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Por que o tigre-da-tasmânia foi extinto – e como isolaram seu RNA

Ele foi o primeiro animal extinto a ter seu RNA extraído e sequenciado, e pode ser um dos primeiros a serem trazidos de volta à vida.

Por Caio César Pereira
Atualizado em 2 out 2023, 11h06 - Publicado em 26 set 2023, 20h39

O RNA do Tigre-da-Tasmânia foi extraído pela primeira vez. O Thylacinus cynocephalus, também chamado de Tilacino ou Lobo-da-Tasmânia, foi extinto nos anos de 1930, e pode se tornar a primeira espécie animal a ser trazida de volta à vida. O feito foi reportado na última semana, em estudo publicado no periódico Genome Research.

Mas por que esses animais foram extintos para começo de conversa e por que os cientistas querem trazer ele de volta?

A história da extinção

Apesar de parecer um cachorro (e de ser chamado de Tigre), o tigre-da-tasmânia era um marsupial, aquela classe de mamíferos que têm uma bolsa de pele onde guardam o filhote – como os cangurus. O “tigre” do nome é por causa de suas listras características nas costas.  

Eles eram nativos da Oceania, vivendo na Austrália e Nova Guiné, e seu processo de extinção foi gradual. Hoje em dia, as pesquisas indicam que diversos fatores levaram à extinção desses animais, mas é certo afirmar que o principal deles foi a chegada dos humanos ao continente, por volta de 50 mil anos atrás.

A caça indiscriminada levou à extinção não só dos tilacinos, mas também da famosa megafauna australiana. Posteriormente, os dingos (um tipo de cão selvagem) foram levados ao continente. As duas espécies competiam pelos mesmos recursos, o que fez a população dos tilacinos diminuir ainda mais.

Esse cenário confinou os animais à Tasmânia, uma ilha ao sul do continente australiano. Lá eles ficaram e sobreviveram – até a chegada dos colonos europeus, no começo do século 19. Como os tilacinos costumavam atacar as ovelhas nas fazendas, o governo criou recompensas para a caça desses animais. 

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Resultado: dos 5 mil indivíduos que existiam na ilha até a chegada dos colonos, aproximadamente 3.500 tilacinos foram mortos, entre os anos de 1830 e 1920. Isso levou pesquisadores a pensar em formas de se proteger o animal. Mas já era tarde demais. 

Em setembro de 1936, o último exemplar da espécie, batizado de Benjamin, morreu no zoológico de Hobart/Beaumaris, na Tasmânia. Apesar de algumas suspeitas de que esses animais sobreviveram um pouco mais do que se achava, é fato que eles hoje estão extintos – e que existe um esforço para trazê-los de volta. Mas por que?

Lá e de volta outra vez

O tigre-da-tasmânia era um dos principais predadores da Ilha, sendo um dos responsáveis por controlar o equilíbrio entre as populações de animais da região. Sem um predador para controlar, muitas dessas espécies podem se tornar verdadeiras pragas, ameaçando o equilíbrio do ecossistema local.

E é justamente esse um dos principais argumentos utilizados para trazer essa espécie de volta.

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A ficção científica já nos mostrou que trazer animais extintos de volta à vida não é exatamente a melhor ideia. Mas, para alguns pesquisadores, essa pode ser a melhor opção para recuperar o equilíbrio ecológico de ecossistemas inteiros que foram devastados. E a isso se dá o nome de “desextinção”.

E com essa ideia em mente, e com uma façanha digna de Jurassic Park, pesquisadores conseguiram extrair o RNA de uma espécie de tigre-da-tasmânia preservado em um museu. Cientistas da Universidade de Estocolmo conseguiram extrair essa amostra de um tecido muscular e da pele do espécime.

Diferentemente do DNA, o RNA é uma sequência genética que revela quais genes estão ativos. É o RNA que leva as informações contidas no nosso código genético para virarem proteínas, as moléculas responsáveis pelo funcionamento de todas as células no nosso corpo.

“A recuperação dos perfis de expressão de RNA que não existem mais em células vivas expande a possibilidade de explorar a biologia de animais extintos”, explica Emilio Mármol-Sánchez, professor da Universidade de Estocolmo e um dos líderes do estudo.

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Para isso, eles extraíram mais de 220 milhões de fragmentos de RNA da pele e músculo do animal. Então, purificaram esses fragmentos e depois conseguiram isolar e sequenciar o RNA da espécie. Foi possível identificar genes que codificam proteínas para a contração das fibras musculares, além de outra na pele responsável pela queratina.

A amostra foi retirada de um espécime do Museu de História Natural de Estocolmo, de 1891. Geralmente, o RNA é mais frágil que o DNA: fora da célula, costuma se degradar em questão de minutos. Sua preservação depende de uma série de fatores, o que torna a façanha da equipe ainda mais impressionante.

Essas informações serão essenciais para os projetos que visam trazer o tigre-da-tasmânia de volta à vida. 

E caso você esteja se perguntando se esse tigre-da-tasmânia é aquele famoso personagem dos Looney Tunes, o Taz, a resposta é não. Na verdade, o Taz é um exemplar do diabo da Tasmânia, parente do tilacino, que também é nativo da Ilha de Tasmânia, na Austrália. 

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Completamente extintos do continente, os diabos da tasmânia tiveram mais de sorte que seu primo na ilha, mas por pouco. De acordo com a lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), o diabo da Tasmânia está  ameaçado de extinção.

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