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Achamos o mais velho dos buracos negros. E o bicho é enorme.

Sua avó diria que é bem nutrido: atingiu 800 milhões de vezes a massa do Sol quando o universo eram recém-nascido.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 8 dez 2017, 19h12 - Publicado em 8 dez 2017, 19h05

Um ancião de peso: o buraco negro mais velho já descoberto se formou quando o universo tinha apenas 690 milhões de anos (5% da idade atual) – e alcançou 780 milhões de vezes a massa do Sol. A descoberta foi anunciada na Nature na última quarta (6), e o velhinho não ganhou um nome científico muito simpático: ULAS J1342+0928.

Buracos negros supermassivos como este, segundo a versão mais aceita pela astronomia, estão no centro de todas as galáxias – inclusive a nossa. Por causa de sua atração gravitacional sem paralelo, eles acumulam imensos discos de gás em seu entorno. Conforme esse gás todo é engolido e “digerido” pela singularidade, quantidades imensas de radiação eletromagnética são regurgitadas.

Esse combo cósmicos de buraco e gás resulta nos chamados “quasares”, que estão entre as coisas mais brilhantes que se pode ver no céu. Costumam ser encontrados no centro de galáxias mais jovens, e alguns emitem energia até mil vezes mais intensa que a Via Láctea.

Por serem tão brilhantes, quasares podem ser visto de muito, muito longe. ULAS J1342+0928 está a 13,1 bilhões de anos-luz de nós, o que significa que a luz intensa do seu quasar foi emitida só um pouco após o Big Bang, quando o universo ainda era uma criança. Fica fácil entender porque estudar esses monstros cósmicos é tão importante para os astrônomos: eles são uma janela para o passado, para a origem dos átomos que nos constituem. Embora um só não baste para tirarmos conclusões sobre a infância do cosmos, o número de quasares descobertos, graças aos telescópios modernos, só tende a subir. 

Um dos maiores mistérios por trás de ULAS J1342+0928 é que sua massa imensa se acumulou muito rápido. É razoável pensar que, após 13,8 bilhões de anos de universo, até os buracos negros mais humildes tenham engordado o suficiente para realizar o sonho da galáxia própria. Acontece que nós estamos observando o grandão muito, mas muito antigamente, o que significa que ele atingiu o tamanho um jogador de futebol americano em, de novo, 5% desse tempo.

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“Toda essa massa – quase um bilhão de vezes a massa do Sol – precisou ser acumulada em menos de 690 milhões de anos”, afirmou em comunicado Eduardo Bañados, astrônomo do Instituto Carnegie e um dos autores do estudo. “Esse é um feito difícil de se alcançar, os teóricos precisarão explicá-lo em seus modelos.”

Astrônomos calculam que existam, ao todo, algo entre 20 e 100 quasares distantes desse porte nos céus. Antes de ULAS J1342+0928, o buraco negro recordista de distância e idade era o igualmente antipático ULAS J1120+0641, com 750 milhões de anos e a 13,04 bilhões de anos-luz de nós.

Esses buracos negros são pioneiros da deglutição: mais ou menos 300 milhões de anos antes de sua formação, a salada caótica de átomos oriunda do Big Bang ainda estava começando a tomar formas familiares para nós. Cantos com maior acúmulo de matéria começaram a exercer grande atração e gravitacional em seu entorno, se tornando as primeiras estrelas. Mudanças químicas permitiram que a luz no espectro visível passasse a se propagar por aí, inaugurando o universo que pode ser observado diretamente pelo ser humano. Resumo da ópera? As suas definições de velho foram atualizadas.

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