Conheça a vespa-do-mar, o bicho com maior carga de veneno no planeta
Na costa da Austrália, uma delicada e translúcida água-viva mata mais que tubarão. Descubra como um bicho frágil mata em poucos minutos
Olhando distraído você não vê nada boiando na água. Mas, ao prestar atenção, nota um ser diáfano que move dezenas de braços, suave e lentamente. E, ao ajustar o foco, repara, num susto, que os tentáculos têm até 5 metros de comprimento. Seria um espetáculo lindo de se ver, caso a divina dançarina à sua frente não fosse uma serial killer. Trata-se da vespa-do-mar, a medusa australiana conhecida pelos biólogos como Chironex fleckeri. Ela carrega no corpo mais veneno letal do que qualquer bicho do planeta: possui toxina suficiente para matar sessenta homens adultos.
Esses monstros, com 95% do corpo composto de água, são um flagelo das praias da costa norte da Austrália. Nos últimos cem anos mataram 65 banhistas, bem mais do que as 34 mortes causadas pelos tubarões que nadam no litoral daquele país. “Dependendo do abraço, a vítima da vespa pode morrer em poucos minutos”, diz a bióloga Denise Navas Pereira, da Universidade de São Paulo, estudiosa de águas-vivas. “Às vezes, não dá tempo nem para ser tirada da água.” A parte superior do corpo de uma vespa-do-mar adulta, o sino, tem só 30 centímetros de diâmetro. Os longos tentáculos podem chegar a 5 metros de comprimento. Com eles, o animal ataca e captura suas presas. A boca fica escondida entre os tentáculos. Ninguém escapa do abraço mortal. Em seus sessenta braços, a medusa carrega veneno suficiente para matar sessenta homens.
Como um bicho frágil mata em poucos minutos?
Coração
O sangue leva até o coração uma toxina que descontrola os batimentos cardíacos. Se a dose é grande, o músculo pára de funcionar.
Sangue
A hemolisina, outro componente do veneno da vespa, destrói os glóbulos vermelhos do sangue.
Arsenal pesado para dieta leve
Uma coisa deve ser dita em favor da medusa australiana. Ela não ataca o homem deliberadamente. Seu cardápio são os pequenos peixes. Mas, apesar da dieta frugal, seu veneno é poderoso. “A razão disso é que a vespa praticamente não sai do lugar”, explica Denise Navas. “Ao contrário das lulas e dos polvos, ela só submerge ou sobe. Fica ao sabor da correnteza, à espera da vítima.” Como caçadora que não nada, seu trunfo é paralisar a presa instantaneamente. Um encontro fortuito com a bailarina deixa marcas eternas – enormes e dolorosas cicatrizes. O toque do tentáculo arde como uma picada de vespa, só que muito, muito mais fortemente. “Quando alguém encosta nela, milhares de agulhas microscópicas furam a pele e lançam o veneno na corrente sanguínea”, diz o biólogo José Carlos de Freitas, da Universidade de São Paulo. “É como um disparo à queima-roupa.” Para evitar tais acidentes, as autoridades protegem as praias mais usadas com redes, que mantêm as medusas afastadas. E os salva-vidas carregam antídoto contra o veneno da dançarina fatal.