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Aranhas solteiras se sacrificam pelas crias de suas comadres

Para passar sua genética à frente, as fêmeas de Stegodyphus dumicola que não acham um par têm uma opção: se oferecer como alimento aos filhotes das vizinhas

Por Guilherme Eler
18 set 2017, 18h50

Há uma boa dose de verdade naquela história de que uma mãe sempre faz tudo por seu filho. E, apesar da fama de poucos amigos que fêmeas como a viúva-negra criaram, dá para falar que isso vale também para os aracnídeos. As aranhas-caranguejo, por exemplo, oferecem pedaços de seus próprios corpos para suas crias quando a falta de comida aperta. Acontece igualzinho com outra espécie, a Stegodyphus lineatus, que pratica um ritual ainda mais elaborado: dissolve seus órgãos internos para dar uma última refeição digna à prole – antes de partir desta para uma melhor.

O que pesquisadores da Universidade de Aahrus, na Dinamarca, descobriram é que esse tipo de comportamento altruísta-destrutivo das aranhas não acontece apenas em relações ‘sanguíneas’. Segundo seu estudo, publicado no jornal Animal Behaviour, fêmeas virgens da espécie Stegodyphus dumicola costumam se preocupar mais com os recém-nascidos de seu grupo do que as próprias mães deles – a ponto de se sacrificarem para servir como refeição dos mais jovens.

“E onde estão as mães dessas crianças?”, você deve estar se perguntando. Não tem nada a ver com omissão da parte delas. A culpa é mesmo daquelas que não têm filhotes mas morrem de vontade de realizar o sonho de ser mãe a todo custo. 

Característica de áreas quentes e secas do sudeste da África, a espécie costuma fazer suas teias no alto de árvores e arbustos, morando sempre em bandos de vários indivíduos. Esse sistema ajuda na hora de arranjar alimento e também permite que os os filhotes sejam criados coletivamente. Como cada aranha vive apenas um ano, elas só têm a chance de se reproduzir uma única vez. Isso explica o fato da maternidade acontecer para apenas 40% das fêmeas do bando, em média.

Para observar de perto esse comportamento suicida, cientistas analisaram por dez semanas cinco aranhas fêmeas – três virgens e duas que tinham parceiros. Funciona assim: primeiro, as mães-postiças ajudam a tomar conta dos ovos e assumem a alimentação inicial dos filhotes. Quando os pequenos famintos, já fora do ninho, se veem sem comida, eles se aproximam da jovem aranha e injetam algumas enzimas em seu interior.

Tais enzimas destroem a voluntária por dentro, permitindo que eles suguem seus nutrientes por completo. O processo todo acontece enquanto elas estão vivas, claro, o que confere um tom melancólico para a cena. No final, só resta a “casca” – todo o resto virou banquete dos bebês-aranha.

Esse tipo de relação entre vizinhos, segundo o estudo, é resultado da vida em comunidade que a S. dumicola adota. A guarda compartilhada, para quem não encontrou seu par, se torna a verdadeira salvação da lavoura. O sacrifício que as fêmeas sem parceiro fazem permite que elas passem à frente parte da sua própria genética – ainda que morram sem a experiência de ter copulado.

“Quando investem nesses recém-nascidos, as aranhas estão investindo em seu próprio sucesso reprodutivo”, explicou Trine Bilde, que liderou o estudo, em entrevista à New Scientist. “Quanto mais genes ela transmitir para próxima geração, melhor. Seguindo essa lógica, dar seu próprio corpo como alimento é uma solução evolutiva bastante sensível.” Afinal, quer forma melhor de virar uma folhinha da árvore genealógica de alguém do que fornecer as proteínas que formarão seu DNA?

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