O buraco negro no centro da Via Láctea soltou um pum
Há seis milhões de anos ele comeu sua última refeição. Depois aliviou os gases, que saíram a 9815ºC e atingiram 3,2 milhões de quilômetros por hora
Você está em um planeta bem pequeno para os padrões astronômicos, e graças à gravidade ele gosta de dar voltas regulares em torno de um corpo maior: uma estrela. Mas em torno do que as estrelas dão voltas? No caso da Via Láctea, de um buraco negro com massa equivalente a 4,3 milhões de sóis, que ocupa uma área equivalente à do Sistema Solar. Em regiões do espaço como essa, há tanta matéria concentrada em uma área tão pequena que a gravidade se torna insuportável. Surge um rasgo no tecido do espaço-tempo que engole tudo — até a luz.
Era de se pensar um corpo desses não tivesse problemas em atrair uma refeição — como um pouco de gás e poeira ou um sistema estelar inteiro — para manter sua barriga cheia. Ledo engano. O buraco negro que está no centro da Via Láctea “comeu” sua última dose considerável de gás e poeira há 6 milhões de anos, e após soltar um arroto monumental — duas bolhas de gás com a massa de alguns milhões de sóis, uma de cada lado da espiral — ficou em jejum.
A descoberta é de um grupo de pesquisadores com membros do MIT e da própria NASA, que usaram o veterano telescópio Hubble para olhar os resíduos da flatulência com mais calma. “Pela primeira vez nós medimos o movimento do gás frio de uma das bolhas, que nos permitiu calcular sua velocidade e a data em que elas se formaram”, explicou o líder da pesquisa, Rongmon Bordoloi, no site da agência espacial.
Observações anteriores tinham dado “apenas” 2 milhões de anos ao fenômeno. Outro dado que está na casa dos milhões é a velocidade que o gás alcançou após ser expelido — 3,2 milhões de quilômetros por hora. A temperatura dentro da bolha é de 9815ºC. Conseguir esses dados não foi fácil: é preciso analisar como a luz emitida por corpos tão distantes quanto outras galáxias é distorcida quando a atravessa essas bolhas no caminho para os olhos dos observadores terrestres. Em outras palavras, medir o quão traumático foi para um raio de luz cruzar um pum tão grande. Vida de astrônomo tem dessas coisas.
Atualização:
Erramos! A foto que você vê ali em cima é da Via Láctea, mas a SUPER havia publicado uma da galáxia de Andrômeda originalmente. Se você chegou aqui depois de ver nosso post no Facebook, talvez tenha percebido o erro por lá. Sem pânico: agora o equilíbrio voltou a reinar no cosmos, e você voltou a morar no aglomerado de estrelas correto.