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Borboletas-monarca nascidas em cativeiro perdem sua habilidade de migrar

A população delas diminuiu mais de 80% nos últimos 20 anos. Mas criá-las reclusas, mesmo que com intenções ecológicas, está tendo efeitos mais negativos do que se esperava.

Por Guilherme Eler
28 jun 2019, 18h31

A criação de animais em cativeiro não é uma prática que existe apenas no comércio ilegal. Em muitos casos, enjaular vários exemplares de um mesmo bicho e fazê-los cruzar entre si é uma opção para garantir que sua espécie continue a existir – ou passe a repovoar áreas onde não é mais encontrada naturalmente.

Foi o que aconteceu, por exemplo, com as borboletas-monarca (Danaus plexippus). O inseto, que viu sua população diminuir mais de 80% nos últimos 20 anos, pode ser encontrado por todo o continente americano, sobretudo nos Estados Unidos. Algo comum, inclusive, é que entusiastas americanos reúnam bichos do tipo para fornecer abrigo e alimento – e, quem sabe, fazê-los encontrar um par romântico e aumentar sua família.

Borboletas ficam reclusas nesses viveiros entre o verão e outono. Então, as gaiolas se abrem e os insetos ficam livres para voar, encontrar outros parceiros na natureza e aumentar a sua prole – fazendo crescer o número de borboletas-monarca nas áreas mais ao sul, como o México, durante o inverno. Pelo menos, esse costuma ser o plano de sempre.

Algo que cientistas descobriram recentemente é que, muitas vezes, borboletas-monarca criadas em cativeiro falham no último quesito. Isso porque a vida atrás das grades pode fazê-las perder um aspecto essencial à espécie: a habilidade de migrar para o sul.

De acordo com um estudo científico publicado na revista PNAS, borboletas de cativeiro não costumam seguir suas rotas sulistas pelas quais, em estado selvagem, demonstram preferência natural. Ao invés disso, optam por rotas aleatórias, sem um padrão específico. Esse comportamento apareceu quando os pesquisadores testaram seu senso de direção em um simulador de voo, que acusa a direção que o inseto preferia voar.

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A diferença que ajuda a explicar essa deficiência no GPS interno das borboletas está, primeiro, na genética. Borboletas-monarca que não nasceram na natureza, segundo cientistas da Universidade de Chicago responsáveis pelo estudo, tinham anatomia diferente: asas mais arredondadas e mais curtas – mais parecidas com asas de espécies de borboletas que não costumam viajar por longas distâncias no inverno.

Mesmo aquelas borboletas cuja genética não indicava nenhuma diferença, no entanto, sofriam do mesmo problema. Para os pesquisadores, o fato de, ainda assim, elas não conseguiram voar rumo ao sul está numa espécie de “inocência” dos insetos de cativeiro. Como nenhuma borboleta criada em cativeiro escolhia o sul, o bando não sabia interpretar estímulos do ambiente (como o Sol e o campo magnético da Terra, por exemplo), e acabava escolhendo qualquer direção que desse na telha.

Como destaca a revista Science, borboletas-monarca que se espalharam para a África, Austrália e pelas Américas Central e do Sul não precisam migrar anualmente. Para aquelas que habitam região mais ao norte do continente americano, como Estados Unidos e Canadá, no entanto, migrar é questão de vida ou morte. Borboletas não sobrevivem às quedas da temperatura no inverno se escolhem permanecer na região.

“Sabemos que existem muitos amadores e entusiastas de borboletas-monarca que estão dando o seu melhor para criá-las ao invés de comprá-las de criadores profissionais”, disse Ayse Tenger-Trolander, pesquisadora envolvida no estudo, em comunicado. “Mas pode ser que a maneira como eles estão fazendo esse trabalho nos cativeiros seja problemática”. Ou seja: por mais que pareça pouco intuitivo, manter um borboletário repleto de famílias de monarcas pode não ser a melhor solução para a espécie. A não ser que o objetivo seja criar populações de borboletas-de-condomínio, que não se dão muito bem na vida nômade que esses insetos gostam de levar.

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