Após desaparecerem por 70 anos, tigres voltam a habitar o Cazaquistão
A região já teve tigres nativos, mas há quase cem anos eles foram extintos. Isso começa a mudar agora, com um grande esforço para reintroduzir a espécie
Após mais de sete décadas, os tigres estão de volta ao Cazaquistão. Os felinos voltaram à região por meio de uma iniciativa pioneira liderada pelo governo cazaque e apoiada pela WWF, com o objetivo de reintroduzir esses grandes predadores na natureza. O país busca restaurar o equilíbrio ecológico e trazer de volta uma espécie emblemática, extinta na região desde meados do século passado.
No século 20, o Cazaquistão abrigava o tigre-do-cáspio, que desde 1960 é considerado extinto por conta da caça e da perda de seu habitat. Agora, os esforços agora estão focados em reintroduzir o tigre-de-amur, mais conhecido como tigre-siberiano, uma espécie adaptada ao clima rigoroso e frio da região.
Dois desses gigantes felinos, vindos da Holanda, chegaram em setembro à reserva Ile-Balkhash, onde serão mantidos em um centro de reprodução. O objetivo é que seus filhotes sejam soltos na natureza, e eles sim serão os primeiros tigres selvagens do país da Ásia Central desde a extinção.
É primeira vez que espécie de grande felino é reintroduzida em um país em que havia sido extinta. Até então, os programas de reintrodução se limitavam a deslocamentos internos, nunca entre países.
Para garantir o sucesso do projeto, o Cazaquistão vem trabalhando há cinco anos na restauração da reserva Ile-Balkhash. O habitat está sendo preparado com o repovoamento de espécies que são presas naturais dos tigres, como javalis e veados, algo fundamental para a sobrevivência dos novos habitantes.
O projeto também inclui um acordo internacional com a Rússia que prevê a chegada de mais tigres até 2025. A reserva planeja ser capaz de acomodar até uma centena deles.
“Depois de quase duas décadas no WWF, este projeto é um dos mais extraordinários em que já trabalhei”, disse Geert Polet, especialista em vida selvagem do WWF, em comunicado. Além do impacto ecológico, a reintrodução dos tigres promete trazer benefícios sociais e econômicos. Com o aumento da biodiversidade e o fortalecimento do ecossistema, as áreas de conservação ganham relevância, podendo atrair ecoturismo e incentivar o desenvolvimento sustentável.
“Não estamos apenas salvando uma espécie ameaçada de extinção, mas também estamos restaurando um ecossistema inteiro, com enormes benefícios ambientais e sociais para as pessoas que vivem nessas áreas. O fato de termos chegado a esse ponto após tantos anos de trabalho inspira esperança para a recuperação da natureza e das espécies ameaçadas de extinção em todo o mundo”, completa Geert.
A escolha do local
A reserva Ile-Balkhash é uma área de 7 mil quilômetros quadrados de pântanos, campos e florestas no sudeste do Cazaquistão. A escolha desse local se baseou em estudos científicos que confirmaram a semelhança do ambiente com o antigo habitat dos tigres, com temperaturas que chegam a -20ºC no inverno. Além disso, é uma área suficientemente afastada de assentamentos humanos, o que garante segurança.
Os primeiros meses dos tigres na reserva estão sendo e serão dedicados à aclimatação. Além de um recinto seguro, eles devem aprender a caçar com presas vivas introduzidas pelos cientistas. Assim, espera-se que eles consigam ensinar aos seus filhotes as habilidades básicas de sobrevivência selvagem.
Os próximos anos serão fundamentais para observar como os tigres e o ambiente se adaptam a essa nova fase. Enquanto isso, o Cazaquistão planeja expandir suas políticas de conservação, trabalhando para proteger não só os tigres, mas toda a biodiversidade da região.
“Para o nosso país, esse não é apenas um projeto ecologicamente importante, mas também um símbolo de esforços conjuntos para restaurar o patrimônio natural”, disse Nysanbayev Yerlan Nysanbayev, Ministro da Ecologia e Recursos Naturais do país, no mesmo comunicado.