os locais de pouso haviam sido dentro dos “mares” (maria, plural de mare em latim, terminologia criada por antigos astrônomos para se referir às regiões mais escuras e planas da Lua, visíveis mesmo a olho nu) ou próximos a eles. Daí a opção, no penúltimo voo, de fazer uma visita à formação Descartes, que não só ficava nos altiplanos (as regiões mais claras da superfície), como estava bastante afastada de qualquer dos mares. Os cientistas na época acreditavam que a cratera Descartes e seus arredores haviam sido formados por vulcanismo lunar antigo, e um dos objetivos da missão era colher amostras para corroborar ou refutar essa hipótese.
Para tripular a penúltima missão de exploração lunar do Programa Apollo, a Nasa escolheu o veterano John W. Young (então indo para seu quarto voo), T. Kenneth Mattingly II (que havia escapado da Apollo 13 por uma suspeita de rubéola) e Charles M. Duke Jr.
O lançamento aconteceu no dia 16 de abril de 1972. Foi a segunda missão de tipo J, com mais tempo em solo lunar e instrumentos avançados no módulo de serviço. Originalmente, era para ter sido em março, mas uma série de problemas técnicos obrigaram a Nasa a adiá-la.
Era a primeira vez que isso acontecia numa missão Apollo a caminho da Lua, mostrando que, vencida a corrida espacial, os gerentes da Nasa estavam ficando cada vez mais cautelosos – um acidente é sempre ruim, mas o gosto seria mais amargo ainda se uma tragédia marcasse o fim do programa, transformando todo o esforço numa vitória de Pirro.
A chegada à órbita da Lua se deu no dia 19, e no dia 21, após um atraso de seis horas para lidar com problemas técnicos, o módulo lunar pousou. Com isso, Charles Duke se tornou o mais jovem caminhante lunar, então com 36 anos.
O jipe lunar, LRV, mais uma vez deu mobilidade extra aos intrépidos exploradores, que puderam percorrer com ele 26,7 km ao longo de três dias, com direito a um “grand prix” de John Young fazendo um circuito com o veículo diante das câmeras.
No primeiro dia, os dois desceram e testaram o rover, instalaram instrumentos científicos e coletaram amostras. Um dos experimentos, de medição de fluxo de calor no interior da Lua, pifou depois que Young tropeçou nos cabos. Em compensação, os astronautas tiveram o privilégio de operar o primeiro telescópio na Lua. Era um espectrógrafo/câmera de ultravioleta – luz que é fortemente filtrada pela atmosfera da Terra, mas pode ser observada da Lua. O dispositivo foi instalado à sombra do Orion, e os astronautas tinham de apontá-lo manualmente para fazer as imagens, registradas em um cartucho de filme que foi recolhido e trazido de volta à Terra.
As duas outras caminhadas lunares foram dedicadas à visita de alvos geológicos e à coleta de amostras. E pelas imagens os cientistas já podiam sugerir o que a análise das rochas confirmaria mais tarde – a origem de Descartes não é vulcânica como se pensava.
Foram ao todo 71 horas na superfície lunar, das quais 20 horas e 14 minutos em caminhadas fora da nave. Na volta à órbita, os astronautas ainda passaram mais um dia girando ao redor da Lua, para concluir as observações feitas com o módulo de serviço, antes de tomar o caminho de volta para a Terra.
Curiosamente, após as observações, Ken Mattingly teve de fazer uma caminhada espacial para fora da nave para recolher os filmes dos instrumentos e trazê-los de volta para revelação. O mesmo procedimento havia sido feito na Apollo 15 e voltaria a se repetir na Apollo 17.
Os astronautas pousaram no Pacífico no dia 27 de abril de 1972 e não precisaram passar por quarentena após o retorno. O procedimento havia sido abandonado após a Apollo 14, ponto em que todos já estavam convencidos de que a Lua era totalmente estéril.