Caros e escassos, carros elétricos são mito
Eles são caros, escassos e nem ajudam tanto o ambiente. Em vez de encarar os elétricos como solução, por que não aprimoramos os carros que já temos?
Michael Smitka*
A princípio, dá para dizer que os motores elétricos são eficientes. Eles têm boa potência. São silenciosos. Dispensam peças para dissipar gás de escapamento e calor (como o radiador que você tem no seu carro). E geram energia que pode ser aproveitada por outras partes do carro, como o sistema de freios. Mas também não podemos nos esquecer dos problemas que a eletricidade traz. Baterias são pesadas e caras. Células de combustível, que poderiam mover o carro a hidrogênio, ainda não são comercialmente viáveis. E os modelos híbridos, que juntam um motor elétrico com um motor de combustão (a gasolina ou álcool, por exemplo), são mais pesados, caros e complexos, justamente por combinar duas fontes de energia – o que acaba com a maioria dos ganhos de eficiência que o carro teria.
Ainda assim, os carros elétricos estão em destaque em países como EUA e Japão. Já começaram a surgir os modelos que podem rodar só com baterias, recarregados em tomadas, como o Nissan Leaf. Mas vale lembrar: com o Leaf, você só dirigiria por 117 quilômetros antes de a bateria acabar, segundo aferição da Agência de Proteção Ambiental dos EUA. E pagaria por ele 50% mais do que por um carro similar a gasolina. Daria para usar o Leaf como um carro para ir ao trabalho, ao parque próximo, para distâncias curtas. Mas pouca gente gostaria de ter um carro desse como o único veículo da família.
Mesmo que os elétricos se popularizem, precisamos de pelo menos uma década para alcançar uma produção em série. Hoje não há fábricas de peças em número suficiente para abastecer o mercado. Se as vendas de elétricos alcançarem 1 milhão de veículos por ano em 2020, como alguns prevêem, isso representará apenas entre 6% e 7% do mercado total.
Enquanto isso, os motores a gasolina e diesel estão se aprimorando. Novas tecnologias têm aliviado o impacto causado pelos veículos – como a direção elétrica, que consome menos energia que a hidráulica. E sistemas que permitem que o motor desligue sozinho enquanto o carro está parado. Isso tem reduzido a vantagem dos elétricos no quesito sustentabilidade. Carros como o Leaf podem ser mais eficientes na teoria, mas também desperdiçam energia, como no carregamento da bateria. Além disso, a maioria da eletricidade é gerada usando carvão, o que aumenta o impacto no ambiente. Quando (se) energia solar, eólica e nuclear se tornarem fontes mais populares de energia, talvez o prejuízo ambiental seja menor, mas esse é um futuro distante.
Se o foco está no aquecimento global, os carros elétricos oferecem poucas vantagens no curto prazo. A opção mais atraente pode ser não investir em carros elétricos, mas melhorar os motores de hoje. Principalmente para países como o Brasil. Os brasileiros contam com muita energia hidrelétrica, o que torna os elétricos uma opção realmente sustentável. Mas vocês também têm biocombustíveis. O Brasil e outros países podem reduzir sua emissão de carbono sem recorrer a tecnologias exóticas.
* Michael Smitka é professor de economia na Washington and Lee University, EUA. Os artigos aqui publicados não representam necessariamente a opinião da SUPER.