Brasileiros testam técnica para fazer fígado em laboratório
Cientistas provaram eficácia do método recriando órgão de rato com células humanas.
O Brasil realiza quase mil transplantes de fígado por ano. O número é alto comparado a outros países, mas, ainda assim, há 7 mil candidatos aguardando na fila. Uma técnica de bioengenharia promissora testada por pesquisadores da USP, porém, pode ajudar a diminuir esse número. Os biólogos Mayana Zatz e Luiz Carlos de Caires Júnior falaram à Super sobre o tema.
Como o método funciona?
A técnica usada é a de descelularização. Nela, todas as células do fígado são retiradas, restando apenas a matriz extracelular, uma espécie de esqueleto. Então, é possível pegar uma amostra de sangue ou pele do paciente receptor do órgão, levar para laboratório e produzir células iPS – um tipo de célula-tronco. Depois, as iPS são reprogramadas em células hepáticas. Assim, o órgão não é rejeitado porque usa as células da própria pessoa. Teríamos, então, um fígado recauchutado, mas com células novas e funcionais.
Por que testar num fígado de rato?
O passo seguinte [à descelularização] é reconstruir o órgão, o que conseguimos fazer usando células humanas num fígado de rato. A gente começou com um fígado pequeno porque é preciso reunir um número muito grande de células – e equipamentos capazes de fabricar células em grande quantidade. Por isso, fizemos primeiro a prova de conceito, que mostra que é um método possível. Assim, há segurança para partirmos para algo maior. Entre os próximos 12 e 24 meses, já deveremos conseguir usar a matriz de fígado humano.
Quais as vantagens?
Além de diminuir a fila de transplantes, o receptor não vai precisar usar drogas imunossupressoras após a cirurgia. Essa medicação inibe o sistema imunológico do paciente para que o corpo não rejeite o órgão, o que faz com que a pessoa fique mais suscetível a infecções secundárias. Com a técnica, isso poderia ser evitado.