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As crianças que comeram cereal radioativo

Elas haviam sido abandonadas pelos pais. E, para cientistas de Harvard e do MIT, eram as cobaias perfeitas para uma experiência terrível.

Por Bruno Garattoni Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 6 Maio 2024, 14h05 - Publicado em 3 Maio 2024, 14h00

AA Walter E. Fernald State School, em Massachusetts, reunia crianças com deficiência mental que haviam sido abandonadas pelos pais. Os indivíduos mais vulneráveis que se pode imaginar. E, na cabeça de um grupo de pesquisadores da Universidade Harvard e do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), cobaias perfeitas para uma experiência.

O nutrólogo Robert Harris, do MIT, estava à frente do projeto, que envolveu 74 alunos da Fernald, todos meninos entre 10 e 17 anos que haviam sido convidados a participar do “clube de ciências” da escola. Eles ganhavam pequenos presentes, como relógios e ingressos para jogos de baseball, e cafés da manhã.

Era justamente ali, na comida, que estava o real objetivo da experiência: os alunos não sabiam, mas o leite e a aveia tinham sido “aditivados” com ferro e cálcio radioativos.

Isso foi feito porque, na época, suspeitava-se que a aveia pudesse prejudicar a absorção de ferro e cálcio pelo organismo. Então, para ver se isso de fato ocorria, os cientistas adicionaram à aveia versões radioativas desses elementos – porque seria possível detectar se eles eram ou não absorvidos, e por quais órgãos.

A história só foi revelada em 1993, quando o governo dos EUA liberou documentos confidenciais da Atomic Energy Commission que descreviam o ocorrido (a agência havia financiado as experiências).

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Calcula-se que cada garoto tenha absorvido radiação equivalente à emitida por 30 exames de raio-X. Está longe de ser astronômico. Mas a experiência chocou a sociedade americana pela crueldade e por violar todos os princípios básicos da ética científica.

Um grupo de 30 ex-alunos da Fernald processou o MIT e a empresa Quaker, que fornecera a aveia. Em 1998, o caso foi encerrado após um acordo judicial, pelo qual o grupo de vítimas recebeu US$ 1,85 milhão – isso é o equivalente a US$ 3,5 milhões em valores atuais, ou pouco mais de US$ 100 mil para cada vítima. A escola Fernald (o nome vem de Walter E. Fernald, que dirigiu o local no início do século 20 e era adepto da eugenia) existe até hoje.

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