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Bebês formam memórias e não conseguem acessá-las quando crescem, segundo estudo

O hipocampo codifica e armazena lembranças na primeira infância, mas ainda não se sabe o que acontece com essas memórias quando as crianças crescem.

Por Eduardo Lima
Atualizado em 31 mar 2025, 12h43 - Publicado em 24 mar 2025, 18h00

Dos zero aos três anos, o cérebro de uma criança cria um milhão de novas sinapses a cada segundo. Cerca de 90% das conexões cerebrais de um adulto são formadas nos primeiros seis anos de vida. Mesmo com todo esse aprendizado intenso, os anos da primeira infância são escassos em memórias: os primeiros fragmentos começam a aparecer lá pelos três anos, e as primeiras lembranças completas são formadas perto dos seis anos.

A ideia de “amnésia infantil” foi reportada pela primeira vez na última década do século 19, e o pai da psicanálise, Sigmund Freud, cunhou a expressão em 1905. Para o médico austríaco, esse esquecimento da primeira infância era um modo de reprimir pensamentos e experiências relacionados a sexualidade, que as crianças crescem e aprendem a identificar como inaceitáveis.

Nenhum experimento até hoje deu base científica para a hipótese de Freud, mas ela serviu de ponto de partida para várias novas teorias sobre o assunto. Será que as crianças formam memórias e não conseguem se lembrar por causa de uma formatação posterior, como sugere a psicanálise freudiana? Ou será que o cérebro das crianças é simplesmente incapaz de formular memórias?

Essa segunda hipótese se baseia no fato de que o circuito trisináptico, que conecta diferentes regiões do hipocampo, é imaturo no cérebro de uma criança. Na teoria, isso impediria o hipocampo, que é a principal sede da memória humana, de armazenar informação episódica.

Um estudo desenvolvido por psicólogos de algumas das principais universidades dos Estados Unidos, como Yale, Stanford e Columbia, apresentou evidências de que as crianças conseguem, sim, formar memórias, mas que não conseguem recuperá-las depois.

O hipocampo já funciona desde cedo, contrariando a hipótese de que ele só codifica memórias depois de certa idade. A pesquisa foi publicada na revista Science.

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Bebês conseguem reconhecer fotos

O experimento realizado pelos cientistas consistiu em mostrar imagens de rostos, objetos e cenários para crianças entre quatro meses e dois anos de idade. Isso aconteceu enquanto a atividade cerebral dos bebês era monitorada por uma ressonância magnética funcional.

Depois de um tempo, os cientistas começavam a repetir imagens já vistas no meio de outras inéditas, e os pequeninos perceberam.

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Quando eram apresentados a duas imagens – uma inédita e outra familiar –, as crianças focavam mais na imagem que já conheciam. Sabendo que elas tinham algum tipo de memória, os pesquisadores investigaram se essas lembranças tinham alguma relação com o hipocampo.

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Os cientistas perceberam que quanto mais atividade era registrada no hipocampo quando as crianças viam uma imagem pela primeira vez, mais elas olhavam para a mesma foto quando era repetida. Esse padrão de atividade cerebral sugere que alguma informação é armazenada no hipocampo desde cedo.

Os resultados do experimento se repetiram em todos os 26 participantes do estudo, de forma mais intensa e clara entre crianças com mais de 12 meses.

Essas memórias infantis podem ser armazenadas como lembranças de curto prazo, e por isso somem. Alguns testes preliminares com vídeos filmados da perspectiva das crianças, conduzidos por um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo, sugerem que as memórias infantis existem, mas desaparecem antes dos seis anos.

Outra hipótese que os pesquisadores levantam é que as informações coletadas durante a primeira infância continuam no cérebro, mas não podem ser acessadas depois que as pessoas adquirem linguagem. Mais estudos na área são necessários para entender o que acontece com as memórias da primeira infância.

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Em 2023, um estudo com camundongos publicado na Science Advances mostrou que era possível recuperar memórias esquecidas ao estimular os neurônios que foram responsáveis por armazenar a informação em primeiro lugar.

É uma descoberta interessante, mas está muito distante de significar que é possível recuperar a memória de uma criança: as técnicas invasivas seriam antiéticas para um estudo com humanos.

Como a mente funciona

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